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Trump propõe mais US$ 100 bilhões em tarifas contra China

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (05/04) que estuda impor 100 bilhões de dólares em tarifas sobre importações chinesas, acrescentando uma nova etapa às tensões que envolvem a disputa comercial entre os dois países.

Trump ordenou ao Escritório do Representante de Comércio Exterior dos EUA que identifique os produtos que podem ser sujeitos às novas tarifas "à luz da injusta represália da China".

Na última terça-feira, após ser alvo de novas sobretaxas comerciais no valor de 50 bilhões de dólares, Pequim respondeu na mesma moeda, anunciando medidas equivalentes às adotadas por Washington.

Se confirmado o novo aumento tarifário por parte dos EUA, será mais uma etapa na intensificação da maior batalha comercial travada desde a Segunda Guerra Mundial.

Os mercados financeiros sofreram quedas acentuadas enquanto as duas maiores economias do globo adotavam táticas agressivas de proteção aos seus respectivos interesses, mas voltou a se estabilizar nos últimos dias com a perspectiva de uma solução diplomática. O anúncio da ordem de Trump sobre um possível novo aumento veio após o fechamento dos mercados.

"As práticas comerciais ilícitas da China – ignoradas durante anos por Washington – destruíram milhares de fábricas americanas e milhões de empregos americanos", disse Trump em comunicado, ao anunciar a medida.

O presidente também instruiu o Departamento de Agricultura do país a "implementar um plano para proteger nossos fazendeiros e interesses da agricultura". "Em vez de remediar sua má conduta, a China optou por prejudicar nossos fazendeiros e produtores", disse Trump.

Pequim reagiu ao anúncio, afirmado que vai combater a todo custo o "protecionismo unilateral americano". "A China deixou bastante clara a sua posição. Não queremos uma guerra comercial, mas não tememos tal confronto", afirmou o Ministério chinês do Comércio.

"Se os Estados Unidos persistirem neste comportamento de unilateralismo e protecionismo comercial, ignorando a oposição da China e da comunidade internacional, a China continuará a contra-atacar com força a qualquer preço", ameaçou o Ministério em nota, prometendo adotar "contramedidas abrangentes":

O país apresentou nesta quinta-feira uma denúncia formal perante a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os EUA em relação às sobretaxas impostas por Washington.

"A China solicitou a abertura de consultas, no quadro do Mecanismo de Resolução de Disputas da OMC, a respeito das taxas alfandegárias dos Estados Unidos que visam um conjunto de produtos chineses", confirmou o órgão em comunicado.

A disputa entre os dois países reflete a tensão entre as promessas de Trump em reduzir o déficit comercial americano com a China – de cerca de 375 mil milhões de euros – e as ambições de Pequim no comércio exterior.

China denuncia EUA à OMC por tarifas sobre importações

A China apresentou nesta quinta-feira (05/04) perante a Organização Mundial do Comércio (OMC) uma denúncia formal contra os Estados Unidos pelas tarifas que Washington impôs, no valor de 50 bilhões de dólares, sobre as importações chinesas.

"A China solicitou consultas com os EUA sob o Mecanismo de Resolução de Disputas da OMC a respeito das medidas tarifárias americanas sobre certos bens chineses", afirmou a organização em comunicado.

A fase de consultas é o passo prévio antes da formação de um painel de analistas que avaliará a disputa. As consultas dão às partes envolvidas a possibilidade de analisar a questão e encontrar uma solução satisfatória sem prosseguir com a disputa.

Se, no fim de 60 dias, as consultas não permitirem resolver a questão, a parte queixosa pode submeter a denúncia ao litígio, que será analisado por um painel de analistas neutros.

A China alega que as tarifas americanas são incompatíveis com o Acordo Geral sobre Tarifas Alfandegárias e Comércio (GAAT).

Disputa comercial

Pequim e Washington iniciaram uma disputa comercial após as sobretaxas que o presidente americano, Donald Trump, impôs às importações de aço e alumínio. Depois da medida, os Estados Unidos anunciaram ainda tarifas de importação sobre produtos chineses, alegando práticas comerciais "desleais" da China.

Na terça-feira passada, o Escritório do Representante de Comércio Exterior dos Estados Unidos (USTR) publicou uma lista que inclui 1.300 produtos chineses sobre os quais planeja impor as tarifas. A imposição destes encargos terá um impacto de aproximadamente 50 bilhões de dólares no comércio exterior chinês.

A lista, que inclui aparelhos de tecnologia de ponta das indústrias aeroespacial e robótica, está agora submetida a um período de comentários públicos de 30 dias antes que as tarifas protecionistas entrem em vigor.

Um aumento da carga fiscal sobre estes setores é especialmente sensível para a liderança chinesa, que quer transformar o país numa potência tecnológica.

Washington decidiu impor essas tarifas porque, segundo denuncia, as políticas de Pequim obrigam as empresas americanas a transferir tecnologia e propriedade intelectual a empresas chinesas.

Os Estados Unidos iniciaram ainda no final de março um processo de consultas com a China na OMC para enfrentar suas supostas "práticas discriminatórias na hora de outorgar licenças tecnológicas".

Estas tarifas, que se somam às sobretaxas sobre as importações de aço e alumínio, representam a medida mais dura que o governo de Washington impôs até agora a Pequim.

Em resposta à taxação dos Estados Unidos sobre as importações de aço e alumínio, a China, que é o segundo maior parceiro comercial dos EUA, anunciou na segunda-feira a imposição de tarifas a 128 produtos americanos.

Além desta medida, o governo chinês anunciou na quarta-feira tarifas de 25% a um total de 106 outros produtos importados dos Estados Unidos, entre eles soja, milho, carne bovina, suco de laranja, tabaco, automóveis e alguns tipos de aviões, no valor de 50 bilhões de dólares.

O governo chinês entrou também com um processo de resolução de disputas na OMC sobre as tarifas americanas impostas às exportações de aço e alumínio. A organização ainda não divulgou informações sobre esse pedido.

Trump começou mesmo uma guerra comercial com a China?

No começo de março, o presidente Donald Trump declarou em um de seus tradicionais tuítes matinais que, para um país como os Estados Unidos – que, segundo ele, perde bilhões de dólares no comércio com a maioria dos países – "guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar".

Nesta quinta-feira (22/03), três semanas depois, Trump colocou em prática sua opinião e anunciou pesadas tarifas à China, uma ação que, segundo muitos analistas, vai desencadear um conflito comercial entre as duas maiores economias do mundo.

"Isso vai gerar uma guerra comercial", afirmou James Andrew Levis, que é vice-presidente sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) e que já trabalhou no Departamento de Comércio dos EUA, onde comandou a equipe que se ocupava da segurança nacional e espionagem no âmbito do comércio de produtos de alta tecnologia com a China.

O especialista em China Andrew Wedeman, da Universidade do Estado da Geórgia, também avaliou que a taxação de Trump a Pequim – estimada no valor de 60 bilhões de dólares – dará início a uma guerra comercial porque haverá retaliações. "É provável que os chineses rebatam em pontos como produtos agrícolas. Eles não são bobos."

De fato, poucas horas depois do anúncio de Trump, o governo chinês afirmou que "não tem medo" de uma guerra comercial e ameaçou com tarifas a produtos americanos, no valor de 3 bilhões de dólares, incluindo vinho, carne de porco e soja. O anúncio foi uma resposta a uma decisão anterior de Trump, de sobretaxar as importações chinesas de aço e alumínio.

A melhor resposta?

Apesar de ambos especialistas acharem que Trump deu início a uma guerra comercial, eles discordam sobre a eficiência desse passo na resposta a práticas comerciais controversas dos chineses, por exemplo na propriedade intelectual e no acesso ao mercado interno.

Para Lewis, punir Pequim com altas tarifas por suas contínuas transgressões comerciais é algo que já deveria ter acontecido há anos. Segundo ele, a espionagem econômica pelos chineses custou dezenas de bilhões de dólares aos EUA ao longo dos últimos 20 anos.

Mas, como a China era uma economia menor, muitos consideravam tal perda como o preço de se fazer negócios com Pequim. "Agora que a China é a segunda maior economia no mundo, as pessoas não podem mais suportar essa perda", afirmou Lewis.

Wedeman concorda que transgressões desse tipo têm sido há décadas um problema irritante e irresoluto para os EUA. Ainda assim, ele duvida que a medida de Trump de taxar os produtos chineses seja o melhor remédio para as queixas legítimas de Washington. "Tentar usar tarifas como uma forma de lidar com esse problema é como usar uma marreta quando o mais adequado seria um bisturi", disse.

Trump tem uma estratégia?

Wedeman também se mostrou cético quanto à existência de uma estratégia no plano tarifário de Trump. "Eu não acho que Trump refletiu muito a respeito, tampouco que ele compreenda que os chineses vão contra-atacar", disse. "Eles vão contra-atacar pesado, eles têm condições de fazer isso."

Além de produtos agrícolas, como soja, que teriam forte impacto sobre fazendeiros americanos, a China – como maior mercado mundial de aviões – também poderia retaliar os EUA em setores como aviação, explica. "A Boeing ficaria feliz se os chineses decidissem não mais comprar aviões da empresa e que, em vez disso, passar a adquirir o Airbus da União Europeia?"

Lewis compartilha da preocupação de Wedeman quanto a uma possível falta de planejamento estratégico em relação às tarifas e seus objetivos. "O dilema aqui é o mesmo de sempre: será que esse governo tem mesmo uma estratégia, um objetivo bem definido e um caminho para chegar a esse objetivo?", questionou.

Para ele, o objetivo tem que ser chegar a um entendimento com a China – e com os outros parceiros dos EUA – sobre como o comércio internacional vai funcionar e como ele pode se tornar mais justo em algumas áreas. "Pode ser que essa estratégia exista, mas não há nenhum sinal disso."

"É melhor do que não fazer nada"

Outro indicador de que talvez não haja uma estratégia por trás da nova medida é a postura igualmente dura de Trump em relação a importantes aliados dos EUA, que foram incluídos em suas declarações ao anunciar as tarifas à China.

"Há um sinal de que as pessoas não pensaram o suficiente sobre a questão, afinal a China é um grande problema para a economia global, e não só para os EUA. Ou seja, também para os nossos aliados", ponderou Lewis. "E se você pretende envolver os chineses no que serão discussões bem difíceis, não deveria começar excluindo Alemanha, Canadá e México, que são alguns de seus principais parceiros comerciais."

Mesmo sendo cético quanto ao nível de preparo e planejamento do governo de Trump, Lewis está convencido de que impor tais tarifas aos chineses foi a coisa certa a fazer. "É melhor do que não fazer nada, que foi o que as duas últimas administrações fizeram."

Mas Lewis alerta que uma guerra comercial com a China jamais deve ser vista como um fim em si. "O objetivo não pode ser punir a China, mas reconstruir o comércio global", diz. Só que chegar a um acordo para um comércio mundial com regras mais justas e igualitárias parece não ser o que Trump tinha em mente quando deu início a um conflito comercial entre os EUA e a China.

 

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