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“Não queremos uma nova Guerra Fria”

Para o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, o presidente dos EUA, Donald Trump, entendeu a importância da aliança após assumir a Presidência, depois de ter afirmado durante a campanha eleitoral de 2016 que a OTAN estava "obsoleta".

Em entrevista exclusiva à DW, o político norueguês enfatiza a complexidade da relação entre a aliança composta por 29 países e a Rússia de Vladimir Putin: "Nós não queremos uma nova Guerra Fria, não queremos uma nova corrida armamentista e não queremos isolar a Rússia", mas por outro lado "queremos enviar uma mensagem clara a potenciais adversários, de que a OTAN está presente para proteger todos os aliados contra qualquer ameaça".

Antes de passar a chefiar a OTAN em 2014, Stoltenberg foi primeiro-ministro da Noruega de 2000 a 2001 e de 2005 a 2013. Ele é o 13° secretário-geral da OTAN desde a fundação da aliança, em 1949.

DW: Como o crescente antiamericanismo afeta a imagem da OTAN, que é vista como uma organização liderada pelos americanos?

Jens Stoltenberg: Já vimos esse tipo de sentimento antes, durante a guerra do Vietnã e depois em relação ao Iraque em 2003. Os aliados europeus e os Estados Unidos discordam em algumas questões, como comércio, mudanças climáticas ou o acordo nuclear com o Irã. Ao mesmo tempo, vimos que a OTAN é capaz de se unir em torno de nossa tarefa central de nos protegermos e defendermos mutuamente. E esse também é o caso agora. Podemos ver que os EUA estão aumentando sua presença na Europa pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria.

Pesquisas recentes mostraram que muitos entrevistados na Europa têm preocupações com segurança que não existiam há uma década. Segundo um novo levantamento, os alemães temem cada vez mais o terrorismo e o extremismo político. O senhor enxerga maior ou menor apoio para a OTAN entre os cidadãos dos países europeus?

Nós vemos um maior apoio à OTAN em toda a Europa e nos Estados Unidos. Também vemos que a relevância da OTAN está crescendo, devido a novos desafios e ameaças.

O presidente dos EUA, Donald Trump, classificou a aliança como uma organização obsoleta. Recentemente, ele também disse que os EUA arcam com quase todo o custo da OTAN. Como encara as críticas de Trump?
 

É verdade que Donald Trump disse que a OTAN estava obsoleta antes de se tornar presidente. Mas quando eu mais tarde o visitei na Casa Branca, ele disse que não considerava mais a OTAN obsoleta. A realidade é que ele realmente pretende fortalecer os laços transatlânticos e o compromisso dos EUA com a segurança europeia. Ele reconheceu em parte que os aliados europeus começaram a investir mais na defesa e que a OTAN está fazendo mais na luta contra o terrorismo. Desde que Trump se tornou presidente, o financiamento para a presença dos EUA na Europa aumentou em 40%.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou o desenvolvimento de novas armas nucleares durante seu discurso sobre o estado da união. Ele disse que o Ocidente não conseguiu conter a Rússia. O senhor acha que as armas que ele mostrou realmente existem?

Não vou entrar em detalhes, descrevendo que informações nós temos sobre armas russas. Mas Moscou está desenvolvendo novas capacidades militares, tanto convencionais quanto nucleares, o que torna mais provável o uso de armas nucleares pela Rússia num potencial conflito. É extremamente importante evitar isso.

A OTAN está respondendo a esse comportamento, implementando o maior reforço já visto em nossa defesa coletiva. Estamos aumentando a prontidão das forças e enviando tropas para as regiões orientais da aliança: os Países Bálticos e a Polônia, bem como para a região do Mar Negro. Queremos enviar uma mensagem clara a potenciais adversários, de que a OTAN está presente para proteger todos os aliados contra qualquer ameaça. A principal razão pela qual fazemos isso não é provocar nenhum conflito, mas preservar a paz.

Então não se tem uma resposta específica para os novos desafios apresentados por Putin?

Não estamos respondendo tanque por tanque, ou míssil por míssil, ou arma nuclear por arma nuclear. Mas é claro que precisamos nos certificar de que a OTAN se adapte, quando vemos uma Rússia mais determinada em investir pesadamente em equipamentos modernos, e disposta a usar a força militar contra seus vizinhos. Nós vimos isso na Geórgia e vemos isso na Ucrânia. Moscou também mantém tropas na Moldávia sem o consentimento do governo local.

Esse é um comportamento que se desenvolveu ao longo dos anos e que precisa de uma resposta. Nós não queremos uma nova Guerra Fria, não queremos uma nova corrida armamentista e não queremos isolar a Rússia. Ela é nossa vizinha, está lá para ficar. Portanto, para a OTAN, trata-se do equilíbrio, combinando o que chamamos de "defesa e diálogo".

A Geórgia e a Ucrânia têm chances reais de se juntar à OTAN?

Apoiamos suas aspirações de avançar na integração transatlântica. A questão da adesão será decidida pelos 29 membros da OTAN, juntamente com os dois países. Ninguém deve tentar interferir ou vetar esse processo. É absolutamente inaceitável que grandes potências como a Rússia tentem restabelecer suas esferas de influência, decidindo o que seus vizinhos devem fazer.

Trump e Putin vão se reunir em breve, anunciam governos

Os governos de Estados Unidos e Rússia chegaram a um acordo nesta quarta-feira (27/06) para a realização de uma cúpula entre os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin, que acontecerá em breve num terceiro país. Segundo o Kremlin, data e local serão anunciados nesta quinta-feira.

A informação foi anunciada por um assessor de política externa do governo russo, Yuri Ushakov, logo após uma reunião entre Putin e o assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, em Moscou, para acertar detalhes do encontro. Bolton, mais tarde, também falou sobre a cúpula.

"Essa reunião tem sido planejada há bastante tempo", afirmou Ushakov a repórteres. "É de enorme importância para a Rússia e para os Estados Unidos, mas é também muito importante para toda a situação internacional. Acredito que será o principal evento internacional deste verão."

A cúpula entre os dois presidentes promete irritar aliados de Washington que tentam isolar Putin, como o Reino Unido. Também deve alimentar as críticas domésticas e internacionais contra a objeção de Trump à OTAN e sua disposição em estreitar os laços com Moscou, ao mesmo tempo em que endurece as sanções contra o país.

Ushakov, que repassou a satisfação do Kremlin após a reunião com Bolton nesta quarta-feira, afirmou que o encontro entre Putin e Trump deve durar horas e pode terminar com uma declaração conjunta que assegure o estreitamento das relações entre os dois Estados.

Antes da cúpula, que ocorrerá num país que seja "conveniente" tanto para os EUA como para Rússia, o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, e o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, vão se reunir para acertar mais detalhes, informou o assessor russo.

O encontro está previsto para ocorrer após a participação de Trump em uma cimeira da OTAN e uma visita dele ao Reino Unido no próximo mês. Uma autoridade americana adiantou na terça-feira que a capital da Finlândia, Helsinque, estaria sendo considerada para receber a cúpula.

Bolton, por sua vez, que antes de ser nomeado assessor de Segurança Nacional chegou a criticar os diálogos de Trump com Putin, defendeu com firmeza nesta quarta-feira o futuro encontro.

"Não considero algo incomum os presidentes Trump e Putin se reunirem", declarou em coletiva de imprensa. "Mesmo no passado, quando nossos países tinham diferenças, nossos líderes e seus assessores se encontraram, e acho que isso foi bom para os dois países e para a estabilidade do mundo."

Bolton afirmou ainda que muitos críticos do líder americano "tentaram fazer capital político a partir de teorias e suposições que se provaram completamente errôneas". "Trump deixou claro que, apesar do estrondo político nos EUA, a comunicação direta entre ele e Putin é do interesse do país."

Já Putin afirmou que a visita do assessor americano dá esperança a Moscou de que é possível "dar um primeiro passo para reviver os laços entre nossos Estados". "A Rússia nunca buscou o confronto", acrescentou, dizendo ainda lamentar que as relações com Washington não estejam em "boa forma".
 

Em março, o líder americano telefonou para o presidente russo para parabenizá-lo por sua reeleição e afirmou que os dois se encontrariam em breve.

Desde então, os laços já estremecidos entre Washington e Moscou pioraram ainda mais com o conflito na Síria e após o envenenamento de um ex-espião russo no Reino Unido, que provocou um grande número de expulsões diplomáticas em ambos os países.

Os governos americano e russo também enfrentam tensões em relação a temas como a Ucrânia e alegações de interferência por parte de Moscou nas eleições presidenciais dos EUA em 2016, algo que a Rússia nega e que é alvo de investigações na Justiça americana.

Nesta quarta-feira, Bolton foi recebido com honras na capital russa. Após um almoço com o ministro do Exterior, Serguei Lavrov, o assessor americano participou de uma reunião com Putin no Kremlin, que foi descrita como cortês pela imprensa internacional.


 

 

 

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