O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, previu nesta quinta-feira que a rota de navegação pelo Ártico ao longo da costa norte do país vai em breve rivalizar com o Canal do Suez como um forma rápida de ligação comercial entre a Europa e a Ásia.
A Rússia deseja retomar a linha de navegação da era soviética diante da queda recorde nos níveis de gelo no pólo, o que pode acelerar as entregas de energia para a China e aumentar os negócios de transporte marítimo de cargas de empresas como a estatal Sovkomflot.
Autoridades em um fórum sobre o Ártico na cidade portuária de Arkhangelsk disseram que a Rússia precisa desenvolver sua infraestrutura para prevenir vazamentos de óleo, melhorar os portos e construir mais navios quebra-gelos para concretizar a visão de Putin.
"A rota mais curta entre os maiores mercados da Europa e a região da Ásia-Pacífico passa pelo Ártico. Essa rota é quase um terço mais curta do que a tradicional pelo sul", disse Putin aos participantes do fórum, incluindo o presidente da Islândia, Olafur Grimsson.
Os altos preços da energia, estimulados pela demanda chinesa e de outros mercados emergentes, estão ajudando a aumentar o interesse na rota de navegação pelo norte da Rússia, que reduz em 7.400 quilômetros (4.000 milhas náuticas) o caminho feito pelo Canal do Suez, no Oriente Médio.
"Quero destacar a importância da Rota Mar Norte como uma artéria de transporte internacional que vai concorrer com as linhas de comércio tradicionais em taxas de serviço, segurança e qualidade", disse Putin.
"Governos e companhias privadas que escolherem as rotas de comércio do Ártico irão sem dúvida obter vantagens econômicas."
Com cientistas ao redor do mundo prevendo que as mudanças climáticas podem representar verões sem gelo no Ártico em uma década, a Sovkomflot e outras empresas aumentaram os testes com embarcações de carga na região polar, apesar de seus altos custos.
O Ártico foi atravessado no período recorde de oito dias no mês passado pelo navio cargueiro STI Heritage, de propriedade da Scorpio Tankers Inc., após partir dos Estados Unidos para a Tailândia.
Em agosto, um supercargueiro, o Vladimir Tikhonov, transportando 120.000 toneladas de gás natural condensado, tornou-se a maior embarcação de seu tipo a atravessar a passagem.
"Não tenho dúvida de que isso é só o começo", disse Putin sobre as viagens pioneiras.
A Rússia pretende vender uma participação de 25 por cento na estatal de navios Sovkomflot, mas adiou a venda devido ao momento de crise na economia mundial.
A também russa Novatek, que vê a passagem pelo Ártico como parte de um projeto ambicioso para o envio de gás natural liquefeito a partir da península Yamal, estima que a rota vai reduzir de 10 a 15 por cento os custos de transporte.
Em outro marco do interesse crescente, a Rosatomflot, que envia seus navios quebra-gelo atômicos para quebrar camadas de gelo de até dois metros, recebeu 15 pedidos de escolta em viagens pelo Ártico em 2011, ante apenas quatro em todo o ano de 2010.
Para atender à demanda, Putin disse que a Rússia vai investir 38 bilhões de rublos (1,2 bilhão de dólares) até 2014 para aumentar sua frota de quebra-gelos e planeja construir mais três até 2020.