Um ataque com mísseis contra uma base aérea na Síria deixou 14 mortos, incluindo iranianos, segundo agências que monitoram a guerra. Estados Unidos e França negam autoria, enquanto Rússia e Damasco acusam Israel de executar o ataque.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, com sede no Reino Unido, disse que não está claro quem é responsável pelo ataque desta segunda-feira (09/04) na base aérea T4 do governo sírio, localizada entre a terceira maior cidade síria, Homs, e a cidade ancestral Palmira, no oeste do país.
A maioria dos mortos era de iranianos ou membros de grupos apoiados pelo Irã, disse Rami Abdurrahman, líder do Observatório, que monitora regularmente a guerra de sete anos na Síria. "Forças russas, iranianas e do movimento libanês Hisbolá", aliados do regime de Bashar al-Assad, estão estacionadas nesta base, de acordo com o observatório.
Além disso, a imprensa libanesa divulgou que moradores que vivem perto da fronteira com a Síria ouviram caças não identificados nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira.
EUA e França negam
Os Estados Unidos negaram ter bombardeado a base aérea, horas depois de um ataque químico realizado no sábado supostamente pelo Exército sírio na cidade de Duma, em Ghouta Oriental, que causou dezenas de mortos.
"Neste momento, o Departamento de Defesa não está realizando ataques aéreos na Síria", disse o Pentágono em comunicado. "No entanto, seguimos observando de perto a situação e apoiamos os esforços diplomáticos em curso para fazer com que os que usam armas químicas, na Síria e outros lugares, prestem contas."
O porta-voz das Forças Armadas francesas, o coronel Patrik Steiger, negou também a participação da França no ataque. "Não fomos nós", limitou-se a dizer à agência francesa de notícias AFP.
Os Estados Unidos e a França decidiram coordenar conjuntamente "ações e iniciativas" no quadro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que se reunirá nesta segunda-feira para condenar a falta de respeito "de forma contínua" da resolução sobre o uso de armas químicas pelas forças governamentais sírias.
No domingo, o presidente francês, Emmanuel Macron, conversou por telefone com seu homólogo americano, Donald Trump, que já havia alertado que haveria um "grande preço a pagar" pelo ataque de gás venenoso de sábado, em Douma.
Israel na mira
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou nesta segunda-feira que as alegações de que o governo sírio tenha executado o ataque com gás venenoso no sábado são falsas e uma provocação.
A Síria e a Rússia acusaram Israel de autoria do ataque. "Caças F-15 israelenses realizaram o ataque de mísseis contra a base militar T4 e dispararam vários mísseis a partir do território libanês", afirmou a agência síria de notícias Sana, que citou uma fonte militar.
Já a agência russa de notícias Tass, que citou o Ministério da Defesa da Rússia, publicou que caças israelenses executaram os ataques a partir do espaço aéreo do Líbano. Ainda segundo o Tass, a defesa aérea síria conseguiu destruir cinco mísseis guiados, enquanto três atingiram o aeródromo T4.
O Exército de Israel, que em ocasiões passadas atingiu alvos dentro da Síria, recusou-se a comentar se caças israelenses estavam envolvidos no ataque. Habitualmente, Israel nem confirma nem desmente os ataques que realiza contra a Síria. A exceção é quando se trata de bombardeios defensivos ou contra comboios que estima que transportem armas do país vizinho para o Líbano destinadas à milícia xiita Hisbolá, contra a qual manteve uma guerra em 2006.
Trump afirma que ataque químico na Síria vai custar caro
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, condenou com duras palavras neste domingo (08/04) o suposto ataque com armas químicas em Duma, na Síria, e afirmou que "é preciso pagar um preço alto". Tanto a Síria como a Rússia negam que tenham ocorrido um ataque.
Segundo a organização não governamental Capacetes Brancos, ao menos 40 pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, morreram por asfixia em decorrência de um ataque químico em Duma, a maior cidade de Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco.
"Numerosos mortos, entre os quais mulheres e crianças, num estúpido ataque QUÍMICO na Síria", escreveu Trump sobre o bombardeio aéreo, supostamente executado pelo regime do presidente Bashar al-Assad, contra a cidade de Duma, último reduto rebelde nas proximidades de Damasco.
Trump chamou Assad de "animal". "A área das atrocidades está confinada e cercada pelo Exército sírio, tornando-a completamente inacessível ao resto do mundo. O presidente Putin, a Rússia e o Irã são responsáveis pelo seu apoio a Animal Assad. É preciso pagar um preço alto", sublinhou.
Congressistas democratas e republicanos instaram Trump a tomar medidas em resposta ao possível ataque químico na Síria, apesar das últimas declarações do presidente a favor de retirar as tropas americanas do país.
O Conselho de Segurança da ONU vai se reunir em caráter de urgência nesta segunda-feira para analisar a situação na Síria depois do ataque químico. A missão dos Estados Unidos afirmou que a reunião foi solicitada por nove dos 15 integrantes do conselho: França, Reino Unido, EUA, Polônia, Holanda, Suécia, Kuwait, Peru e Costa do Marfim.
"De novo, há relatos do que parece ter sido um ataque com armas químicas na Síria. Infelizmente o uso de armas químicas para ferir e matar civis inocentes na Síria tem se tornado comum demais", lamentou a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, condenou "com a maior firmeza" o ataque à cidade e expressou preocupação com as informações que indicam que esse tipo de armamento foi utilizado. "O uso de armas químicas é um crime de guerra e uma violação do regime internacional da não proliferação", destacou Le Drian.
O ministro do Exterior do Reino Unido, Boris Johnson, pediu à Rússia para que não obstrua a investigação sobre o suposto ataque com armas químicas na cidade síria de Duma, o qual considerou "verdadeiramente terrível".
A União Europeia afirmou que condena com veemência o uso de armas químicas e pediu uma resposta imediata da comunidade internacional.
Os militares russos na Síria negaram todas as informações sobre o ataque químico em Duma e se mostraram dispostos a enviar especialistas para a área.
A agência oficial síria, a Sana, também rejeitou qualquer responsabilidade por parte das forças sírias e escreveu que as "denúncias do uso de substâncias químicas em Duma são uma tentativa clara de impedir o progresso do Exército".