Tenente Raquel Alves E Capitão Landenberger
O foguete suborbital VS-30/V14 foi lançado neste domingo (09), do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), Organização Militar da Força Aérea Brasileira (FAB) responsável por lançamento e rastreio de foguetes. O veículo foi lançado às 13h43 (horário de Brasília) levando cinco experimentos científicos e tecnológicos de centros e institutos de pesquisa brasileiros, atingindo mais de 120 km de altura.
O lançamento integra a Operação MUTITI, realizada em Alcântara (MA) desde o último dia 19, pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), sob coordenação do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).
O lançamento durou 8 minutos e 21 segundos. Para o Coordenador-Geral da Operação MUTITI, Coronel Aviador Lester de Abreu Faria, o lançamento realizado hoje, coroa o sucesso de um planejamento de mais de um ano, envolvendo mais de 200 profissionais e coloca o Programa Espacial Brasileiro, mais uma vez, em um patamar diferenciado. “Todos os requisitos de sucesso da Operação foram plenamente atingidos, o que nos deixa convictos da qualidade e profissionalismo dessa equipe que participou da operação”, disse.
Essa foi a 14ª vez que um veículo do tipo VS-30 foi lançado, tendo sido a terceira vez a partir do Centro de Lançamento de Alcântara. Durante a Operação MUTITI, foi ainda lançado um Foguete de Treinamento Intermediário (FTI), no dia 27 de novembro, o qual buscou a validação de todos os meios de infraestrutura de solo e operacionais, treinamento da equipe e consolidação da doutrina de lançamento, como preparação para o lançamento do VS-30.
“Com o encerramento da Operação MUTITI e com a realização do lançamento do Veículo VS-30, pudemos constatar o pleno sucesso da mesma, mostrando, dessa forma, que o CLA está, mais do que nunca, pronto e operante para quaisquer veículos suborbitais. A equipe se mostrou profissional, comprometida e envolvida com a missão, trabalhando de forma íntegra e coesa para que, durante a janela de oportunidade ocorrida hoje, realizássemos o lançamento, e obtivéssemos pleno sucesso na missão”, relatou o Diretor do CLA, Coronel Aviador Marco Antônio Carnevale Coelho.
A carga útil do foguete VS-30 V14 denominada Plataforma Suborbital de Reentrada 01 (PSR-01) é constituída de cinco experimentos de centros e institutos de pesquisas brasileiros. Abaixo, seguem as descrições de cada um:
Sonda Lagmuir de Densidade e Temperatura Eletrônica – INPE
O experimento 1 trata-se de uma SondaLagmuir de Densidade e Temperatura Eletrônica, conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A sonda é usada para medir a variação de correntes eletrônica e iônica ao longo da trajetória do foguete, em altitudes superiores a 60 km.
O estudo desenvolvido pelo INPE se torna de vital importância para a área tecnológica, uma vez que permite compreender a dinâmica da atmosfera terrestre, especialmente da ionosfera onde as irregularidades encontradas nesta região interferem decisivamente nos processos de comunicação por ondas eletromagnéticas, aí incluídas as transmissões por meio de satélites, bem como os sistemas de navegação com Global Navigation Satellite System(GNSS), a exemplo do GPS.
Comportamento Térmico de um Forno de Solidificação de Ligas (CTFS) – INPE
O experimento 2 também de responsabilidade do INPE, estuda o Comportamento Térmico de um Forno de Solidificação de Ligas (CFTS). O estudo avalia o funcionamento de um forno elétrico com capacidade de fundir materiais com temperatura de fusão entre 100 e 300°C, de forma a permitir seu aperfeiçoamento e qualificação para aplicação em outros voos.
Exemplificando, pode-se pensar em uma amostra de diferentes substâncias que, em condição terrestre ambiente, não se misturam ao serem fundidas e posteriormente solidificadas entretanto, ao serem submetidas a esse mesmo processo de fusão e posterior solidificação em um ambiente de microgravidade, poderiam se misturar formando um composto homogêneo. Isso possibilita novas aplicações em engenharia no desenvolvimento de produtos, sobretudo em pesquisas relacionadas à resistência de materiais.
Sensores Ópticos para Medidas de Aceleração (AOM) – IEAv
O experimento 3, de autoria do Instituto de Estudos Avançados (IEAv), é composto por três sensores ópticos para medidas de aceleração, sendo um nos três eixos e dois em um eixo, aplicando diferentes técnicas de medidas e de processamentos de sinais.
A análise do comportamento dos sensores em voo constitui importante contribuição para a independência nacional na área de navegação inercial e de sensores a fibra óptica em geral, sendo diretamente aplicáveis em aeronaves tradicionais, remotamente pilotadas (VANTs) e veículos lançadores, por exemplo. Além dos experimentos em si, o laboratório completo de medidas que o IEAv embarcou no VS-30 inclui um gerador de luz e uma placa de processamento de sinais, todos eles desenvolvidos por pesquisadores brasileiros e com tecnologia nacional.
Sistema Ioiô e de Separação (PSM – MQ) – IAE
O experimento 4 apresenta-se como dois sistemas em desenvolvimento pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), os quais permitem, inicialmente, a redução da velocidade de rotação após o fim da queima do motor foguete (sistema io-iô) e, posteriormente, uma separação segura entre a carga útil e o veículo (sistema de separação).
O objetivo do experimento é testar o modelo de qualificação do Sistema Ioiô e do Sistema de Separação que serão utilizados no Modelo de Qualificação (MQ) da Plataforma Suborbital de Microgravidade (PSM), a plataforma de microgravidade nacional.
Sensor Mecânico Acelerométrico (SMA) – IAE
O experimento 5 é também de responsabilidade do IAE. Realizará seu quarto voo e trata-se de um dispositivo de segurança para veículos espaciais. Esse dispositivo só permite a ignição de motores do segundo estágio, ou estágios superiores, quando o foguete apresenta uma aceleração de quatro vezes a aceleração da gravidade (4g), o que ocorre apenas com o veículo já em voo.
Desenvolvido e aperfeiçoado a partir da experiência acumulada nos lançamentos do foguete suborbital VSB-30, o sensor traz maior segurança aos veículos ainda em solo na plataforma de lançamento, ao passo em que impede o acionamento do sistema de pirotecnia responsável pela ignição se, por algum motivo inesperado, o sistema eletrônico embarcado entender que o foguete encontra-se em voo.