Israel admitiu pela primeira vez ter bombardeado um suposto reator nuclear sírio em 2007, e disse nesta quarta-feira que o Irã deveria ver o ataque como um alerta de que não terá permissão para desenvolver armas nucleares.
Os militares israelenses divulgaram imagens inéditas da cabine de um avião, fotos e documentos de inteligência a respeito do ataque aéreo de 6 de setembro de 2007 contra a instalação de Al-Kubar, próxima de Deir al-Zor, no leste da Síria.
Eles disseram que o reator estava sendo construído com ajuda da Coreia do Norte e que a instalação seria ativada em meses. A Reuters não conseguiu verificar de imediato o material israelense.
A admissão pública de Israel veio depois de pedidos feitos nos últimos meses de maneira reiterada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para que os Estados Unidos e a comunidade internacional adotem ações mais duras contra o Irã, aliado da Síria.
O ministro da Inteligência israelense, Israel Katz, disse no Twitter: “A operação (de 2007) e seu sucesso deixaram claro que Israel jamais permitirá armamento nuclear nas mãos daqueles que ameaçam sua existência — a Síria então, e o Irã hoje”.
Os militares israelenses descreveram em detalhes os acontecimentos que antecederam a madrugada de 5 para 6 de setembro de 2007, na qual, disseram, oito aviões de guerra F-16 e F-15 realizaram a missão depois de decolar das bases aéreas de Ramon e Hatzerim e voar até a região de Deir al-Zor, 450 quilômetros ao noroeste de Damasco. Dezoito toneladas de munições foram lançadas no local, afirmaram.
Em 2008 os EUA apresentaram o que descreveram como dados de inteligência mostrando que a Coreia do Norte ajudou a Síria com “atividades nucleares clandestinas”. À época a Síria minimizou as acusações, dizendo serem parte de uma campanha para desacreditar o governo de Damasco.
“O governo sírio lamenta a campanha de mentiras e falsificação do governo dos EUA contra a Síria, incluindo alegações de atividade nuclear”, disse um comunicado governamental divulgado pela agência estatal de notícias síria.
Entre as imagens divulgadas nesta quarta-feira, uma série de vídeos em preto e branco, gravados acima do alvo, mostra a estrutura na mira. Ouve-se uma voz masculina fazendo uma contagem regressiva de três segundos e uma nuvem de fumaça negra emerge da estrutura quando explode. Outras imagens parecem mostrar o resultado da explosão — um buraco fumegante no solo.
Operação Orchard
Operação Orchard foi um ataque aéreo israelense em um reator nuclear suspeito na região de Deir ez-Zor na Síria, que ocorreu logo após a meia-noite (hora local) em 6 de setembro de 2007. Os governos de Israel e dos Estados Unidos impuseram blackouts de notícias praticamente totais imediatamente depois da incursão que organizaram por sete meses.
A Casa Branca e a Agência Central de Inteligência (CIA) posteriormente confirmaram que a inteligência estadunidense também havia indicado que o local era uma instalação nuclear com fins militares, embora a Síria negasse.
Uma investigação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) de 2009 relatou evidências de urânio e de grafite e concluiu que o local tinha características semelhantes à de um reator nuclear clandestino. A AIEA foi inicialmente incapaz de confirmar ou negar a natureza do local, porque, de acordo com a AIEA, a Síria não conseguiu fornecer a cooperação necessária com a investigação.[
A Síria contestou estas alegações. Quase quatro anos depois, em abril de 2011, a AIEA confirmou oficialmente que o local era um reator nuclear. O ataque israelense seguiu consultas de alto nível com a administração Bush.
Depois de perceber que os Estados Unidos não estavam dispostos a assumir sua própria ação militar, o primeiro-ministro Ehud Olmert decidiu aderir em 1981 à Doutrina Begin e unilateralmente atacou para impedir uma eficácia das armas nucleares síria, apesar de sérias preocupações sobre uma retaliação síria.
Em contraste com o uso prévio da doutrina contra o Iraque, o ataque aéreo contra a Síria não provocou protestos internacionais. A razão principal é que Israel manteve silêncio total e completo sobre o ataque, e a Síria acobertou suas atividades no local e não cooperou plenamente com a AIEA.
O silêncio internacional pode ter sido um reconhecimento tácito da inevitabilidade de ataques preventivos em "programas nucleares clandestinos em seus estágios iniciais." Se for verdade, a Doutrina Begin, sem dúvida, desempenhou um papel em moldar essa percepção global.