André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos e Membro de Núcleo Brasil
de Estudos Estratégicos da Fundação
Escola de Sociologia e Política de São Paulo
É consenso entre analistas internacionais que o ISIS não conseguirá manter por muito tempo as áreas conquistadas ao norte do Iraque e na Síria e que as operações bélicas da organização estão a beira do colapso. A perda de territórios, as dificuldades crescentes em arrecadar fundos e novos combatentes, situação em parte, originadas pelo monitoramento e vigilância de simpatizantes que se deslocam para aquela região somada a redução das fontes de financiamento, são apontadas como as principais causas.
Contudo, este cenário de enfraquecimento não significa uma vitória final sobre o terrorismo extremista, tampouco a desintegração do ISIS e de suas redes ou o abandono da ideia de estabelecerem um califado. De maneira contrária as expectativas, os reflexos desta conjuntura já se fazem sentir e aponta para uma nova dinâmica. Os esforços da organização, concentrados em um conflito territorial regionalizado, estão sendo pulverizados para áreas urbanas em diferentes regiões, com sérias implicações para a segurança destes locais, face a imprevisibilidade das ações e do baixo custo dos ataques.
A perspectiva é de que a necessidade de manter viva a ideologia extremista a qualquer custo por meio da propaganda, deverá acarretar na intensificação da violência pelo uso massivo de terroristas autóctones, em ações de baixa intensidade, próximas a criminalidade comum, a exemplo do que já vem ocorrendo em centros turísticos da Comunidade Europeia como Nice em junho de 2016, Berlim, Estocolmo e Barcelona, além do Reino Unido, em 2017.
A soma destes atentados, por atropelamentos, no biênio 2016-2017, resultaram até o momento em 123 mortos e 292 pessoas feridas, dados oficiais, número aproximado das mortes causadas por artefatos explosivos e armas automáticas em anos anteriores. Além disso, no mesmo período, 12 pessoas foram mortas a facadas e outras 63 feridas, em atentados de baixa intensidade nos EUA, Reino Unido, Alemanha, Espanha, Finlândia e Rússia, perpetuados por extremistas ligados a ideologia do ISIS.
O problema se acentua se considerado o retorno de combatentes ainda não assinalados pelas agências de inteligência governamentais para os países de origem, formando novos focos terroristas além das dificuldades em monitorar movimentações financeiras de pequeno valor que eventualmente podem ser canalisadas para ações terroristas.
O aumento no número de combatentes suicidas é outra hipótese plausível uma vez que o ISIS triplicou o número de escolas do califado, destinadas a doutrinação e treinamento militar, a exemplo das madrassas na década de 80, que forneceram material humano para as atividades da Al Qaeda. E, inobstante as mortes e prisões de alguns dos autores, realizadas pelas autoridades de segurança, novos episódios acontecem seguindo o mesmo padrão sem que a responsabilização criminal rigorosa ou o risco da perda da vida tenham qualquer significado como anteparo a novos atentados.
Diante do histórico destas ações, restam duas evidencias.
Primeiro, o ISIS aposta em atentados de baixa intensidade e de menor custo que resultam no mesmo efeito psicológico dos classificados como de grande intensidade.
Segundo, os países ainda não estão devidamente preparados para lidar com esta nova tática extremista e tenho dúvidas se existe algo a ser feito para prevenir os ataques sem que se estabeleça um estado policial máximo com redução significativa dos direitos e garantias individuais dos cidadãos, fato que desencadeará um alto custo político para aquelas democracias.
A única certeza é que, ao ler este texto, os números de vítimas e feridos em atentados estarão desatualizados.