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PROSUB – H-XBR Discurso de Luiz Inácio Lula da Silva, na assinatura de atos

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de assinatura de atos

Rio de Janeiro-RJ, 23 de dezembro de 2008

Meu caro amigo e presidente da França, Nicolas Sarkozy,

Senhores ministros franceses que acompanham o Presidente,

Ministros brasileiros,

Governador do estado do Rio de Janeiro, companheiro Sérgio Cabral,

Governador do estado de Minas Gerais, Aécio Neves – tanto o Rio de Janeiro quanto Minas Gerais irão se beneficiar deste acordo da produção de helicópteros, porque o helicóptero será montado na Helibras, em Itajubá, Minas Gerais, e aqui no Rio de Janeiro, o companheiro Governador vai receber a fábrica que vai produzir a turbina. Isso é outra história.

Quero cumprimentar a imprensa,

(Quero) dizer para vocês que hoje é um dia histórico na relação França-Brasil. Já estamos preparando a nova visita do presidente Sarkozy ao Brasil, no dia 7 de setembro, por ocasião da comemoração do Dia da Independência do Brasil. Ele é o convidado especial e, ao mesmo tempo, iremos culminar (com) a nossa grandiosa festa do Ano da França no Brasil.

É com grande alegria que recebo o presidente Sarkozy aqui no Rio de Janeiro. Certamente, depois da sua primeira visita ao Rio de Janeiro ele vai poder nos ajudar a divulgar a beleza do Rio de Janeiro, e como não estamos disputando com a França, quem sabe até teremos o apoio dele para que as Olimpíadas sejam num país da América do Sul, já que a França é o único país europeu que tem uma parcela no continente sul-americano.

Sob sua liderança, a França tem estado na vanguarda para encontrar respostas à turbulência financeira sem precedentes que estamos vivendo. Estamos engajados no debate dos grandes temas da agenda global e comprometidos com uma ordem internacional multipolar e mais justa. Nossos governos sabem da responsabilidade que têm em assegurar a proteção aos segmentos mais vulneráveis neste momento difícil.

Temos, hoje, a oportunidade de aprofundar o diálogo que iniciamos, do rio Oiapoque, no início deste ano. Estamos adotando um plano de ação de nossa parceria estratégica que orientará a nossa cooperação nos próximos anos. Nele avançaremos em projetos comerciais e parcerias industriais e tecnológicas, que oferecem respostas ao desafio de gerar empregos, renda e desenvolvimento.

O aumento nos investimentos é revelador. Em 2007, os capitais franceses no Brasil cresceram 62%, alcançando US$ 1 bilhão e 200 milhões e fazendo da França nosso quarto principal investidor. Em 2007, nosso comércio aumentou exponencialmente, aproximando-se de US$ 7 bilhões. A França é hoje mercado prioritário para as exportações brasileiras.

Estamos decididos a diversificar nossa pauta em favor de produtos de maior valor agregado. Para tanto, o grupo de trabalho de alto nível sobre comércio e investimento que estamos constituindo, assim como a criação da Câmara de Comércio Franco-Brasileira, serão instrumentos extremamente valiosos.

Nosso programa de cooperação na área de defesa é indissociável do caráter estratégico da nossa parceria. Isso permitirá ao Brasil dar o salto tecnológico necessário para reestruturar suas Forças Armadas e colocar em vigor a nova estratégia de defesa do Brasil. Um exemplo é o acordo assinado hoje para a construção conjunta de submarinos convencionais, assim como para desenvolver e concluir o submarino brasileiro a propulsão nuclear. Nossa Marinha terá tecnologia de última geração para melhor patrulhar a extensa costa brasileira. Vamos aumentar substancialmente a capacidade brasileira de produzir helicópteros com tecnologia avançada.

A cooperação espacial é outro campo onde estamos unindo nossos conhecimentos e competências. A Agência Espacial Brasileira e o Centro Nacional de Estudos Espaciais da França promoverão um maior intercâmbio de informações e experiências.

A folha grudou aqui, Sarkozy. Isso aqui só acontece no Brasil. Colocaram duas folhas em uma só.

Unir capacidades em matéria de pesquisa, conhecimento e inovação tecnológica é igualmente decisivo para protegermos a vasta riqueza e excepcionais potencialidades de nosso patrimônio natural. Esse é o objetivo do Centro Franco-Brasileiro de Estudos da Biodiversidade Amazônica, que vamos criar.

Sabemos que a França demonstrará igual visão e liderança no âmbito da União Européia, na busca de um acordo sobre mudanças nos padrões atuais de produção e consumo. Não podemos desperdiçar oportunidades para definir ações concretas que ajudem a reverter a crise financeira que ameaça desestabilizar a economia mundial.

Foi essa mensagem que o presidente Sarkozy e eu levamos juntos à reunião do G-20 Financeiro, em Washington. No próximo encontro, em Londres, vamos nos unir para definir mecanismos de regulação transparentes e eficazes do sistema financeiro internacional.

Concordamos que os riscos de uma recessão global reforçam a importância de concluirmos o quanto antes a Rodada de Doha. É essencial que os países em desenvolvimento não tenham frustradas suas aspirações ao crescimento. A crise atual ultrapassa o domínio financeiro. Ela reflete a inadequação da boa ordem internacional.

A parceria entre Brasil e França mostra que os países desenvolvidos e em desenvolvimento podem trabalhar juntos para tornar as instâncias decisórias internacionais mais legítimas e eficazes. É assim que interpretamos o apoio firme e público do presidente Sarkozy à aspiração brasileira de ocupar assento permanente num Conselho de Segurança reformado.

Quero também expressar meu reconhecimento pelo papel do presidente Sarkozy no diálogo do G-8 ampliado. Guardo a melhor recordação das comemorações do Ano do Brasil na França, em 2005. Estou certo de que o Ano da França no Brasil, em 2009, reforçará ainda mais os laços de afinidade e de admiração entre dois povos decididos a construir juntos um futuro melhor.

Mais de 700 projetos mostrarão tudo o que podemos alcançar em matéria de arte, cooperação científica, tecnológica e acadêmica, economia e promoção comercial. A programação traz artistas e pesquisadores de origem multiétnica, descendentes de regiões da África, da Ásia e do Oriente Médio. Teremos um retrato da França contemporânea que, como o Brasil, encontrou nos imigrantes novos matizes para a construção de sua identidade.

Finalmente, registro com satisfação que o Brasil terá novamente… pode receber novamente o presidente Sarkozy em 2009 para as comemorações de 7 de Setembro.

Meu amigo Sarkozy,

Meus amigos,

Eu penso que cumprido o protocolo do meu discurso, eu quero falar alguma coisa que vai além do que a alma pode escrever, porque eu quero retratar o que estou sentindo neste momento.

Primeiro, (quero) registrar à imprensa brasileira e às nossas autoridades aqui, civis e militares, aos ministros, e aos governadores que o presidente Sarkozy, desde que tomou posse, tem sido um presidente que tem tomado decisões extremamente importantes no cenário mundial para colaborar com o Brasil. Desde que tomou posse, o presidente Sarkozy, não apenas tem defendido a entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, como tem defendido a participação do Brasil no G-8, um G-8 reformulado, um G-8 que efetivamente tenha participando as principais economias do mundo.

Ao mesmo tempo, depois de todos esses discursos e depois de ser praticamente o autor da proposta da reunião do G-20, em Washington – porque o presidente Bush um pouco que relutava em fazer essa reunião – nós hoje culminamos essa relação com esta assinatura de protocolos e a confirmação do acordo estratégico França-Brasil.

É importante que todos saibam que nas palavras do presidente Sarkozy e nas minhas palavras, este não é um acordo daqueles de “faz-de-conta”, em que os presidentes e ministros assinam protocolos e depois cada um volta para os seus afazeres. Sarkozy volta para a França, eu fico aqui no Brasil, e depois de dez anos nos encontramos e os acordos que nós firmamos não andaram e não aconteceram. Não pode ser assim.

O presidente Sarkozy é um homem prático e angustiado, e eu sou um homem angustiado e não tão prático. Entretanto, eu tenho sido muito crítico em muitas vezes nós assinarmos as coisas no âmbito internacional e elas demorarem para acontecer mais do que a gente precisa, mais do que o mandato que nós temos. Muitas vezes, eu poderia citar o exemplo da ponte sobre o rio Oiapoque, ligando a Guiana Francesa ao estado do Amapá, no Brasil. O presidente Chirac e o presidente Fernando Henrique Cardoso, mais de oito anos atrás, fizeram uma festa no rio Oiapoque para dar início à ponte. Até hoje não saiu essa ponte.

Agora, Sarkozy e eu assumimos o compromisso de até 2010… O mandato dele perpassa 2010, o meu termina em 2010. Nós precisamos inaugurar essa ponte, pelo amor de Deus, porque serão dois mandatos de oito anos que passaram se a gente não inaugurar essa ponte. É quase uma vergonha na relação bilateral.

A segunda coisa que eu considero extremamente importante, presidente Sarkozy, são esses acordos que nós firmamos na área da defesa. Eu sempre tive a convicção de que tem três possibilidades de um país se transformar numa potência e ser respeitado no mundo inteiro. Uma delas é a capacidade tecnológica do país, a quantidade de dinheiro que ele seja capaz de produzir, o seu PIB, a quantidade de reservas minerais. Agora, uma que é inexorável, é a capacidade militar que tem um país. Não a capacidade militar pensando em atacar quem quer que seja, mas a capacidade militar pensando em se defender.

Um país que tem a coragem e capacidade de dizer não quando for preciso dizer não e um país que tem a Amazônia que tem o Brasil, um país que tem 8 mil quilômetros de costa marítima, um país que tem, quem sabe, parte das grandes quantidades de rios de água doce no mundo, que são navegáveis, não pode prescindir de estar altamente preparado, tanto terrestre, quanto marítimo, quanto da nossa Aeronáutica. Ou seja, é preciso que o Brasil assuma a grandeza que Deus lhe deu quando criou o mundo, e que os nossos diplomatas nos deram quando fizeram a divisão do espaço geográfico aqui no século passado.

Agora, é preciso que a gente tenha clareza que dar importância às Forças Armadas é o Brasil se dotar de conhecimento tecnológico, e é exatamente isso que a França oferece ao Brasil. Ou seja, a França não está disposta apenas a vender os seus aviões, os seus navios, os seus helicópteros. A França está disposta a construí-los conjuntamente, a montar a parceria no Brasil, a fazer transferência tecnológica, para que o Brasil se dote da indústria de defesa que um país da importância do Brasil no continente, da importância do Brasil no mundo, tenha. E isso eu tenho certeza que nós vamos construir e o Brasil será sempre grato ao governo francês pela compreensão de querer construir uma parceria e não apenas uma relação mercadológica entre dois países que querem comercializar.

Por último, dizer aos membros da imprensa, e disse a eles pessoalmente ontem, que o presidente Sarkozy tem me surpreendido primeiro pela firmeza com que tem agido na política internacional. É extremamente importante o comportamento da França com relação à crise financeira, é extremamente importante o comportamento da França nas discussões que fazemos sobre os fóruns multilaterais de que participam os países mais importantes do mundo como o G-8, como o G-20, e a firmeza com que o presidente Sarkozy tem dito em todos os quadrantes do mundo que o governo francês não vai pactuar para que especuladores recebam dinheiro do Tesouro da França, ou do Tesouro de qualquer país. Pois esses especuladores não cuidaram da produção e não cuidaram de investir na geração de emprego e renda como deveriam ter investido.

Eu poderia dizer aos companheiros brasileiros que hoje nós somos mais parceiros do que éramos ontem e certamente amanhã seremos mais parceiros do que somos hoje, porque temos afinidade sobre o mundo, temos afinidade sobre as coisas que estão acontecendo no mundo, temos afinidade sobre a crise financeira, temos afinidade sobre o tipo de modelo financeiro que nós queremos criar no mundo, como uma regulação em que submeta o sistema financeiro subordinado ao setor produtivo e não ao setor especulativo.

Ao mesmo tempo, é preciso que nós tenhamos a coragem de criar uma regulação para o mercado futuro. Ninguém pode ficar especulando o que vai acontecer daqui a três ou quatro anos sem colocar uma parte de dinheiro hoje para a gente saber se a pessoa está querendo fazer coisa séria no futuro ou está apenas querendo especular.

Por todas essas coisas, presidente Sarkozy, ministros franceses, eu quero lhes dizer que hoje o Brasil vive um dia muito importante. A França está mais próxima do Brasil, o Brasil está mais próximo da França. Brasil e França juntos se transformam em uma força econômica importante, o conhecimento tecnológico do Brasil vai fazer com que o Brasil possa tomar conta melhor da sua Amazônia, vai fazer com que o Brasil possa tomar conta do nosso petróleo, que está em águas profundas, a mais de 300 quilômetros da costa marítima e nós queremos transformar em uma grande nação. Uma grande nação do ponto de vista militar, em uma grande nação do ponto de vista econômico e em uma grande nação do ponto de vista tecnológico. E se o Minc ajudar, a gente vai ser uma grande nação defensora do meio ambiente e defensora do planeta.

Portanto, presidente Sarkozy, a palavra é sua, muito obrigado e muito obrigado aos companheiros franceses.

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