Numa das passagens de seu clássico “A Arte da Guerra”, o pensador chinês Sun Tzu aconselha o leitor: “Se o inimigo deixa uma porta aberta, precipitemo-nos por ela”. Entre os exemplos de portas abertas identificadas pelos empresários chineses no xadrez global está a América Latina, com seus mais de 620 milhões de habitantes.
A China está aproveitando o espaço deixado pelos EUA para aumentar sua presença no mercado latino-americano. O país asiático faz uma aposta em produtos eletrônicos de última geração, provenientes de Shenzhen, considerado o Silicon Valley chinês.
Parte desses produtos, como robôs para uso doméstico e drones controlados por voz, estarão expostos na ElectroExpo Iceeb, maior feira da América Latina, entre os dias 12 e 14 de novembro, em São Paulo.
Apostando nesse mercado, cada vez mais, empresários chineses realizam eventos, expos e feiras em diversos setores para potencializar negócios na região. Em plena guerra comercial com os Estados Unidos, Pequim aproveita a pouca atenção que o governo de Donald Trump dispensa aos vizinhos do sul para ganhar terreno por aqui. Gigantes de tecnologia chineses têm entrado com força na região.
Há fabricantes de telefones celulares que já vendem mais aparelhos do que a Apple em todo o mundo e pretendem fabricar dispositivos top de linha no Brasil “A China se destaca por ser o maior fornecedor de eletrônicos de consumo para o Brasil e os negócios bilaterais no segmento seguem fortes”, afirma Reno Yan, CEO da empresa DFE Hong Kong e organizador da ElectroExpo ICEEB, maior feira de produtos eletrônicos da América Latina, que acontecerá em São Paulo, entre 12 e 14 de novembro.
“Esperamos, esse ano, um faturamento entre US$ 30 e 50 milhões (R$ 123 e R$ 206 milhões) e um público de 12 mil visitantes. Os comerciantes brasileiros vêm à ElectroExpo em busca de produtos de última geração a um preço competitivo. Isso, a China tem a oferecer de sobra”, diz Yan.
A feira deve trazer mais de 300 expositores com produtos de última geração. Uma oportunidade para estreitar networking com executivos de todo o mundo e desenvolver ideias. A maior parte dos expositores são provenientes de Shenzhen, metrópole situada no sul da China e conhecida informalmente como Vale do Silício chinês, por concentrar o crème de la crème das empresas de tecnologia chinesas.
De lá, virão produtos ainda desconhecidos no Brasil – e, em certa medida até nos EUA – como drones controlados por voz e robôs para uso doméstico. “A China tem um projeto de industrialização muito sólido e de longo prazo.
Até pouco tempo atrás, país era conhecido como exportador de bugigangas. Mas eles estão incorporando elos cada vez mais sofisticados na cadeia produtiva, graças a uma política industrial agressiva, uma logística excelente e uma mão de obra altamente qualificada”, explica o professor de Economia Política da UFRJ Miguel de Carvalho.
De acordo com o economista, o Brasil deveria investir em uma relação comercial mais intensa com a China, estabelecendo acordos que prevejam transferência de tecnologia de lá para cá e acesso ao mercado chinês para setores estratégicos, como o de games. “O Brasil ainda tem uma visão bastante eurocêntrica e americocêntrica (sic). Teríamos muito a ganhar estreitando vínculos com os chineses, que caminham rapidamente para se tornar a maior potência tecnológica do mundo”, defende Carvalho.