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Saída do Catar expõe relevância minguante da OPEP

Quando o líder da delegação do Catar na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) afirmou, nesta segunda-feira (03/12), não ser política a decisão do país de abandonar o bloco a partir de 1º de janeiro, os negociantes de petróleo de todo o mundo contiveram um riso coletivo.

A declaração deixava de fora o fato de a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, ambos membros da OPEC, juntamente com o Bahrein e o Egito, terem imposto um boicote ao Catar em junho de 2018, acusando o pequeno país do Golfo Pérsico de apoiar o terrorismo.

Segundo o ministro da Energia catariano, Saad al-Kaabi, a decisão se deveu aos planos de longa data de Doha de incrementar sua produção de gás natural liquefeito (GNL), dos atuais 77 milhões de toneladas para 110 milhões até 2024, consolidando sua posição como maior exportador do combustível.

A produção diária de petróleo do Catar é de apenas 600 mil barris, ou pouco menos de 2% do desempenho da OPEP. Em comparação, a Arábia Saudita, como principal produtora do grupo e maior exportadora do mundo, ostenta 10,7 milhões de barris por dia.

O volume produzido pelo Catar vem caindo, de 728 mil barris diários em 2013, enquanto a produção total da OPEP cresceu de 30,7 milhões para 32,4 milhões de barris, no mesmo período.

"Vejo efeitos negativos limitados da decisão catariana de abandonar a OPEP", comentou à DW Ole Hansen, do Saxobank. "O cartel ainda desempenha um papel importante, porém fica cada vez mais claro que a direção do petróleo é definida por decisões tomadas pela troica composta por Estados Unidos, Rússia e Arábia Saudita."

Hansen reconhece que a iniciativa do Catar emitiu um sinal político, devido a suas "deploráveis relações" com Riad, "mas ao mesmo tempo faz sentido focar no gás natural, que traz faturamento três vezes maior do que o petróleo bruto".

Outros consideraram a decisão basicamente simbólica. "É consistente com os interesses políticos e econômicos divergentes entre Catar e Arábia Saudita. Acho que só traz ruído ao mercado, pois o impacto será negligenciável, comparado com o resultado do encontro da Opec+", analisa Daniela Corsini, do grupo bancário Intesa Sanpaolo, de Milão.

Sob pressão dos EUA

A Opec se reunirá no decorrer desta semana com aliados externos, como a Rússia. Espera-se que do encontro resulte o acordo em reduzir a produção, a fim de provocar aumento dos preços do combustível fóssil, 30% mais baixos desde outubro.

Os 15 países-membros do cartel – seis no Oriente Médio, sete na África e dois na América do Sul – são responsáveis por cerca de metade do volume global de petróleo. Por sua vez, a produção dos EUA saltou para um recorde de 11,6 milhões de barris por dia, ultrapassando a Rússia, até então maior fornecedora mundial, por 200 mil barris.

Com a produção americana em alta, e pressão crescente sobre Riad desde o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, a Arábia Saudita vem revendo o mercado global petroleiro e seu papel nele.

O presidente dos EUA, Donald Trump, tem se mostrado crítico em relação à OPEP, e há propostas de lei no país capazes de declará-la um cartel ilegal. Washington vem pressionando Riad para não cortar sua produção nesta semana. Aparentemente Trump defende o ponto de vista de que a OPEP é um player no mercado, e não seu guardião.

Críticos sugerem que os pontos fracos e a inflexibilidade da OPEP a tornam pouco apropriada a gerir o mercado petroleiro. Joyce Mathew, da especialista em ações United Securities, não mais vê a OPEP como um cartel, e sim como uma "plataforma indireta" para "países inimigos" partilharem opiniões e se conectarem.

"Temos Irã e Iraque, Arábia Saudita e Líbia ainda compartilhando a plataforma. O Catar abandoná-la não deve trazer nenhuma mudança de maré, a menos que outros países sigam o exemplo, o que teria potencial de ameaçar a integridade do cartel. Vejo poucas chances de uma manobra dessas por parte de qualquer outro membro."

Crescer ou desaparecer

A Rússia tem cooperado mais estreitamente com a Arábia Saudita na produção de petróleo nos últimos anos, e os laços tendem a se fortalecer. No início de 2018, Moscou e Riad acenaram com a intenção de criar um "supergrupo de países produtores de petróleo", institucionalizando de fato a estrutura em ação desde o fim de 2016.

Neste domingo, na cúpula do G20, em Buenos Aires, ambos concordaram em estender até 2019 seu pacto para gerir o mercado de petróleo, conhecido como Opec+.

A alternativa de uma espécie de "salve-se quem puder" não está fora de cogitação: os grandes fornecedores de petróleo lutariam pelo mercado global após uma extinção da OPEP, com a Arábia Saudita procurando fazer valer sua própria capacidade de produção e agindo como uma "OPEP de um país só".

O temor é que outros participantes também voltassem a produzir a todo vapor, possivelmente fazendo os preços despencarem mais uma vez. O período de 2014 a 2016, em que a OPEP deixou o mercado se virar sozinho, foi caracterizado por oscilações de preços, volatilidade e incerteza.

 

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