Avançam no País os estudos para o desenvolvimento de novas técnicas para a produção de biocombustíveis de segunda geração, aqueles produzidos a partir de biomassa e não por meio da fermentação do açúcar da can
Há duas rotas de desenvolvimento: os processos bioquímico e termoquímico. A mais avançada é a pesquisa de processos termoquímicos por meio da queima com pouco oxigênio do bagaço e da palha da cana.
Universidades e institutos de pesquisas, como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a Universidade de São Paulo (USP) e o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), com apoio de empresas como Braskem, Oxiteno, Raizen (Shell e Cosan), Petrobras e Vale estão investindo em uma planta de gaseificação no campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba. O projeto exigirá investimentos de R$ 80 milhões – R$ 70 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Governo de São Paulo e R$ 10 milhões das empresas.
"Estamos negociando a propriedade intelectual com as empresas, um ponto fundamental para o BNDES, que pré-aprovou o projeto, liberar o financiamento", diz Fernando Landgraf, diretor de inovação do IPT. O processo permitirá dobrar a produção de biocombustíveis como o etanol em menor área de plantio por aproveitar o bagaço e a palha da cana, que representam dois terços da parte sólida do vegetal.
"Cada empresa que está apoiando o projeto tem um interesse específico", diz Landgraf. A Vale está de olho em todos os compostos que possam ser utilizados como fonte de energia, explica Ivo Fouto, diretor responsável pelos assuntos ligados a biocombustíveis na Vale e presidente da Biopalma. Esta vai atuar na produção de biodiesel a partir do óleo de dendê cultivado na região do Vale do Acará e Baixo Tocantins, abrangendo sete municípios no estado do Pará. Em janeiro, a Vale adquiriu participação de 70% do controle da Biopalma por US$ 173,5 milhões.
Segundo Fouto, a empresa já realizou a metade do plantio e a primeira das seis unidades de extração começa a operar no fim do ano. A planta de produção de biodiesel começa a funcionar em 2014. A expectativa é de atingir a produção anual de 500 mil toneladas em 2019, quando a lavoura atingir sua maturidade. O B20 (mistura de 20% de biodiesel e 80% de diesel comum) será utilizado para alimentar a frota de locomotivas, máquinas e os equipamentos de grande porte da Petrobras no Brasil. Esse biocombustível tem mais biodiesel que a mistura padrão brasileira, de 5%.
A mineradora também fomenta, por meio do Instituto Tecnológico, o desenvolvimento de novas técnicas que ainda estão em fase experimental. É o caso da produção de biocombustíveis de segunda geração pelo processo bioquímico enzimático e de síntese biológica.
Nessa área, uma das pesquisas mais avançadas é desenvolvida pela Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com a Universidade de Tingshua, na China, para a criação de um novo processo de utilização de enzimas na produção de biodiesel. A tecnologia será testada em usina piloto, a ser instalada no Instituto Internacional de Mudanças Globais (IVIG), e os pesquisadores da Coppe avaliarão os custos de produção de biodiesel com o uso dessa tecnologia, com base na realidade brasileira. Uma das vantagens é o melhor aproveitamento do óleo e seus resíduos. Segundo Luiz Pingueli Rosa, diretor da Coppe, a ideia é quebrar a hegemonia da soja na produção do biodiesel.
"A enzima permite processar uma variedade maior de insumos como o dendê que tem uma vantagem energética maior, com mais produtividade por hectare", observa Rosa. Outro projeto, na área de biocombustíveis, desenvolvido no Brasil pela Coppe, em parceria com o Instituto de Química da UFRJ, também já suscitou o interesse dos chineses. Trata-se da produção de etanol a partir do bagaço de cana, que vai permitir duplicar a produtividade do etanol sem ser necessário aumentar a área plantada ou competir com a produção do açúcar ou qualquer outro alimento.
Na Coppe, o projeto está sendo desenvolvido por pesquisadores do IVIG. Eles querem combinar seu conhecimento sobre biodiesel com o do Instituto de Química sobre hidrólise, um processo químico estudado por diferentes grupos de pesquisa no Brasil, devido a sua aplicação na produção de etanol.
O Instituto Nacional de Tecnologia também participa do projeto e integra um consórcio com uma empresa brasileira para disputar os recursos de uma chamada lançada pelo BNDES e a Finep no âmbito do Plano Conjunto BNDES/Finep de Apoio a Inovação Industrial dos setores sucroalcooleiro e sucroquímico (PAISS). Segundo Viridiana Santana Ferreira, pesquisadora do INT, o instituto estuda o uso do bagaço e da palha da cana para geração de biocombustivel por meio do processo de pré-tratamento e hidrólise enzimática. Esse processo vem sendo procurado por empresas estrangeiras interessadas nas pesquisas.
"Após os testes na planta piloto, que entrará em produção em 2012, a ideia é chegar na escala de demonstração que resultará na criação de uma mini usina de segunda geração. Ela será instalada ao lado de uma usina de primeira geração", adianta.
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) é outro instituto que participa de consórcio para disputar os recursos do PAISS. Segundo Jaime Finguerut, gerente de desenvolvimento estratégico industrial, o CTC iniciou os estudos dos processos bioquímicos em 1997 em parceria com a Dedini. A linha adotada na época, baseada no uso de ácido como catalisador, não se mostrou economicamente viável.
Em 2007, os pesquisadores passaram a estudar o processo enzimático em parceira com a NovoZymes, fornecedora de enzimas. Pelo acordo, o CTC desenvolve o processo e a empresa, as enzimas adequadas. "O CTC já completou todo o processo em escala piloto. Agora, está trabalhando na engenharia da planta de demonstração que deverá ficar pronta em 2012. A expectativa é que o projeto trabalhe em escala industrial em 2014", explica Finguerut.