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Aviões podem ganhar ”índice de turbulência”

Glauber Gonçalves

Horário de saída, previsão de chegada e número do portão de embarque. Além dessas informações, que o passageiro já está acostumado a checar nos painéis dos aeroportos, projeto de lei na Câmara dos Deputados pretende instituir o "índice de turbulência aérea". Polêmica, a proposta do deputado federal Doutor Ubiali (PSB-SP) é condenada pelo setor e divide os passageiros.

Na avaliação de especialistas, a obrigação de utilizar um sistema desse tipo – que indica o nível de turbulência de cada voo em uma escala de um a cinco – vai elevar os custos das companhias aéreas, que já operam com margem bastante estreita.

Apesar de hoje as empresas terem acesso a informações meteorológicas que indicam a probabilidade de turbulência, esses dados não são expressos em forma de índice.

Para a elaboração dos dados, as aéreas teriam de investir mais em tecnologia, o que pode pesar especialmente para as companhias com frotas pequenas. Mas, a preocupação é também com as perdas comerciais que o índice pode gerar. O temor é de que os passageiros comecem a rotular determinadas companhias de "turbulentas", evitando voar por elas.

Ubiali justifica o projeto afirmando que a divulgação do índice dará mais segurança aos voos. "Um voo com turbulência muito grande pode causar transtornos a uma pessoa com síndrome de pânico. A pessoa perde o controle, pode se levantar e provocar um acidente, colocando as outras em risco", diz.

Ele defende como justificável o investimento e diz que, ao saber da probabilidade alta de turbulência, o passageiro pode desistir do voo.

Sem sentido. Para o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), o projeto é "sem sentido". O porta-voz do sindicato, Jorge Honório, afirma que não há tecnologia disponível para determinar o índice de turbulência, já que as condições meteorológicas nas rotas variam muito.

"As companhias já cumprem um ritual para deixar o passageiro o mais informado possível, de acordo com o que há hoje de tecnologia. Assim que sabe que vai haver nuvens pesadas ou chuva na rota, a empresa avisa que vai ter de fazer desvio", diz.

Prestes a embarcar do Rio para Vitória, o médico José Raft, 63 anos, também não gostou da ideia. "É um complicador", diz, apontando para a longa fila do check-in. "Estou há dez dias fora de casa e tenho de voltar para trabalhar. Se houver turbulência, vou ter de viajar de qualquer forma", declarou, ressaltando que prefere não saber o índice de turbulência.

Já a analista de sistemas Denise Figueiredo, 42, aprovou a ideia. "É interessante, porque tem muita gente que tem medo, pânico, o que não é o meu caso", disse. Acompanhada da filha de cinco anos, ela disse que não desistiria de voar, mesmo com possibilidade de turbulência forte. "Não sou especialista, então se as autoridades dizem que há condições de voar, eu confio", afirmou, antes de embarcar para Campinas.

TAM, Gol e Webjet não quiseram comentar o assunto. Trip, Azul, Avianca, Passaredo e NHT não responderam até o fechamento desta edição.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) recebeu o projeto, mas só vai se posicionar depois de analisá-lo. A autarquia também diz que, caso seja realizada uma audiência pública, está à disposição da Câmara para participar das discussões.

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