O Kremlin rejeitou nesta terça-feira (11/12) as críticas dos Estados Unidos em relação ao envio de dois bombardeiros russos à Venezuela e classificou a declaração da Casa Branca de "inapropriada" e "nada diplomática".
No dia anterior, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, reagiu ao envio de aeronaves militares russas à Venezuela com a seguinte mensagem via Twitter: "Os russos e venezuelanos deveriam ver do que realmente se trata: dois governos corruptos esbanjando recursos públicos e silenciando a liberdade e a autonomia enquanto seus povos sofrem".
Dmitry Peskov, porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, classificou o comentário de Pompeo como "inapropriado" e "nada diplomático". Ele disse a repórteres que tais críticas parecem estranhas vindas de um país "cuja metade do orçamento militar seria suficiente para alimentar toda a África".
A troca de farpas se deu depois que dois bombardeiros Tu-160 capazes de transportar armas nucleares, um avião de transporte Na-124 e outra aeronave de passageiros Il-62 pousaram na Venezuela na segunda-feira, em uma demonstração simbólica de apoio ao governo de Nicolás Maduro.
As aeronaves militares – das quais algumas foram usadas em operações na Síria – participarão de manobras na Venezuela. O ministro de Defesa venezuelano, Vladimir Padrino, afirmou que os exercícios ajudarão a proteger o país de um eventual ataque.
"Estamos nos preparando para defender a Venezuela até o último palmo de terra quando for necessário, e faremos isso com nossos amigos, porque temos amigos no mundo", disse Padrino em pronunciamento transmitido pela rede de televisão VTV, ao receber uma delegação militar russa. Padrino ainda afirmou que "ninguém no mundo" deve temer pela presença das aeronaves em Caracas, alegando que a Venezuela e a Rússia são "construtores da paz, e não da guerra".
O anúncio de manobras ocorre uma semana depois de uma visita do governador venezuelano, Nicolás Maduro, ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, na qual os dois fecharam acordos de investimentos e contratos para a reparação e manutenção de armas.
No domingo, Maduro denunciou que Washington – que o chama de "ditador" – colocou em andamento um plano para derrubá-lo, com o apoio da Colômbia.
Em 2008, a Rússia também enviou aviões militares para a Venezuela durante a Guerra da Ossétia do Sul, em mais um episódio de tensão entre Moscou e o Ocidente.
Depois do anúncio do envio das aeronaves russas, o coronel Robert Manning, porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, criticou com veemência a medida e citou o envio de navio-hospital como exemplo do compromisso de Washington com a região.
"O enfoque dos EUA sobre a região difere do enfoque da Rússia. No meio da tragédia, a Rússia envia bombardeiros à Venezuela, e nós mandamos um navio-hospital", declarou Manning durante uma entrevista coletiva realizada no Pentágono. "Enquanto nós oferecemos ajuda humanitária, a Rússia envia bombardeiros."
O militar se referia com estas palavras ao USNS Comfort, que partiu em meados de outubro rumo à América Central e à América do Sul para oferecer ajuda sanitária aos milhares de refugiados venezuelanos.
Os laços entre Rússia e EUA atingiram um status semelhante aos tempos pós-Guerra Fria, com divergências e provocações sobre a crise no leste ucraniano, a guerra na Síria e as alegações de interferência russa nas eleições americanas de 2016.