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O líder faz a síntese dos anseios do grupo: um estudo de caso

Coronel R1 Mario Hecksher Neto

Ao contrário do que muitos pensam, a violência que caracteriza o conflito árabe-israelense no Oriente Médio tem raízes e causas relativamente recentes.

Árabes e judeus são dois povos semitas que mantiveram relação de harmonia ao longo da história, inclusive, durante a ocupação árabe na Península Ibérica (711 – 1492), ocasião em que os judeus conheceram um período de liberdade econômica, cultural e religiosa.

Do mesmo modo, as pequenas colônias judaicas no Oriente Médio viveram em paz com a maioria árabe-muçulmana até o final da Primeira Guerra Mundial, não tendo fundamento os argumentos que pretendem explicar o conflito existente hoje, com antagonismos religiosos e raciais seculares.

Trata-se de questão política, gerada por motivações ideológicas, psicossociais e econômicas bastante precisas, que se misturam, de modo mais forte, a partir do surgimento de uma proposta estruturada do movimento sionista (no final do século XIX), que continha, em seu bojo, a criação do Estado de Israel na Palestina.

O presente estudo refere-se a dois líderes do conflito entre judeus e palestinos – Ariel Sharon e Iasser Arafat -, ambos com forte atuação no campo militar e político, homens que souberam fazer a síntese dos anseios de seus povos.

Ariel Sharon, nascido na Palestina, filho de judeus russos, participou de todas as guerras nas quais se envolveram os judeus, desde a criação do Estado de Israel. Sempre foi considerado estrategista brilhante e homem de ação, do tipo que "resolve a questão".

Entretanto, em diversas ocasiões, foi acusado de haver ultrapassado os limites que o bom senso permitia, provocando reações políticas e militares desnecessárias.

Conta-se que, em 1953, numa operação tipo comandos, em uma vila, provocou a morte de dezenas de civis inocentes. Também ficou conhecido por discutir asperamente com os superiores hierárquicos, demorando cerca de nove anos para ser promovido a general.

Não demonstrava ser um indivíduo religioso e não se alinhava aos radicais sionistas. Após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, foi o principal mentor da ocupação da Cisjordânia com assentamentos judaicos, que garantissem a posse daquela região para Israel.

Em 1972, no cargo de ministro da defesa, atacou as forças da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), expulsas da Jordânia e homiziadas no Líbano, de onde apoiavam, militarmente, as facções políticas islâmicas contra os cristãos libaneses, provocando uma guerra civil naquele país, antes considerado a "Suíça do Oriente Médio".

Com o apoio de Israel, os cristãos libaneses, talvez como vingança, teriam massacrado 800 civis palestinos. Mais tarde, Sharon tornou-se o Primeiro Ministro de Israel, posição à qual foi alçado quando os judeus se viram pressionados pelas ameaças das guerrilhas dos radicais islâmicos, que usam o terrorismo sistemático como principal arma.

A política de Sharon sempre foi "olho por olho, dente por dente". Sob suas ordens, o Exército de Israel provocou constantes retaliações contra os terroristas palestinos homiziados entre a população civil, causando a morte de inocentes. Sharon entendia que os judeus nunca deveriam ser fracos novamente.

Iasser Arafat nasceu no Egito e era, aparentemente, homem religioso, embora não fosse fundamentalista islâmico. Quando tinha 30 anos, criou a Al Fatha (A Vitória), grupo terrorista que precedeu a OLP, entidade patrocinada com dinheiro e armas pela extinta URSS.

Era considerado o líder que construiu a identidade e o nacionalismo palestinos. Foi pai aos 73 anos, mas sua mulher e filho viviam em Paris, longe da guerra.

Tornou-se o presidente da Autoridade Palestina em 1994, ocasião em que renunciou, publicamente, ao terrorismo e pareceu entender que não haveria solução puramente militar para o conflito.

Contudo, a partir dessa época, perdeu o controle sobre os fundamentalistas pertencentes a diversos grupos radicais menores, que intensificaram as ações terroristas por meio de mísseis e "homens-bomba", alguns dos quais parecem ter sido treinados desde crianças.

Sharon e Arafat têm algumas características comuns que favorecem a liderança: – eram "homens de ação", visivelmente comprometidos com a causa das respectivas nações.

Foram personagens que não se mantiveram no conforto dos gabinetes, mas que se engajaram pessoalmente na guerra e na política, responsabilizando-se pelos resultados das decisões que tomavam. – revelaram enorme iniciativa, tendo participado ativamente da história recente de seus povos, por meio da implementação de medidas para resolver os problemas existentes. – Sharon procurou garantir a defesa do Estado de Israel, aumentando a área disponível aos judeus e fortalecendo as Forças Armadas.

Já Arafat construiu a identidade e o nacionalismo palestinos. Além disso, buscou novos espaços para os refugiados, empregando a guerra irregular, que usa o terrorismo e a guerrilha como instrumentos. – ambos eram homens de grande coragem, testados continuamente em combate e em confrontos políticos.

É interessante verificar que o atributo coragem sempre surge como importante para a liderança nas situações de guerra. Por fim, nas contínuas crises vividas por seus povos no longo confronto do Oriente Médio, o mais relevante é que os dois líderes foram capazes de fazer a síntese dos anseios de cada grupo: segurança (judeus) e território (palestinos).

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