Marcio Dolzan
Um helicóptero do Exército sobrevoou a Rocinha e lançou panfletos pedindo aos moradores que denunciem a localização de criminosos ou armas. Os papéis foram jogados na manhã desta terça, 26, no quinto dia de cerco de soldados das Forças Armadas ao morro da zona sul carioca. Os panfletos tinham informações sobre o Disque-Denúncia e traziam a inscrição “Ajude o Rio de Janeiro. Denuncie crimes e atividades suspeitas.”
O serviço está oferecendo uma recompensa de R$ 50 mil a quem der informações que levem ao paradeiro de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, atual chefe do tráfico na Rocinha. Sua captura é considerada crucial para tentar devolver a tranquilidade à favela.
Segundo um delegado da Polícia Federal, Rogério chegou a negociar uma rendição com a PF, mas a negociação não foi concluída. A 11ª DP (Rocinha), que concentra as investigações na comunidade, já identificou 59 envolvidos nos confrontos que começaram no dia 17.
Pelo menos um deles, Emanuel Bezerra de Araújo, 19 anos, conhecido como Maicon ou Playboy, foi preso no domingo após denúncia. Teria sido feita por uma moradora da favela.
Entenda o que desencadeou a onda de violência na Rocinha
A atual onda de intensos tiroteios na Rocinha começou no domingo passado, 17, quando o chefe do tráfico de drogas no morro, Rogério Avelino da Silva, conhecido como Rogério 157, se desentendeu com o seu antecessor, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, preso desde 2011.
No domingo, os tiroteios deixaram um morto. Nem estaria insatisfeito com a atuação de Rogério 157 e teria tentado expulsar o seu grupo da favela, por meio de ordens dadas de dentro da prisão.
A relação pode ter piorado depois da união da ADA com a facção paulista PCC. Já Rogério teria matado aliados de seu antecessor e mandado expulsar Danúbia de Souza Rangel, mulher de Nem, do morro. Em represália, Nem teria incitado criminosos da ADA de outros morros, como Vila Vintém, Morro dos Macacos e São Carlos a tentar retomar a favela.
A tentativa, porém, foi frustrada, e Rogério continua no alto do morro, segundo informações da Polícia. Danúbia, que é foragida e ostenta alto poder aquisitivo nas redes sociais, também estaria no local.
Os dois corpos carbonizados encontrados pela polícia seriam do grupo de Rogério. Na segunda-feira, 18, o porta-voz da Polícia Militar do Rio, major Ivan Blaz, e o delegado-titular da 11ª DP (Rocinha), Antônio Ricardo, admitiram que sabiam que poderia haver confronto entre traficantes na Rocinha no dia anterior.
Blaz afirmou que a Polícia Militar não agiu com mais força para acabar com o confronto porque a intervenção poderia vitimar moradores. Já Ricardo acrescentou que não sabia que o confronto, que durou cinco horas, "seria desta proporção".
Na quarta-feira, 20, o governador do Rio afirmou que soube na madrugada do domingo que haveria confronto entre traficantes e pediu que a polícia não interviesse, o que causou polêmica. Depois de quase uma semana de tiroteios no Rio, as Forças Armadas foram chamadas na sexta-feira, 22, para cercar a Rocinha – a mais conhecida comunidade da capital -, diante do reconhecimento de que o Estado perdeu o controle na guerra deflagrada pelo crime.
Ao todo, 950 homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica estão mobilizados, além de dezenas de blindados e helicópteros. Mais três batalhões do Exército, que somam quase 3 mil homens, estão prontos, caso a situação se agrave.
Balanço
Desde o início dos conflitos na Rocinha seis suspeitos foram mortos e outros quatro ficaram feridos, além de um adolescente ter sido atingido por bala perdida. O jovem passa bem. Nove pessoas foram presas em flagrante e outras oito foram detidas no cumprimento de mandados expedidos pela Justiça.