Mudanças estruturais marcaram a Aeronáutica do Brasil em 2017. O Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato, comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), faz um balanço sobre as principais operações realizadas em 2017 e conta sobre os planos para o ano que está começando.
Quais são os principais aspectos que norteiam a reestruturação em curso na FAB, iniciada em 2016 sob o seu comando?
Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato: A reestruturação que planejamos está de acordo com o que existe de mais moderno do ponto de vista dos recursos de tecnologia da informação, de simulação e também dos processos de administração de gestão e governança.
Nós entendemos que, com a concentração das unidades aéreas e redução do tamanho das nossas bases, nós teremos um ganho operacional acompanhado da diminuição de custos.
Quanto ao efetivo da FAB, também estamos reduzindo a quantidade de pessoal de carreira e passando a absorver mais pessoal temporário, aproveitando profissionais do mercado como engenheiros, médicos e comunicadores, além do pessoal de nível técnico.
Essas mudanças não correspondem à demissão de pessoas. Nós simplesmente estamos deixando de ingressar gente nova na FAB, substituindo-as pelos profissionais temporários. Estimamos que, ao longo de 20 anos, teremos a redução de 20.000 a 25.000 pessoas em nosso efetivo.
Quais foram as mudanças definidas como prioritárias e que já começaram a ser feitas?
A reestruturação foi definida para ser desenvolvida ao longo de 25 anos, até 2041, quando a FAB completará 100 anos. O decreto presidencial que regulamenta as mudanças nas organizações da força foi assinado em junho de 2017, mas antes disso muitas etapas tinham sido começadas e algumas já foram concluídas. Por exemplo, já desativamos e transferimos unidades, que estão operando normalmente.
Sobre as prioridades, uma das questões que identificamos como necessárias tem a ver com a cultura do nosso pessoal dentro da FAB. Se mudamos a estrutura, temos que mudar nossa cabeça também. Por isso, estamos melhorando a capacitação dos nossos oficiais e dos nossos capitães.
Ampliamos também a duração do curso de Estado-Maior e estamos disponibilizando oportunidades para os nossos militares em universidades no Brasil e no exterior. Nós temos que fazer a cabeça de todos os nossos oficiais e graduados para se adequarem aos novos tempos, às novas tecnologias, aos novos processos de administração, como qualquer empresa faz no mercado.
Em 2017, o senhor visitou a 12ª Força Área dos Estados Unidos (na Base Davis-Monthan, Arizona). Além de outros temas, o diálogo com oficiais dessa organização militar tratou sobre os processos de gestão implementados ali. O que a FAB tem a aprender com a Força Aérea norte-americana em relação a esse assunto?
Ten Brig Ar Rossato: Quando estive lá, participamos de uma apresentação deles sobre a forma de atuação da força e percebemos a semelhança com o que estávamos fazendo aqui na FAB. Mas eles já trabalham há muitos anos com essa estrutura que estamos construindo agora.
Na ocasião, ficou claro como os militares de cada setor dominam as informações sobre a sua área de atuação. Na FAB, nós queremos que também seja assim, que o nosso oficial, quando atingir o nível de capitão ou major, defina sua cadeira e domine os conhecimentos referentes à área que escolher, seja de logística, de controle do espaço aéreo, da área operacional ou administrativa.
Em meados de 2017, a FAB realizou o Exercício Multinacional Amazonas I, missão que envolveu de forma inédita três países vizinhos de uma só vez. Quais são as perspectivas de intercâmbio com as forças aéreas da América do Sul?
Ten Brig Ar Rossato: Nós já temos acordos de transferência de controle do espaço aéreo com o Uruguai, a Argentina, o Paraguai, a Bolívia, e a Colômbia. Isso existe há mais de 15 anos.
O Amazonas I foi o primeiro a envolver três países, mas fazemos esse tipo de treinamento regularmente entre o Brasil e outra nação. Nosso próximo passo é fazer com que essa transferência do controle do tráfego aéreo seja automática e não restrita apenas a exercícios, quer dizer, que se torne uma prática entre as forças aéreas.
Entre as realizações da FAB que marcaram 2017 está ainda a Operação Ostium, uma das maiores iniciativas de defesa já implementadas nas fronteiras do Brasil. Como o senhor avalia o desenvolvimento dessa operação?
Ten Brig Ar Rossato: A Força Aérea Brasileira tem na defesa do espaço aéreo a sua principal missão constitucional. Esse monitoramento, incluindo as áreas de fronteira, é realizado 24 horas por dia há mais de 40 anos. Com a Operação Ostium, iniciada em março de 2017, tivemos um reforço das ações de patrulhamento na área de fronteira, coibindo a prática de ilícitos por meio aéreo.
Os números da Ostium nos permitem ter uma avaliação muito positiva. Por meio desta operação, foi possível reduzir cerca de 80 por cento dos tráfegos aéreos desconhecidos na região de fronteira. De março a agosto, por exemplo, foram realizadas mais de 150 interceptações.
Além das apreensões que foram divulgadas na mídia, é importante destacar o trabalho de inteligência, como o mapeamento de rotas aéreas e o entrosamento com os demais órgãos de segurança. O combate a ilícitos na fronteira requer um esforço conjunto.
O que a FAB planeja e espera do ano de 2018?
Ten Brig Ar Rossato: Diferentemente do que muitas pessoas pensam, a restruturação da Força Aérea Brasileira não é recente. Vem sendo pensada há alguns anos e começou a ser colocada em prática em 2016. Entre os principais objetivos dessas mudanças, que buscam garantir a perenidade e a evolução da FAB, estão a reorganização administrativa e operacional da força.
Buscamos a melhoria contínua dos processos e o aumento da efetividade dos recursos disponibilizados para a força, sejam humanos ou materiais, em sua atividade-fim. Neste ano [2017], ficou mais evidente devido às transferências de alguns esquadrões aéreos, a segmentação das áreas de treinamento e de operação. Ainda teremos algumas mudanças que devem ocorrer até o primeiro trimestre de 2018, como novas transferências de esquadrões aéreos.
Os objetivos serão alcançados gradativamente e as adaptações terão continuidade, já que o processo de reestruturação é algo dinâmico e estamos buscando correções ao longo de sua implantação. Nossa grande meta é que a instituição chegue mais preparada em 2041, quando completar cem anos.
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