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Boeing bate Airbus em negócios fechados em feira de aviação

João José Oliveira

Quase 1,5 mil aviões encomendados em negócios da ordem de US$ 200 bilhões a valores de tabela fizeram do show aéreo de Farnborough, na Inglaterra, nesta semana, a melhor feira da indústria aeronáutica desde 2013.

Na batalha entre as duas gigantes da indústria aeroespacial, a americana Boeing bateu a franco-alemã Airbus, em uma briga que agora se estende para o segmento de jatos de pequeno porte, para até 150 passageiros, depois que elas se juntaram, respectivamente, à brasileira Embraer e à canadense Bombardier.

Entre o último dia 16 e ontem, Farnborough — que ocorre a cada dois anos, revezando com o Paris Air Show de Le Bourget, realizada nos anos ímpares, na França, como principal encontro da indústria aeronáutica mundial — somou 1.464 aviões negociados, entre encomendas firmes, opções de pedidos e memorandos de intenção, segundo dados compilados pela firma de informações e consultoria britânica Flightglobal.

Esses negócios superaram os 1.226 aviões vendidos na feira de Paris, ano passado, e representou ainda um incremento de quase 100% sobre os 742 aviões comercializados na Farnborough de 2016.

Antes, a melhor feira anual da indústria da aviação havia sido a de Le Bourget de 2013, quando 1.526 aeronaves foram transacionadas.

Nesta farta Farnborough de 2018, a Boeing foi a grande vencedora da feira, negociando 649 jatos — em contratos que têm o potencial de engordar a carteira de encomendas da fabricante americana em quase US$ 100 bilhões.

Já a Airbus negociou um total de 483 aviões encomendados, com ordens que ficaram na casa de US$ 65 bilhões.

Mas no caso da fabricante europeia, a conta inclui os jatos regionais A220, novo nome que empresa deu aos CSeries, fabricados pela canadense Bombardier. Isso aconteceu porque a sociedade entre ambas, anunciada em outubro do ano passado, foi formalizada legalmente no último dia 1º de julho.

Já a Boeing ainda precisa ver aprovada por acionistas, governos e órgãos de concorrência a sociedade com Embraer. Por isso, não contabilizou em seus números os jatos negociados pela fabricante brasileira. E que foram muitos: 300 aviões negociados pela Embraer, em acordos da ordem de US$ 15 bilhões, com oito clientes.

“Capturamos importantes novos negócios em produtos e serviços e anunciamos nossa parceria estratégica com a Embraer”, comemorou o presidente da Boeing, Dennis Muilenburg.

Ainda sem contar com os jatos da Embraer, a maior parte dos negócios da Boeing foi para os modelos de um corredor, os 737 Max, que receberam 533 encomendas novas, entre pedidos firmes, opções e cartas de intenção. O segundo modelo mais vendido pela empresa, o 787, de dois corredores, recebeu 52 ordens.

O mesmo fenômeno ocorreu com a Airbus, que teve como modelos mais vendidos os 394 jatos da família A320, de um corredor, ante 42 aeronaves A330 e 25 unidades do A350, ambos modelos de dois corredores.

Essa forte procura por jatos de um corredor reflete o crescimento no mundo das companhias aéreas de baixo custo, que preferem esse tipo de avião — mais barato, tanto na compra quanto na manutenção, em especial em rotas nacionais ou internacionais de menor percurso. Essas transportadoras levaram mais de 70% das encomendas.

Mas essa tendência — protagonizada pelas companhias aéreas de desconto comprando aviões de um corredor — já vinha sendo verificada em outras feiras desde 2015. A grande novidade na edição de Farnborough em 2018 foi mesmo o ressurgimento da demanda pelas aeronaves regionais.

A Embraer contabilizou o melhor desempenho em uma feira europeia de aviação em cinco anos. Para contextualizar, os 300 jatos negociados pela companhia representam um terço das unidades na carteira de encomendas que a fabricante tinha até agora.

O volume negociado pela Embraer em Farnborough, de US$ 15 bilhões, é ainda mais representativo, ante os US$ 19 bilhões que a empresa tinha de `backlog´ no dia 31 de março, data do último balanço público.

Já a concorrente da Embraer, a Bombardier — agora combinada com a Airbus –, negociou um total de 120 jatos do modelo A220 para duas companhias aéreas regionais dos Estados Unidos, em encomendas que somam cerca de US$ 11 bilhões, a preços de tabela.

Para John Rodgerson, presidente da Azul, terceira maior companhia aérea do Brasil — e única operadora de aviões Embraer no país –, a volta da demanda por jatos regionais reflete a expectativa de queda de preços na compra de aviões e de serviços (manutenção, peças de reposição e treinamento) desses modelos por causa da maior escala que Boeing e Airbus possuem em relação a Embraer e Bombardier, respectivamente.

Em entrevista, Rodgerson apontou que jatos de menor porte — até 150 assentos, ante os mais de 160 lugares que são oferecidos nos modelos Boeing 737 e Airbus A320 — tornam-se mais competitivos para integrar frotas de companhias aéreas que atendem diferentes rotas em termos de volume de tráfego ou tamanho de aeroporto.

Na feira de Farnborough deste ano, além dos 120 aviões A220, da Airbus-Bombardier, e dos 300 jatos da Embraer, a chinesa Comac apareceu na lista das fabricantes que assinaram vendas de aviões regionais, negociando 20 aeronaves ARJ-121, para até 105 pessoas.

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