Lisandra Paraguassu
A Boeing compreendeu a posição do governo brasileiro de não permitir a venda do controle da Embraer para a gigante norte-americana e as negociações entre as duas companhias visando a criação de uma terceira empresa caminham bem, disse nesta quinta-feira o ministro da Defesa, Raul Jungmann.
O governo brasileiro detém na Embraer, uma ex-estatal, uma golden share, ação que lhe dá poder de veto em decisões estratégicas da fabricante de aeronaves, que também é uma importante fornecedora das Forças Armadas brasileiras.
“As negociações estão indo bem. Houve um entendimento de que nós não venderíamos a Embraer e isso foi aceito pela Boeing. Então as negociações têm caminhado e há avanços no caminho da constituição de uma terceira empresa”, disse Jungmann a jornalistas após almoço com o presidente Michel Temer e comandantes militares.
No início deste mês, representantes da Boeing e da Embraer disseram que as companhias ainda negociavam uma possível aliança, mas que pontos importantes ainda precisavam ser definidos.
Também no início do mês, a Reuters informou que a Boeing estava agora buscando aprovação em Brasília para um plano para criar uma nova empresa englobando as operações de jatos executivos e comerciais da Embraer, incluindo os E-Jets de 70 a 130 lugares.
Já na última quarta-feira, o presidente da Boeing disse ver um “excelente encaixe estratégico” em uma possível aquisição da Embraer, mas que o negócio não era essencial para a empresa norte-americana.
As ações da Embraer exibiam alta de 0,7 por cento às 14:41, enquanto o Ibovespa tinha valorização de 1 por cento.
BASE DE ALCÂNTARA
Jungmann também disse na entrevista que algumas empresas visitaram a base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão, e manifestaram interesse, entre elas a própria Boeing, a SpaceX, do bilionário fundador da montadora de veículos elétricos Tesla, Elon Musk, e a também norte-americana Lockheed Martin.
Jungmann estimou ser possível fazer a instalação de cinco plataformas de lançamento em Alcântara e que países como China, França, Estados Unidos, Rússia e Israel também manifestaram interesse.
“A nossa visão é que até cinco países podem participar. Aí tem interesse da China, França, Rússia, Israel, EUA e do próprio Brasil. Esteve aqui uma missão coordenada pela Donna Hrinak, que foi embaixadora dos Estados Unidos no Brasil e hoje é vice-presidente para América Latina da Boeing, com um conjunto de investidores particulares que foram até Alcântara e ficaram muito bem impressionados”, disse o ministro a jornalistas.
“Dentre eles, além da Lockheed e da Boeing estava sim a SpaceX. Acho que é um manifestação de interesse, mas não posso dizer se vai se efetivar.”
Procurada, a Boeing afirmou em comunicado que “parcerias internacionais vão desempenhar um papel importante” no desenvolvimento de novas naves espaciais e tecnologias inovadoras que permitam a vida de humanos em órbita no espaço profundo. “Estamos ansiosos pela participação do Brasil.” Já a SpaceX não respondeu a pedido de comentário.
Ao falar sobre a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, Jungmann defendeu uma velocidade maior na liberação de recursos para o Estado, mas também disse que, se mais dinheiro for necessário para a segurança fluminense, o presidente Michel Temer tem compromisso com isso.
O ministro disse ainda que o general Walter Braga Netto, nomeado por Temer interventor federal na segurança do Rio, deverá apresentar nas próximas semanas um diagnóstico sobre a situação no Estado.
CEO da Boeing mira negócios "direcionados" em meio a especulação¹
O CEO da Boeing jogou água fria na especulação de que a gigante aeroespacial estivesse estudando uma grande aquisição, reafirmando o foco da empresa em negócios "direcionados" e em devolver dinheiro aos acionistas.
Dennis Muilenburg disse que as principais prioridades da Boeing são investir em suas fábricas e aviões e expandir os retornos dos acionistas. A fabricante de aviões tem os "cavalos de potência" necessários para buscar negócios e destinar dinheiro à recompra de ações e ao pagamento de dividendos, disse Muilenburg.
"Serão aquisições direcionadas e alvos que se alinhem à nossa estratégia", disse em conferência do Citigroup na quarta-feira. Em um momento em que a empresa com sede em Chicago corteja publicamente a fabricante de aviões brasileira Embraer, é crescente a especulação de que a Boeing também poderia mirar as divisões de aviação da General Electric ou da Honeywell International. A adição da unidade de motores de jatos da GE, que já é uma parceira industrial próxima, daria nova cara ao panorama aeroespacial a um custo de cerca de US$ 100 bilhões para a Boeing, disse Carter Copeland, analista da Melius Research, na terça-feira, em nota aos clientes.
Fabricante de assentos
Quanto à sua estratégia de crescimento, Muilenburg apontou como exemplo uma nova joint venture para a fabricação de assentos que a Boeing está formando com a Adient, o que deverá expandir o leque de peças com margem de lucro elevada vendidas pela fabricante de aviões durante o tempo de vida de uma aeronave, de 30 anos.
A criação de uma nova empresa com as operações comerciais da Embraer expandiria a linha de aeronaves da Boeing, juntamente com suas vendas de peças sobressalentes e serviços. A Boeing também poderia recorrer à ajuda dos engenheiros da empresa brasileira para seu novo jato, chamado de 797, o que manteria os trabalhadores ocupados depois que a nova família de jatos E2 da Embraer chegasse ao mercado.
Embora não se tenha perguntado diretamente a Muilenburg se a GE Aviation está na lista de desejos da Boeing, o executivo mostrou ceticismo em relação ao benefício oferecido por outra fusão importante para o mercado: a aquisição da United Technologies, da Rockwell Collins, por US$ 23 bilhões.
"Até que se prove o contrário não vemos o valor que essa combinação ofereceria em termos de redução de custos", disse.
¹com Julie Johnsson – UOL