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O antivírus do Kremlin?

Rodrigo Loureiro

No dia 5 de maio, especialistas de agências públicas de segurança digital dos Estados Unidos foram questionados por senadores americanos se confiavam nos programas da Kaspersky Lab. A resposta veio em alto e bom som: não. Começava ali o pesadelo da empresa russa famosa por seu antivírus homônimo.

Com 400 milhões de usuários em todo o mundo, segundo dados da própria empresa, a companhia passou a ser suspeita de espionar o país americano e enviar dados sensíveis diretamente para Moscou.

O governo de Donald Trump, então, proibiu o uso dos softwares russos em computadores utilizados no setor público americano. Varejistas como Best Buy, Home Depot e Staples também retiraram os produtos da Kaspersky de suas prateleiras. “Estamos presos no meio de um confronto geopolítico”, afirmou Eugene Kaspersky, CEO e fundador da empresa, em entrevista à DINHEIRO.

“Essas alegações estão sendo feitas sem qualquer evidência.” Apesar da declaração de Eugene, a situação é bem complexa. Na última quarta-feira 25, a Kaspersky confirmou que, em 2014, conseguiu acesso a documentos confidenciais da Agência Nacional de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) colhidos diretamente de um computador de um funcionário do órgão americano.

Segundo a empresa, o usuário daquela máquina havia tentado usar uma versão pirata de um dos programas do Office e, quando o antivírus descobriu uma ameaça, acabou identificando também potenciais riscos em arquivos confidenciais salvos na máquina.

Como prática de segurança, os arquivos foram enviados para análise na sede da empresa. Lá, segundo a Kaspersky, foram imediatamente deletados. “O software é feito por pessoas e pessoas cometem erros”, diz Eugene. “Não podemos dar uma garantia absoluta de que não há problemas de segurança em nossos produtos.”

Especialista em cibersegurança da consultoria 4CyberSec, Rafael Narezzi concorda. “Nenhuma empresa está realmente segura.” Verdade ou não, a situação da Kaspersky se tornou, no mínimo, delicada. “Qualquer tipo de acusação, mesmo que infundada, gera um impacto negativo muito grande”, afirma Pedro Hermano, sócio-fundador e especialista em planejamento de marcas da agência digital 242. “Agora é controle de danos.”

Para tentar pôr fim à desconfiança, a empresa lançou um programa de transparência global. A iniciativa vai permitir que os produtos da companhia sejam analisados por especialistas em segurança e funcionários do governo americano. “As cobranças definitivamente nos transformaram em uma das empresas mais transparentes de segurança cibernética do mundo”, diz Eugene. “Um homem sábio uma vez me disse que sempre há algo de bom nas piores coisas.” Para o bem da Kaspersky, é melhor isso seja verdade.

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