(M + I) x E; motivação, iniciativa e estudo: essa foi a fórmula utilizada pelo Tenente Aviador Oswaldo da Costa Neto para desenvolver um novo simulador para a aeronave P-95M Bandeirante Patrulha. E
m uso no Esquadrão Netuno (3º/7º GAV), localizado na Ala 9, em Belém (PA), desde o início de setembro, o equipamento colabora na formação dos pilotos de P-95 modernizados.
“O painel da aeronave atual é totalmente diferente do anterior. Ainda não há nenhuma plataforma oficial de treinamento para as novas versões do avião”, explica o piloto. Da motivação em ajudar os pilotos do esquadrão a ter um melhor preparo, veio a iniciativa.
Em dezembro de 2016, após uma conversa com outros aviadores sobre a importância do simulador, o Tenente Neto tomou uma decisão: iria construir um. Para isso, noites e fins de semana viraram dias úteis. Apesar de não conseguir mensurar as horas trabalhadas, ele explica que, em 2017, quase não sobrou tempo para se dedicar à família. Quem corrobora é a esposa, Vanessa: segundo ela, o projeto começou dentro de casa, mas aos poucos foi tomando corpo e apresentado ao comandante do Esquadrão Netuno, que imediatamente apoiou a ideia.
Ela conta que descobriu uma gravidez no primeiro semestre deste ano e que a dedicação do pai de primeira viagem foi intensificada, com o objetivo de concluir o projeto antes da chegada da pequena Beatriz, prevista para novembro. “O olho dele brilhava a cada nova descoberta na área de computação.
Ele aprendeu tudo sozinho, sem ajuda de pessoas ou cursos, com muita dedicação para transformar erros em acertos”, afirma Vanessa. Como não tinha conhecimento na área de engenharia, o aviador se fiou aos livros. “Eu percebi que havia todo o material para estudo disponível na internet, gratuito, bastava apenas um pouco de força de vontade para aprender”, disse.
Segundo ele, as partes que mais exigiram dedicação foram a integração de hardware e software e a necessidade de desenvolvimento de algoritmos que possibilitassem o funcionamento dos instrumentos virtuais.
O Tenente Neto explica que foi preciso trabalhar, principalmente, em modificações nos sistemas de navegação e de comunicações e na introdução do conceito de glass cockpit. “Trata-se de um conceito de integração de diversos sistemas e informações da aeronave em telas capazes de mostrar tudo que o piloto precisa, em um espaço condensado e muito mais prático de ser visualizado.
Em vez de vários instrumentos analógicos, tipo relógios, para cada instrumento, o glass cockpit permite que o piloto veja tudo o que precisa em display eletrônico”, explica o aviador. O painel com os botões e interruptores foi todo feito artesanalmente, com materiais comprados em uma loja de eletrônica comum, além do reaproveitamento de algumas peças descartadas de aeronaves.
Ao final do projeto foi preciso adquirir três televisores para gerar as imagens. A solução “caseira” gerou uma economia quase incomparável, segundo o Comandante do Esquadrão Netuno, Tenente-Coronel Celso Marques de Oliveira Neto. “Enquanto o simulador desenvolvido pelo Tenente Neto custou em torno de R$ 24 mil, um similar no mercado – se existisse no mercado – poderia estar na casa dos milhões”, compara. No novo simulador, é possível treinar diversos procedimentos.
Na estação do instrutor (pilot not flying) é possível selecionar a operação em vários aeródromos do Brasil, em qualquer situação meteorológica, desde o céu claro, conhecido na linguagem aeronáutica como cavok, até grandes turbulências e visibilidade nula. Além disso, é possível selecionar emergências durante o voo, como falha ou fogo do motor, falha elétrica total e até colisões com pássaros.
Embora o simulador já esteja sendo utilizado pelos pilotos de patrulha do Esquadrão Netuno, o tenente avalia que ele ainda está em desenvolvimento. Ele pretende desenvolver algumas funcionalidades, como um instrumento de radar meteorológico, além de melhorias na performance da aeronave virtual – de modo que os parâmetros de motor fiquem mais fidedignos ao real.
O Tenente Neto diz que, por mais que tenha desenvolvido conhecimento técnico, o maior aprendizado na condução do projeto foi o da importância da adaptabilidade – característica que, segundo ele, é inerente ao militar. “Não há dificuldade insuperável e nem problema que seja intransponível, desde que haja a motivação suficiente e muita força de vontade”, diz ele.