A Alemanha está em busca de militares qualificados. Com urgência. Tanto que está até pensando em recorrer a cidadãos estrangeiros da União Europeia, uma medida sem precedentes nos últimos 50 anos.
Sete anos depois que a Alemanha acabou com o serviço militar obrigatório, o país está avaliando essa opção para preencher os postos qualificados. O inspetor-geral das Forças Armadas alemão, Eberhard Zorn, disse que o Exército tem que "olhar em todas as direções nos momentos em que falta pessoal qualificado", como médicos e especialistas em tecnologia da informação.
Houve pouco investimento nas Forças Armadas da Alemanha nos últimos anos. Agora, o país quer aumentar o Exército com mais 21 mil efetivos além dos atuais até 2025.
A ministra de Defesa alemã, Ursula von der Leyen, disse em uma entrevista recente que o Exército é composto atualmente de 182 mil soldados, um aumento de 6.500 em dois anos. Em sete anos, deverá chegar a 203 mil.
Segundo ela, o Exército alemão atualmente tem 12% de mulheres e que só neste ano uma em cada três pessoas que se candidataram a uma vaga de oficial era mulher.
A Alemanha também se comprometeu a aumentar o orçamento da Defesa de 1,2% a 1,5% do PIB para 2024, tendo sido criticada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por não cumprir com o objetivo da OTAN (aliança militar ocidental) de chegar a 2%.
A proposta
O general e inspetor Zorn disse ao grupo de mídia Funke que "claro, a Bundeswehr (como as Forças Armadas alemãs são conhecidas) precisa de pessoal" e que o Exército teve que "pressionar para conseguir uma nova geração adequada" de militares. Os cidadãos da União Europeia serão "uma opção" a ser avaliada só para preencher vagas em setores especializados, diz ele.
Segundo a reportagem do Funke, o governo havia consultado parceiros da União Europeia e que a maioria deles reagiu com cautela, particularmente no Leste Europeu. Isso porque as leis posteriores à Segunda Guerra Mundial estabelecem que os soldados da Bundeswehr têm que ser alemães.
Mas Hans-Peter Bartels, o político responsável pelas Forças Armadas no Bundestag (o Parlamento alemão), disse que recrutar cidadãos da União Europeia poderia ser feito com "certa normalidade", porque muitos soldados têm dupla nacionalidade.
Segundo o grupo Funke, mais de 900 cidadãos estrangeiros já estão empregados pelo Exército em postos civis.
Qual é o estado do Exército alemão?
A Alemanha quer ter 70% de sua capacidade pronta para combate a qualquer momento, mas informes recentes mostra que essa meta está ficando para trás:
– Só ao redor de um terço dos 97 tanques, aviões de combate e helicópteros de nova fabricação estão prontos para combate, informou o jornal Die Zeit em outubro.
– Nem submarinos nem grandes aviões de transporte estavam prontos para a decolagem no final do ano passado, segundo um relatório militar de fevereiro.
– O mesmo relatório diz que os aviões de combate, tanques, helicópteros e barcos existentes se encontravam em condições "dramaticamente ruins".
-Ao redor de 21 mil postos de oficiais permanecem vagos.
As condições do equipamento militar foram foco de atenção no fim do mês passado quando a chanceler alemã Angela Merkel teve que voar ao encontro do G20 na Argentina em um avião de passageiros devido a uma falha técnica em um dos aviões de longa distância da Luftwaffe.
A recorrente escassez de equipamentos na Bundeswehr contrasta com o dinamismo da indústria bélica do país, quarto exportador mundial de armas em 2017, segundo dados do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, em inglês).
|
Forças Armadas reduzidas
Para um país tão grande – a Alemanha é a quarta maior economia do mundo – pode parecer estranho ter um Exército relativamente mal equipado.
Mas, depois da reunificação alemã (nos anos 1990, após o fim da Guerra Fria), as Forças Armadas se reduziram gradualmente de 486 mil soldados em 1990 a 168 mil em 2015.
Não se percebia nenhuma ameaça militar depois da Guerra Fria, e os cortes de gastos na Defesa continuaram até 2014.
As Forças Armadas alemãs desempenharam função-chave, mas limitadas, na OTAN em Kosovo e no Afeganistão. Mas isso foi antes de acontecimentos muito importantes na região: a anexação da Crimeia por parte da Rússia em 2014 e a expansão do grupo extremista autoproclamado Estado Islâmico na Síria em 2013.
A cultura de cortes mudou, e uma sondagem de opinião sugeriu no mês passado que 43% dos alemães concordam com a necessidade de mais gastos com a Defesa, ante 32% em 2017.
Qual deveria ser o tamanho do Exército da Alemanha?
A ministra de Defesa da Alemanha diz que tudo depende da situação da segurança.
A Alemanha prometeu enviar centenas de tropas para reforçar a presença da Otan nos países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) e na Polônia neste ano, mas também enfrenta outras formas de ameaças: há cerca de um mês, o Exército foi alvo de ataques cibernéticos, possivelmente procedentes da Rússia, e em meio a isso parte do novo orçamento se destinará a segurança computacional.