A usina hidrelétrica de Itaipu vai exercer um papel importante na estratégia do Operador Nacional do Sistema (ONS) para enfrentar a crise hídrica que afeta o Brasil no segundo semestre.
A afirmação é do diretor-geral do órgão, Luiz Eduardo Barata, que esteve em Foz do Iguaçu (PR) nesta sexta-feira (6) para participar do painel de encerramento do 8º Seminário Nacional de Operadores de Sistemas e de Instalações Elétricas (Senop).
Segundo Barata, a decisão do ONS é de, a partir deste mês de outubro, elevar a produção de Itaipu e deplecionar o nível do reservatório, preservando assim os reservatórios equivalentes da região Sudeste. “Ao aumentar o despacho [de carga] de Itaipu, nós aumentamos a acumulação das usinas de cabeceira”, disse o executivo.
Nesta sexta-feira, já estava em 218,8 metros e poderá chegar a 216 metros – conforme solicitação do operador nacional. “Essa contribuição de Itaipu é extremamente importante porque poderemos ter um ganho de até 1% nos reservatórios do Sudeste”, afirmou.
Luiz Eduardo Barata salienta que essa operação não é inédita – já foi feita em outras situações de crise hídrica – e não terá impacto negativo nem para a usina nem para os municípios lindeiros ao Lago de Itaipu. “Vai ser uma excelente contribuição para o Sistema Interligado Nacional”, reforçou.
Além de Itaipu, Barata disse que o ONS pretende utilizar parte da água da Hidrovia Tietê-Paraná na geração de energia – tomando o cuidado de não prejudicar a navegação – e ampliar a geração de termelétricas de baixo custo.
“O foco é reduzir o custo de operação do sistema e aumentar a nossa segurança.” O diretor-geral da ONS garantiu que, apesar da falta de chuvas, o abastecimento de energia está assegurado no País.
“Essa é a nossa convicção. O que temos chamado a atenção é que, em função da crise hídrica, e da grande participação das hidrelétricas na matriz, a falta de chuvas faz com que o custo de operação aumente. E, aumentando o custo de operação, você tem impacto direto nas tarifas.”
O diretor-geral brasileiro de Itaipu, Luiz Fernando Leone Vianna, informou que o deplecionamento do reservatório será avaliado no final do mês pelo Conselho de Administração da empresa, por se tratar de usina binacional. Segundo ele, os paraguaios estão conscientes da necessidade de utilização do reservatório.
Senop
A 8ª edição do Senop terminou nesta sexta-feira (6) com a apresentação de cinco artigos técnicos e a realização do painel “Atualização tecnológica com base para a inovação nos processos da operação em tempo real”, com a participação de representantes de Itaipu Binacional, ONS, Ministério de Minas e Energia e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O diretor da Aneel, José Jurhosa Junior, elogiou a iniciativa e disse que o seminário é importante porque “visa fortemente os operadores, que é, em última instância, quem segura no dia a dia o nosso sistema funcionando”. “São os operadores que dão o primeiro combate e mantêm de forma bastante estável o nosso sistema”, afirmou.
Para Luiz Eduardo Barata (que trabalhou na Itaipu de 1982 a 1992, na Operação e como superintendente de Engenharia), o seminário ganha relevância no momento atual. “Falamos em crise hídrica, mas o sistema elétrico enfrenta uma série de transformações que já são realidade no resto do mundo, como a intensificação das fontes renováveis e intermitentes, o uso de baterias e o aumento do poder de atuação do consumidor”, disse.
“Isso torna a operação muito mais complexa e cada vez mais o papel do operador se torna relevante. É preciso que ele esteja capacitado e tenha instrumentos para reagir a essas mudanças todas que acontecem no tempo real”, completou. “Atingimos os objetivos e superamos todas as nossas metas: financeiras, técnicas e de satisfação dos participantes. Constato que, nesta 8ª edição do Senop, está configurada a integração entre a operação das instalações e dos sistemas”, avaliou o coordenador técnico do seminário, Delfim Maduro Zaroni, do ONS.
Coordenador geral do seminário, Celso Torino chamou a atenção para o fato de o evento promover encontros entre colegas (da operação de sistemas e de instalações) que muitas vezes só se conheciam por telefone. “Eu acho que [o Senop] foi uma oportunidade que os operadores tiveram de se aproximar e de se tornarem mais parceiros.
Porque quando você conhece o outro além do terreno exclusivamente técnico, começa também a criar uma relação de time, de parceria, de ajuda mútua. E um começa a cuidar do outro. Essa é uma situação que reflete positivamente no trabalho”, afirmou. Na cerimônia de encerramento, os organizadores anunciaram que a próxima edição do Senop, em 2019, será em Florianópolis, organizada pela empresa Engie Brasil.