Higino Vasconcellos
Zero Hora
08 Março 2019
Uma carga de munição com 130 mil cápsulas de calibre .40 foi roubada na madrugada desta quinta-feira (7) em Portão, no Vale do Sinos. Também foram levados dois rifles e armas de pressão. A carga é avaliada em R$ 1,3 milhão. Conforme o delegado Arthur Raldi, da Especializada em Roubo de Cargas, o carregamento estava em um caminhão e o motorista foi rendido por quatro homens enquanto estava dormindo em uma empresa. Depois, foi colocado no porta-malas de um carro.
A carga veio de São Paulo e seria distribuída para diversos pontos em Porto Alegre. Órgãos de segurança, como Brigada Militar e Polícia Civil, estão entre os destinos da munição. O condutor foi liberado pouco tempo depois na Avenida Cezar Antonio Bettanin, em Esteio. O caminhão foi localizado abandonado em Viamão.
O motorista foi levado à delegacia e contou que os criminosos usavam máscaras cirúrgicas. Outros detalhes não foram repassados. Raldi disse que a carga não tinha escolta, mas não passou mais informações.
O assalto foi percebido pela empresa de segurança que constatou, à 1h32min, a ausência do caminhão e do motorista. A partir daí, o veículo começou a ser monitorado pelo rastreador. Às 4h24min, o GPS indicou a última localização do caminhão: uma área rural em Viamão. Cerca de uma hora depois, o veículo foi encontrado pela Brigada Militar.
A carga era da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC). A empresa, por meio da assessoria de imprensa, informou que a carga estava na transportadora e, por isso, não era de responsabilidade da CBC. Questionada sobre ausência de escolta e do destino da munição, a empresa não se manifestou.
Um deboche para as autoridades
Humberto Trezzi É possível que a intenção dos assaltantes que levaram a carga milionária tenha sido apenas comercial. Mas o resultado é um escárnio para com as autoridades. E questão de honra para as polícias Civil e Militar esclarecer o roubo, porque parte da munição era justamente destinada a policiais. O calibre da munição roubada, .40, é o padrão das polícias Militar e Civil no RS e na maioria dos Estados. Ela é versátil: pode ser usada tanto em pistolas quanto em carabinas (uma espécie de fuzil pequeno). A quantidade de projéteis roubados seria suficiente para municiar 4,3 mil carabinas ou para pelo menos 8, 1 mil pistolas. É quase como se 10 batalhões da BM (toda a Grande Porto Alegre, por exemplo) tivessem, de um minuto para o outro, ficado sem munição para suas armas. E um estrago, convenhamos. Em 35 anos de profissão não recordo de roubo tão grande de munição no Estado. Tudo indica que os assaltantes sabiam muito bem o que estavam levando, atacaram o caminhão certo. Muito provável que tinham informação privilegiada – e não vamos aqui nos precipitar: podem ter observado e seguido o veículo desde a fábrica, podem ter obtido dicas de algum servidor. Nesse momento da investigação, tudo pode. E não faltam perguntas sem resposta. É normal carregar tanta munição num só veiculo? Carga tão valiosa e perigosa deveria ter escolta? Uma eventual proteção inibiria uma quadrilha? Talvez não. O mais provável é que o ataque seja obra de uma das três grandes facções que dominam os presídios do Estado. Curioso é levarem justamente calibre que as polícias usam. E uma investigação que dará trabalho, mas posso apostar que será esclarecido o crime. |