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GenEx Pinto Silva – A Integração da Eurásia do Século XXI.

A INTEGRAÇÃO DA EURÁSIA DO SÉCULO XXI.

(Um trabalho de pesquisa)

                                                                                 

Carlos Alberto Pinto Silva [1]

 

Quando caiu a União Soviética, em 1991, a esperança dos liberais e democratas russos era a de que a nova Federação Russa, dotada de uma nova economia de mercado e liberdades políticas, “voltaria à Europa”.

Os líderes russos demonstraram interesse em participar das instituições ocidentais, como, por exemplo, a OTAN e a União Europeia, mas tais medidas não ofereceram o nível de inserção e envolvimento na tomada de decisões que Moscou imaginava.

A Rússia foi, então, admitida nos organismos de segundo escalão do continente, poucos perceberam que a Rússia recusaria a condição prévia da total integração ao ocidente: a aceitação do mundo unipolar com poder hegemônico dos Estados Unidos.

Assim, em vez de integrar a Rússia ao sistema euro-atlântico, os americanos e os europeus ocidentais começaram a se proteger contra o potencial renascimento das grandes ambições de Moscou.

Depois da intervenção militar na Ucrânia e da anexação da Crimeia, das tensões geopolíticas subsequentes, da crise econômica que se abateu sobre a Rússia e das sanções ocidentais contra o país, o povo russo chegou à conclusão inarredável de que os meios de comunicação europeus e estadunidenses tinham tomado um caráter antirrusso.

O sucesso da empreitada na Ucrânia e sua aprovação em terras russas mostraram que há na Rússia um conservadorismo imensamente alicerçado moral e politicamente. O presidente russo Vladimir Putin mantém firme uma “escalada conservadora”.

Forjou-se, para muitos russos, um cenário ideológico em que “o ocidente” é constituído de inimigos claramente voltados contra a “civilização russa”.

A Rússia desenvolveuuma “narrativa útil” para justificar a ação de agressão a país na   sua Área de Influência. A narrativa repousa em uma “identidade de vítima”, na qual ela, Russia, está sob constante ataque do Ocidente – politico, cultural e territorial.

 Relembrando conceitos da Geopolítica:

Um professor de OXFORD, Sir Halford Mackinder (1861-1946) foi o precursor da tese da predominância do poder terrestre sobre o poder marítimo. Para Mackinder, a região central da Eurásia era o “pivot” da política do mundo, em torno da qual giravam todos os problemas internacionais:

– “Quem governar a Europa oriental comandará o “Heartland” (Coração da Terra);

– “Quem governar o “Heartland” comandará a “Ilha do Mundo”;

– “Quem governar a “Ilha do Mundo” comandará o mundo”.

O “Heartland” seria a maior fortaleza natural da Terra e sua extensão e recursos naturais de tal ordem que, se adequadamente organizados, habilitariam seu possuidor o domínio do mundo.

“A Ilha do Mundo” nada mais é do que a Eurásia, conjunto da Ásia e o seu prolongamento ocidental que é a Europa, e o continente Africano”.

Haushofer[2], general e professor alemão, idealizou uma Eurásia politicamente unida sob a hegemonia da Alemanha, por ser essa nação mais culta e líder natural de suas companheiras de aliança. 

A integração da Eurásia3 seria o novo heartland deste século?

Nunca será excessivo salientar a relevância da cooperação estratégica Rússia-China coordenando todas as suas políticas para a integração da Eurásia e associação de interesses comuns.

" 'Um Cinturão uma Rota da Seda' e a União Econômica Eurasiática (UEE)[3] visam a cooperação econômica e o desenvolvimento de longo prazo na Eurásia, laços comerciais livres, vias de transporte desenvolvidas e amizade", disse Jia Pujing.

A Rota da Seda, rememorando, é um acordo entre 68 países que reúnem uma população de 4,4 bilhões de pessoas e 40% da economia global. A nova Rota da Seda chinesa, inaugurada pelo governo do atual presidente Xi Jinping ,reforça a ânsia do país em ampliar sua posição como potência global e vem, aos poucos, captando a atenção de líderes ao redor do globo.

Formando um cinturão econômico, Pequim investe em países que, em troca, facilitam as negociações comerciais com a China. Construção e reforma de portos e aeroportos, incentivos fiscais relacionados à importação e exportação são algumas das estratégias que já vêm sendo implementadas. Alemanha e França participam do esforço para a construção da infraestrutura.

Os presidentes da China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão assinaram um documento que concretiza a decisão de dar por terminado o processo de adesão da Índia e do Paquistão, que a partir da cúpula de junho deste ano se tornaram membros permanentes da Organização de Cooperação de Xangai (OCX).

Com os dois novos membros, o grupo passa a representar mais da metade da população mundial e cerca de 25% do PIB global, além de reunir quatro das nove potências nucleares reconhecidas do planeta. Na fila para a admissão como próximo membro pleno, está o Irã, outra das potências emergentes que estão balizando o novo cenário global multipolar. Outros membros observadores são o Afeganistão, Bielorrússia e Mongólia, enquanto o Azerbaijão, Armênia, Camboja, Nepal, Turquia e Sri Lanka são parceiros de diálogo.

Para a Rússia o mais importante na defesa dos seus interesses seria uma ligação multilateral forte com os principais países da OCX.

A Organização pode favorecer a ambição geopolítica russa de abrir passagem desde do Sul do Cáucaso para mares quentes do Oceano Índico.[4]

O conhecido cientista político russo Aleksandr Dugin, um dos grandes entusiastas da integração Eurasiática, ressalva que a OCX não pretende ser um contraponto asiático à OTAN. “A OCX foi criada não como uma ‘OTAN asiática’, mas como uma estrutura eurasiática que se opõe à globalização. A união de grandes Estados asiáticos que possuem uma enorme capacidade econômica e enormes forças estratégicas é um passo sério para a institucionalização de um mundo multipolar”, disse ele à Sputnik News (Sputnik Brasil, 10/06/2017).

O principal objetivo político da Rússia, conforme descrito pelo Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, é ver o fim da ordem mundial dominada pelo Ocidente.

Essa “nova” política asiática da Rússia corre o risco, entretanto, de ser um conto de fada, pois ao depender demasiadamente da China dada a atual prioridade chinesa para a conquista de maior influência na configuração global do poder, não pela via bélica e sim pela via dos mecanismos frios da economia, o que implica boas relações com parceiros ocidentais de peso, a começar pelos EUA e UE.

O Brasil deve ficar atento ao que está acontecendo na Eurásia, por ser importante sua participação política, econômica, e no setor de serviços (Construção da infraestrutura necessária), valendo-se da sua condição de membro dos BRICS.

 

 

Fontes de consulta:

– Um Raio X da Rússia no cenário global atual. (Série completa).  http://passapalavra.info/2017/03/111544 

– O peso da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) na geopolítica mundial.  19/06/2017 Geografia News.

– Eurásia, o pesadelo que atormenta Washington.– Diário da Liberdade – Segunda, 17 outubro 2016.

– Rússia e China estão prontas a começar 'revolução do transporte' na Eurásia – © Sputnik/ Sergei Guneev – Ásia e Oceania.

– Making Sense Of Russian Hybrid Warfare: A Brief Assessment Of The Russo–Ukrainian War. By Amos C. Fox E Andrew J. Rossow         – The Institute os Land Warfare Associaion of The United Startes Amy.

– A ilusão da convergência — Rússia, China e os BRICS – Ideias & Debates – (A chave para a viabilidade dos BRICS reside na interação    efetiva entre seus dois principais atores, a Rússia e a China. Por Bobo Lo) – Publicado em Passa Palavra.

– A Organização de Cooperação de Xangai: Quão séria é a ameaça ao domínio mundial norte-americano? 10 de setembro de 2012. Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar.

– Índia e Paquistão reforçam Grupo de Xangai rumo à multipolaridade

 

 

 


[1]  General-de-exército da reserva, ex-comandante de Operações Terrestres (COTer), do Comando Militar do Sul (CMS) e do Comando Militar do Oeste (CMO), e Membro da Academia Brasileira de Defesa e do CEBRES.

[2] Haushofer foi o maior incentivador de uma aliança da Alemanha com a Rússia e o Japão.

[4]  Índia, Paquistão e futuramente Irã.

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