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VISIONA – Acordo EMBRAER-BOEING não afeta diretamente, mas pode haver reflexos

SAMUEL POSSEBON

Teletime

A compra da divisão comercial da EMBRAER pela BOEING anunciada nesta quinta, 5, por US$ 3,8 bilhões, não afetará, pelo menos em um primeiro momento, a Visiona, empresa criada em 2011 no contexto do desenvolvimento do programa do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC) para absorver tecnologia espacial e integrar o processo de construção do satélite.

A VISIONA é uma joint-venture entre a EMBRAER Defesa e Segurança (51%) e a TELEBRAS (49%). A EMBRAER Defesa e Segurança não está sendo adquirida pela BOEING na operação recém-anunciada, e por isso a Visiona ficou fora do acordo. Além disso, o Acordo de Acionistas entre TELEBRAS e EMBRAER garante às partes o direito de compra da participação da outra parte em caso de mudança de controle, entre outras salvaguardas.

Ou seja, no limite, o governo brasileiro, via TELEBRAS, poderia assumir a integralidade do capital da Visiona. Segundo apurou este noticiário, até o momento não houve nenhuma discussão mais ampla sobre qualquer possibilidade de mudança de rumo, estratégia e missão da VISIONA. Na área militar do governo, que tem contratos com a VISIONA, há uma grande preocupação com a preservação do controle nacional da empresa, ainda que não haja nenhum sinal de alerta sobre conversas em outro sentido.

Mas é possível especular sobre possíveis reflexos da entrada da BOEING na EMBRAER e o futuro da VISIONA. O primeiro é o simples fato de que a Boeing é uma das maiores empresas fabricantes de satélite do mundo. No processo de seleção do fornecedor do SGDC, empresas norte-americanas ficaram de fora porque existe uma severa regulamentação dos EUA sobre a transferência de tecnologia de uso militar e espacial norte-americana, especialmente o International Traffic in Arms Regulations (ITAR).

Por estas regras, a transferência tecnológica pleiteada e contratada pelo Brasil no âmbito do SGDC, sob responsabilidade da Visiona, seria impossível. Tanto que o fornecedor escolhido foi a THALES ALENIA, cuja tecnologia é 100% europeia. Com o casamento entre Boeing e Embraer, algumas portas poderiam se abrir para empresas norte-americanas.

Por outro lado, a joint-venture da Embraer com a BOEING prevê parcerias de investimentos conjuntos e busca de novos mercados na área de defesa e ainda acordos para suporte entre a área comercial e a EMBRAER Defesa e Segurança. Não se sabe como essas ações conjuntas podem afetar as decisões que serão tomadas pela Embraer na VISIONA.

Além disso, os investimentos estratégicos da EMBRAER devem passar a obedecer uma lógica mais alinhada aos interesses e projetos em parceria com a Boeing, o que também coloca dúvidas sobre como a Visiona pode ficar. A EMBRAER Defesa e Segurança tem uma receita anual de pouco menos de US$ 1 bilhão, contra US$ 3,3 bilhões da área comercial (vendida para a Boeing) e US$ 1,5 bilhão da área de aviação executiva. Já a visiona é uma empresa que em 2017 teve uma receita de R$ 25 milhões e um custo operacional de R$ 19 milhões.

Tudo isso em um momento em que o governo começa a discutir a possibilidade de contratar o segundo Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC). Lembrando que quando o SGDC 1 foi comissionado, houve uma contratação específica da Visiona para o projeto. Ou seja, nada garante que a empresa teria automaticamente a missão de atuar como integradora do SGDC 2.

O que já houve de transferência de tecnologia na experiência do SGDC 1, entretanto, está hoje sob o guarda-chuva da Visiona.

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