Eliane Oliveira
O governo brasileiro só vai entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a sobretaxa de 25%, a ser aplicada pelos Estados Unidos nas importações de aço, após esgotadas todas as tentativas de um acordo bilateral que exclua o Brasil dessa medida protecionista.
A ideia é não mexer com o humor do presidente Donald Trump que, na avaliação de fontes oficiais e do setor privado, tende a transformar essas negociações em um balcão de negócios. Nada sairá de graça.
Existe uma avaliação reservada de que, para chegar a um entendimento, o governo brasileiro teria de fazer concessões tanto nas vendas de siderúrgicos ao mercado americano, adotando restrições voluntárias de exportações, por exemplo, como em áreas completamente distintas, como a associação entre a Boeing e a Embraer, operação que, pelo Ministério da Defesa, só acontecerá mediante uma série de condições, para não prejudicar projetos estratégicos de aviação militar. Há, ainda, a possibilidade de, nessas conversas, os EUA exigirem vantagens para o etanol de milho, que concorre diretamente com o álcool combustível fabricado da cana-de-açúcar do Brasil.
Porém, o Brasil poderia usar a seu favor o fato de ser o maior importador de carvão metalúrgico dos EUA e acenar com a substituição desses fornecedores por Austrália ou Polônia. Segundo o Instituto Aço Brasil, foi importado US$ 1 bilhão de carvão daquele país no ano passado. No mesmo período, as exportações de siderúrgicos semiacabados para o mercado americano somaram US$ 2,6 bilhões.
Os contatos informais entre autoridades dos dois países já começaram antes mesmo do anúncio da sobretaxa pelo presidente Donald Trump, na semana passada. Alguns dias atrás, o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge, enviou uma carta ao secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, reforçando o pedido de exclusão do Brasil da nova barreira comercial.
E, até o fim desta semana, o governo entrará com dois recursos em Washington: um deles, pedindo a exclusão do Brasil da medida, dirigido ao Representante Comercial dos EUA, o USTR; e outro solicitando a exclusão dos produtos exportados àquele mercado ao Departamento de Comércio.
Também faz parte da estratégia a contratação de um grande escritório de advocacia e lobby em Washington. A firma entraria imediatamente nessa negociação com as autoridades americanas. Trata-se de uma ação conjunta entre governo e setor privado — que bancará os custos dos serviços.
Além disso, existem mais de 20 empresas americanas que compram aços semiacabados do Brasil. Governo e empresários brasileiros querem que essas indústrias se transformem em aliadas.
Há, ainda, dois pontos que preocupam Trump e podem afetar as negociações. Em primeiro lugar, o presidente americano não esconde sua irritação ante o excedente de aço no mundo, estimado em 760 milhões de toneladas, dos quais 400 milhões foram produzidos pela China. Ele reclama da lentidão do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo, incluindo o Brasil) para resolver essa questão.
O segundo fator, não menos importante, diz respeito ao risco de triangulação. Como Canadá e México, parceiros dos EUA no Nafta (acordo de livre comércio da América do Norte), estão fora das sobretaxas, o Brasil e outros países entrariam com o aço nesses dois mercados e os produtos seguiriam para os Estados Unidos. Mas, segundo fontes do governo brasileiro, esse tipo de prática desleal de comércio será descartado nas conversas que vão acontecer.