O Afeganistão completou nesta sexta-feira, em um ambiente sombrio e carregado de inquietações, dez anos desde a queda dos talibãs, década marcada pelo fracasso dos ocidentais em estabilizar o país, apesar dos milhares de dólares e de vítimas.
No dia 7 de outubro de 2001, menos de um mês após os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, a aviação americana começou a bombardear o Afeganistão após a recusa do regime talibã de entregar o líder da Al-Qaeda Osama bin Laden.
Apenas algumas semanas bastaram para a coalizão ocidental derrubar os talibãs.
Mas os Estados Unidos, motores da força da Otan, rapidamente ocupados com a invasão do Iraque, deixaram que os talibãs, refugiados sobretudo no vizinho Paquistão, se reconstruíssem.
Dez anos depois, esta guerra, uma das mais longas da história americana, inclusive maior que a ocupação soviética nos anos 1980, foi se transformando em um atoleiro cada vez mais sangrento.
A Otan, que prevê retirar suas tropas de combate do país até o fim de 2014, segue buscando uma saída honrosa deste conflito que, segundo a universidade americana de Brown, deixou cerca de 34 mil mortos e no qual apenas os Estados Unidos gastaram ao menos 444 bilhões de dólares.
Nenhuma cerimônia especial estava prevista para esta segunda-feira para marcar o aniversário.
Autoridades afegãs anunciaram um reforço das medidas de segurança na capital Cabul, recentemente alvo de vários ataques rebeldes que demonstraram a fragilidade do governo, sustentado por 140 mil soldados da Otan.
Na quinta-feira em Cabul, cerca de 200 manifestantes pediram a saída da Otan e denunciaram as vítimas civis de suas operações, que alimentam a raiva da população e nutrem a revolta.
Na véspera deste décimo aniversário, na quinta-feira, o general americano Stanley McChrystal, ex-comandante das forças internacionais no Afeganistão, considerou que a Otan conquistou "um pouco mais da metade de seus objetivos militares", reconhecendo que os Estados Unidos e seus aliados tiveram "um enfoque simplista" do Afeganistão e de sua história.
A retirada ocidental de 2014 abre a possibilidade de um retorno dos talibãs ao poder, perspectiva inquietante para aqueles afegãos que tiraram proveito desta década de abertura, sobretudo os moradores das áreas urbanas.
"As pessoas têm acesso a tudo o que querem, o que não era o caso sob os talibãs", explicou em inglês Hafizullah Ahmadi, um tradutor de 33 anos.
Mas a população, cansada da violência, também exige antes de tudo a paz, que poucos imaginam que seja possível sem um acordo com os talibãs, vistos como uma força, ou sem uma retirada ocidental.
"Estaremos felizes quando os americanos forem embora. Então tudo voltará ao normal", declarou à AFP Khan Agha, um vendedor ambulante.
"Sob os talibãs, a vida era dura, mas ao menos tínhamos a segurança", acrescentou.
Em setembro, o ex-presidente Burhanuddin Rabbani, responsável por negociar a paz com os talibãs, foi assassinado em Cabul.
Sua morte afastou as já hipotéticas perspectivas de paz em curto prazo, com os rebeldes que se recusam a negociar com o governo enquanto os soldados estrangeiros não deixarem o país.