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General César Augusto Nardi de Souza afirma que, na Amazônia, aceitação do Exército é de 95% e fala de recentes missões assumidas na região

Antônio Ximenes

Com pouco mais de dois meses à frente do Comando Militar da Amazônia (CMA), o general César Augusto Nardi de Souza, de 59 anos, teve que enfrentar recentemente uma prova de fogo: comandar as operações do Exército na Amazônia Ocidental durante a greve dos caminhoneiros que paralisou o País durante 11 dias. O general esteve à frente da estratégia de acompanhamento dos caminhoneiros na região, especialmente em Rondônia, onde houve bloqueios mais radicais.

Durante a crise dos transportes, grupos com orientação política de extrema direita aproveitaram o movimento para realizar manifestações favoráveis a uma intervenção militar no País. Nardi é taxativo quanto ao cumprimento da Constituição, ao afirmar que atua com a Carta Magna debaixo do braço, segue as ordens do comandante do Exército e mantém nas tropas o respeito à hierarquia.

Ele tem uma sólida formação, onde destacam-se suas experiências no comando das Forças Especiais, a condição de observador da ONU em conflitos de El Salvador, na América Central, a posição de adido militar na Embaixada do Brasil em Portugal, e outras no Exército.

Atento ao que acontece no Brasil e na Amazônia Ocidental, que está sob seu comando (Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre) ele tem várias missões na região, dentre elas combater as ações do narcotráfico, os crimes ambientais, o roubo das riquezas minerais e da biodiversidade. Sob suas ordens estão 20.800 militares, dos quais mais de 860 mulheres. Um dos principais desafios são as operações na tríplice fronteira Brasil, Peru e Colômbia, no Alto Solimões, e na Cabeça do Cachorro São Gabriel da Cachoeira, na fronteira com Venezuela e Colômbia, onde operam os maiores cartéis de drogas do mundo.

Confira a entrevista:

Como o senhor conduz a tropa na Amazônia?

Trabalho em equipe e conectado com os oficiais generais das nossas quatro brigadas, localizadas em Tefé (16ª), São Gabriel da Cachoeira (2ª), Boa Vista (1ª) e Porto Velho (17ª). Nossas atividades são de combate a todos os tipos de crimes transnacionais como narcotráfico, contrabando de armas, de madeira, minerais e da nossa biodiversidade. Também trabalhamos pela manutenção da ordem e, principalmente, para proteger nossas fronteiras.

O Brasil vive momentos de inquietude política e onde ações como as dos caminhoneiros, que paralisaram o País por onze dias, desestabilizam o abastecimento da sociedade. O que o senhor pensa de tudo isso?

Eu trabalho com a Constituição debaixo do braço. Sigo as ordens do meu comandante do Exército e mantenho meus comandados com o princípio da hierarquia.

Mas recentemente, com a greve dos caminhoneiros, o Exército teve que atuar na escolta dos caminhões que queriam entregar as suas mercadorias?

Nós montamos toda uma estratégia de acompanhamento desses caminhoneiros, para evitar que eles sofressem algum tipo de ataque e também para manter o abastecimento à população. No Amazonas, praticamente não tivemos maiores problemas, o mesmo acontecendo em Roraima. Somente em Rondônia que tivemos mais trabalho, porque em Candeias do Jamari, nas proximidades de Porto Velho, havia bloqueios mais radicais; o mesmo acontecendo em Cacoal. Lamentavelmente, houve a morte de um caminhoneiro em Vilhena, Sul de Rondônia.

No Brasil, de quanto é a aceitação das Forças Armadas (Exército) pela população?

Hoje de 80%, mas na Amazônia muito mais, passa de 95%. Isso mostra que atuamos de maneira certa em nossas operações. Aqui na Amazônia fazemos parte do dia a dia da população. Isso é muito forte em Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira, áreas remotas em que nossas atividades no campo da saúde são intensas.

Como são essas ações na área de saúde em Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira?

Em 2017 fizemos 95 mil atendimentos médicos em São Gabriel da Cachoeira, sendo a maioria em indígenas, das várias etnias que vivem na região. E na Tríplice fronteira em Tabatinga, realizamos 111 mil atendimentos, no mesmo período. Este contato direto com as famílias nos aproxima da sociedade civil. Contamos, também, com o apoio financeiro do Estado do Amazonas que neste ano de 2018 nos repassou R$ 6 milhões, sendo R$ 3 milhões para cada hospital.

Além da área de saúde, o Exército participa de outras operações. Fale um pouco delas?

Nacionalmente, na intervenção Federal do Rio de Janeiro, estamos em todas as áreas da cidade com nossos efetivos garantindo a ordem. Na operação Pipa no Nordeste, onde há anos abastecemos a população com água potável, desenvolvemos um papel de vital importância. Nas operações de destruição de pistas e de equipamentos em garimpos ilegais em Roraima, nas terras dos índios Yanomami, mostramos nossa capacidade de agir em áreas isoladas para preservar nossas riquezas. E, nas muitas ações de combate ao narcotráfico nos rios da Amazônia, apreendendo drogas dos narcotraficantes e também entrando em combate com eles, através dos nossos pelotões de fronteiras, mostramos nossa força persuasiva. Tudo isso, nos aproxima da sociedade, por isso somos muito bem avaliados e recebidos na Amazônia.

Como estão sendo organizadas as operações pelo CMA no combate aos crimes transnacionais nas calhas dos rios?

Nós adotamos uma nova estratégia de atuar diretamente nas áreas com problemas. Nossas ações estão mais focadas e, trimestralmente, fazemos uma avaliação geral de tudo que ocorreu e está ocorrendo na região. Recentemente, atuamos em conjunto com a Marinha nos rios Japurá, Alto Solimões, Içá e Jutaí, no combate aos narcotraficantes e ao contrabando de madeira. Também realizamos operações na Ponta do Abunã que, liga Rondônia ao Acre, combatendo os crimes ambientais naquela região. Saímos das grandes operações para outras de menor porte, mas de grande eficiência pelo trabalho de inteligência.

Na Amazônia a logística é decisiva. Como o Exército está atuando no transporte de suas tropas?

Temos o apoio da Força Aérea Brasileira para nossos deslocamentos e do 4º Batalhão de Aviação do Exército, que está aqui em Manaus com 12 helicópteros. São essas aeronaves que nos levam para todas as áreas da Amazônia em ações de deslocamento de tropas.

O Exército brasileiro adquiriu seis aeronaves Sherpa das forças armadas dos Estados Unidos da América. Quando elas virão para a região?

Essas aeronaves, que estão sendo modernizadas, e com nossos pilotos sendo preparados para pilotá-las, vão ser transferidas para a Amazônia e ficarão sediadas em Manaus, a partir de 2021, mas pode ser que algumas delas cheguem antes na região. Com isso, teremos mais alternativas de logística e transporte de tropas.

De que maneira o Exército está trabalhando para atender e diminuir o impacto da imigração de venezuelanos para o Brasil, através de Roraima, com muitos deles vindo para Manaus?

Em Roraima temos nove abrigos e devemos terminar outros dois ainda em junho. Neles, temos 4.804 venezuelanos em condições dignas e sob nossa supervisão, juntamente com outras instituições federais e estaduais. A Operação Acolhida é complexa, mas está sendo bem conduzida. Nos próximos dias 5 e 6 estarei em Boa Vista e Pacaraima, em Roraima, acompanhando o que está sendo feito na área de imigração. Nossa preocupação é humanitária.

Mas tem havido muito contrabando de combustível da Venezuela para o Brasil e de alimentos do Brasil para a Venezuela. Como o Exército está agindo?

Nós temos agido no combate a esses tipos de contrabandos na fronteira com a Venezuela e com ações de inteligência e de monitoramento das áreas mais criticas e fazendo apreensões.

O Exército participa do Programa Amazônia Conectada lançando cabos fluviais com fibras ópticas para conectar os municípios do Amazonas. Como está este programa?

Nós estamos com cabos funcionando entre Manaus, Iranduba, Manacapuru e Novo Airão. Tivemos problemas técnicos entre Coari e Tefé. Mas a governança do programa em Brasília está atenta a este importante programa.

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