Luiz Marcelo Berger
Doutor em administração
No final dos anos 90, Hugo Chavez assumiu o controle da Venezuela. Na época, sua permanência no poder não fora contestada como deveria pelos eleitores que ainda tinham possibilidade de impedir a ascensão do futuro ditador do Orinoco.
Aos poucos, com extrema habilidade e escudado nos mais sórdidos ensinamentos da escola comunista cubana, com vasta experiência em ditaduras implacáveis, Chavez foi alterando o pais institucionalmente de forma lenta e irreversível.
Estruturas de estado foram erodidas. Nomeações e expurgos espúrios se tornaram rotina. Pessoas de bem foram silenciadas ou eliminadas. Ao mesmo tempo, centenas de milhares de apoiadores do futuro ditador de forma oportunista foram cooptadas e aceitaram sua oferta de beijo da morte.
Milícias foram formadas. Seguidores fanáticos foram entregando suas almas em troca de privilégios na estrutura estatal, regados naquele tempo com os recursos fartos do petróleo a cem dólares o barril.
Muitos aceitaram passivamente o cenário que se desenhava, na certeza que a recompensa imediata não representava nenhum risco, nem para o pais, quanto menos para entes queridos. Estavam mortalmente errados. A mudança foi gradual e paulatina. Mas não passou desapercebida por alguns poucos venezuelanos que antevendo que seu pais estava entrando na espiral neocomunista, travestida com tempero caribenho e bolivariano, imediatamente começaram a fazer as malas para deixar o pais, sentindo o prenuncio da catástrofe que finalmente iria engolir o pais em futuro não muito distante.
Foram proféticos. O cenário de horror, cujos primórdios agora estão perdidos em registros históricos facilmente manipuláveis, revela-se bastante familiar aos eventos que vem ocorrendo em um determinado pais ao sul do equador. As semelhanças são evidentes, especialmente em relação à corrosão moral das instituições pela corrupção, não por acaso, o estágio inicial da inexorável derrocada final se nada for feito para impedir que assim aconteça.
Enganam-se aqueles que afirmam que o movimento de abandono da Venezuela começou em 2017, com hordas de refugiados chegando em Roraima ou indo para a Colômbia em fuga desesperada. Teve inicio muito antes, ainda no alvorecer dos anos 2000, quando ainda havia oportunidade de se realizar uma mudança planejada de vida em tempo.
Hoje não é mais possível. Hoje, venezuelanos cruzam a fronteira com a roupa do corpo em busca de abrigo, segurança, comida e remédios, resultado esperado e previsível após anos de implantação do mesmo neocomunismo assassino que dilacerou todos os países por onde passou. Sem nenhuma exceção. A Venezuela foi apenas mais um a sucumbir, embora longe de ser o último.
Agora se junta à lista negra de morte e destruição que inclui a ex-União Soviética, todos os países da ex-cortina de ferro, China, Vietnã, Camboja, Coréia do Norte e, claro, Cuba, a favela rediviva da ditadura castrense, talvez o retrato mais fiel e duradouro desse vírus mortal conhecido por socialismo.
Em todos esses países o processo seguiu sempre a mesma cartilha e começou sempre pela destruição dos valores morais universais inerentes a qualquer ser humano: Deus, família, liberdade são imediatamente substituídos respectivamente pelo Estado, partido e pela libertinagem. Não existe mais a pessoa. Ela agora faz parte de um coletivo ou minoria. O espírito divino presente em cada um é substituído pela religião estatal, cujos interlocutores são os comissários do partido totalitário.
O respeito ao indivíduo, sua vida, liberdade e propriedade, é substituído pela paz dos cemitérios, pois somente nestes todos podem ser igualados à força, uma vez que cada ser humano é único e insubstituível. Quando o neocomunismo penetra organicamente nas instituições, o colapso passa a ser apenas uma questão de tempo, pois a terra do consenso pelas leis é substituída pela terra dos lobos onde apenas prevalece a força das armas.
Os acólitos do partido único, repletos de ressentimento e ódio pelos seus conterrâneos, recepcionam de bom grado os novos tempos, pois somente dentro da ditadura do partido único conseguem algum holofote na escuridão de sua própria incompetência e mediocridade. Não por acaso, a primeira e mais importante vítima dos comissários totalitários é justamente o livre mercado, pois este é a expressão suprema da cooperação voluntária pela excelência.
Todos podem entrar e sair quando querem de uma sociedade aberta e livre, algo incompreensível para a horda de fanáticos do partido único, entidade supra-humana com poder de vida e morte sobre seus súditos.
Na sociedade aberta, onde a busca do conhecimento e da excelência pelo mérito prevalecem, os medíocres e mornos não têm nenhuma chance, visto que não são capazes de oferecer valor aos seus conterrâneos. Apenas sabem extrair riquezas, como parasitas sociais que são. Por esta única razão, regimes totalitários precisam de um estado burocrático gigantesco, pois somente assim os medíocres podem ter sua existência reconhecida, pagos a peso de ouro com os recursos extraídos daqueles que efetivamente criam riqueza.
Claro que este estado insustentável de coisas não pode durar para sempre. Que o digam Cuba e Venezuela. Aliás, qualquer outro pais que segue a mesma cartilha sempre tem o mesmo fim, exatamente como a história registrou incontáveis vezes.
Muitos inocentes úteis somente percebem a gravidade da situação quando já é tarde demais. Estes, iludidos ingenuamente pelas promessas do messias totalitário tornam-se os primeiros a serem abatidos. Alguns poucos pressentem a desgraça que se avizinha, assim como os canários nas minas de carvão, e soam o alarme com antecedência.
No limite, fogem enquanto podem, pois percebem que o vírus assassino se alastra como rastilho de pólvora na sociedade, tornando sua destruição inevitável.
Já viu este filme antes? Este cenário distópico parece familiar? Pois é exatamente isso que foi decidido pelos ministros em Brasília, ao instituir o “princípio Lula”. Foi celebrada uma missa negra em homenagem ao apóstata e seus seguidores, cujo evangelho está sendo pregado em todo o país, nas ruas, escolas, universidades, tribunais, tevês, rádios, jornais, revistas.
Ao fim e ao cabo, a decisão tomada tornou-se um ode aos canalhas do país. “Uni-vos, pois sua blasfêmia restará impune”. No seu último e derradeiro capitulo, o pais saberá logo mais qual o caminho que pretende trilhar: suprema redenção ou supremo desastre.