Só 3,7 milhões de pessoas haviam votado até as 17h30 do domingo na polêmica eleição da Assembleia Constituinte da Venezuela, de acordo com dados internos do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) vistos pela Reuters, lançando dúvida sobre a afirmação das autoridades de que 8,1 milhões de pessoas participaram da votação.
A eleição do órgão legislativo foi apontada por críticos como ilegítima e concebida para dar ao governo impopular do presidente Nicolás Maduro poderes para reescrever a Constituição e suprimir o atual Congresso dominado pela oposição. Em reação à votação, o governo dos Estados Unidos impôs sanções a Maduro na segunda-feira, chamando-o de ditador por "tomar o poder absoluto".
O baixo comparecimento pesaria muito contra Maduro, especialmente depois de a oposição realizar sua própria votação extraoficial no mês passado e afirmar que mais de 7,5 milhões de pessoas votaram contra a controversa Constituinte convocada pelo governo.
Os documentos, que contabilizam os dados das 14.515 seções de votação da Venezuela, mostram que 3.720.465 pessoas haviam votado até as 17h30 do domingo. "Embora seja possível ter uma arrancada tardia no final do dia, e o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) tentou fazê-lo no passado, dobrar a votação na última hora e meia seria inédito", disse Jennifer McCoy, cientista política que liderou várias missões de observação eleitoral na Venezuela para o Carter Center, que tem sede em Atlanta, nos EUA.
O CNE prorrogou a votação até as 19h, mas se acredita que algumas seções ficaram abertas mais tempo. As autoridades venezuelanas não responderam a um pedido de comentário sobre os dados do pleito.
A Venezuela está atravessando uma grande crise. Milhões de pessoas estão sofrendo com a escassez de alimentos, a inflação em disparada e meses de protestos antigoverno, o que torna ainda mais improvável Caracas ter obtido um comparecimento tão positivo.
As autoridades fizeram muita pressão para que o funcionalismo estatal votasse, até ameaçando demitir que não o fizesse. Vários funcionários receberam telefonemas de chefes ou colegas no final do dia pressionando-os a votarem.
Especialistas eleitorais questionaram o processo de votação, que dizem ter sido repleto de irregularidades, e muitos –inclusive um membro do CNE– duvidaram dos números. "Pela primeira vez desde que assumi este compromisso com o país, não posso garantir a consistência ou a veracidade dos resultados oferecidos", disse Luis Rondon, um dos cinco diretores do CNE, em um comunicado nas redes sociais.
Comparecimento à eleição na Venezuela foi manipulado em ao menos 1 milhão de votos, diz companhia
Os dados de comparecimento à eleição da Assembleia Constituinte na Venezuela foram manipulados em ao menos 1 milhão de votos, afirmou nesta quarta-feira a Smartmatic, uma companhia que tem trabalhado com a Venezuela desde 2004 em seu sistema de votação.
"Nós sabemos, sem nenhuma dúvida, que o comparecimento da recente eleição para uma Assembleia Nacional Constituinte foi manipulado", disse o CEO da Smartmatic, Antonio Mugica, em coletiva de imprensa em Londres.
"Nós estimamos que a diferença entre a participação de fato e a anunciada por autoridades seja de ao menos 1 milhão de votos".
União Europeia diz considerar "ampla gama de ações" sobre Venezuela
A Comissão Europeia está considerando uma "ampla gama de ações" em resposta à crescente tensão na Venezuela, após a prisão de dois líderes de oposição ao governo do presidente Nicolás Maduro, disse uma porta-voz nesta quarta-feira.
"Consultas com Estados-membros estão em andamento para garantir uma resposta apropriada e coordenada pela União Europeia. Obviamente uma ampla gama de ações está sendo discutida", disse a porta-voz da Comissão Europeia a repórteres, sem fornecer detalhes adicionais.
Na segunda-feira, o governo dos Estados Unidos impôs sanções contra Maduro, congelando seus bens que estejam sob jurisdição dos EUA e proibindo norte-americanos de fazer negócios com ele.
Trump diz que Maduro é responsável por segurança de líderes de oposição presos na Venezuela
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que os Estados Unidos consideram o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, "pessoalmente responsável" pela saúde e segurança de dois líderes de oposição presos na madrugada de terça-feira.
Em um comunicado divulgado pela Casa Branca na noite de terça, Trump disse que Leopoldo López e Antonio Ledezma são prisioneiros políticos detidos de forma ilegal pelo governo venezuelano.
"Os Estados Unidos consideram Maduro –que anunciou publicamente horas antes que agiria contra seus opositores políticos– pessoalmente responsável pela saúde e segurança do sr. López, do sr. Ledezma e de qualquer outro preso", afirmou Trump.
López e Ledezma foram levados pelas forças de segurança de suas casas, onde cumpriam prisão domiciliar, após a eleição no domingo de uma polêmica Assembleia Constituinte convocada pelo governo e boicotada pela oposição.