O presidente Jair Bolsonaro escolheu o general Otávio Santana do Rêgo Barros, 58, como porta-voz do governo. Ele é atualmente chefe de Comunicação do Exército. Consultado pela reportagem, o general confirmou sua indicação e se disse "muito honrado em servir o governo e o Brasil".
Rêgo Barros será subordinado diretamente à Presidência da República e não terá vínculo direto com a Secom (Secretaria de Comunicação Social), como funcionava anteriormente. Bolsonaro, que é capitão reformado do Exército, já escolheu sete ministros militares para compor a Esplanada dos Ministérios, oriundos das três Forças Armadas.
O porta-voz será responsável pelo relacionamento com a imprensa enquanto o chefe da Secom, Floriano Barbosa, cuidará da comunicação institucional do governo e dos contratos nas áreas de publicidade. Bolsonaro passou todo o período de campanha eleitoral e do governo de transição sem ter um profissional designado para atender a imprensa. Desde que assumiu o cargo, em 1º de janeiro, a antiga estrutura de comunicação do Palácio do Planalto vinha transmitindo comunicados oficiais da Presidência e informando a agenda do mandatário.
Rêgo Barros é militar e natural do Recife. Ele chefiava a Comunicação do Exército desde abril de 2014 e esteve à frente da área durante toda a gestão do general Eduardo Villas Bôas como comandante da instituição. O general foi comandante do contingente brasileiro na missão de paz no Haiti em 2010 e chefiou uma grande operação no Complexo do Alemão (2011-12), além de ter cuidado da segurança da conferência Rio+20 (2012).
Em entrevista à Folha de S.Paulo em 2017, indagou sobre se a sociedade estava preparada para abrir mão do direito individual em prol do coletivo, ao comentar o uso de tropas militares para reforçar a segurança no Rio de Janeiro.
Na ocasião, Rêgo Barros defendeu um projeto de lei que previa o julgamento pela Justiça Militar de crimes comuns cometidos por integrantes das Forças Armadas. Como justificativa, disse que isso daria segurança jurídica a soldados.
A proposta é criticada por especialistas em direitos humanos, que veem nela uma forma de criar "foro privilegiado" para quem age em favelas. Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro defendeu o excludente de ilicitude como uma de suas principais propostas para segurança pública.
Segundo o presidente, isso daria uma 'retaguarda jurídica' para ação de militares no combate ao crime. Em postagem feita em um blog do Exército em julho do ano passado, Rêgo Barros fala sobre desafios da comunicação com as novas tecnologias.
O texto leva o título "Estejamos preparados! A guerra sequer começou" e cita o célebre livro de George Orwell 1984. "Há, em andamento, luta silenciosa e desigual nos bastidores da comunicação entre a valorização daquilo que as pessoas de bem consideram "correto" e as forças obscuras que cultuam o "errado".
As Forças Armadas e, em especial, o Exército Brasileiro, são as instituições que mais têm atendido às diversificadas demandas da sociedade, até aquelas intangíveis e apenas no imaginário dos cidadãos.
As crescentes correntes de pedido de participação em assuntos que, muitas vezes, não são missões constitucionais, demonstram a elevada confiabilidade da população nas três Forças, situação comprovada por pesquisas de opinião. Por fim, esses dois fatores -a dinâmica provocada pelas inovações tecnológicas e as mudanças culturais e de valores- vão motivar ajustes ou correções de rumo da comunicação social", escreveu o general.