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Petróleo é bênção e maldição para Venezuela

Um sistema econômico destinado a libertar os venezuelanos da pobreza e de um governo corrupto agora os está matando de fome. Subsídios alimentares, acesso ao ensino superior e ao sistema de saúde eram apregoados por Hugo Chávez como provas de que sua revolução socialista era um sucesso.

Mas foi também nos tempos de Chávez no poder, entre 1998 e 2013, que foram criados dois fatores que estão na raiz da atual crise econômica da Venezuela: a expropriação da indústria do petróleo em nome da nacionalização e a expansão dos produtos importados.

Nicolas Maduro, seu sucessor escolhido a dedo, continuou esta tendência quando assumiu o cargo, em 2013. A Venezuela está enfrentando a pior crise econômica de sua história e a menor produção de petróleo – apenas 2,5 milhões de barris por dia – em 23 anos.

Abaixo, cinco pontos-chave para se entender o que deu errado:

1. Rico em petróleo, pobre em dinheiro

A falta de diversificação está por trás dos problemas econômicos da Venezuela.
De acordo com cifras de 2015 da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo bruto do mundo, com mais de 300 milhões de barris. Isso coloca o país à frente de Arábia Saudita (266 milhões de barris), Irã (158 milhões de barris) e Iraque (142 milhões de barris).

Mesmo que petróleo não seja dinheiro, o governo venezuelano gastou seu dinheiro como se fosse petróleo. A falta de transparência dificulta que se determine números exatos sobre os gastos. O que é certo, porém, é que Chávez colocou o ouro negro no centro de sua economia: mais de 90% das exportações da Venezuela e aproximadamente metade da receita do governo vêm do petróleo.

Quando o preço do petróleo caiu de 115 dólares por barril em 2014 para quase metade disso, o PIB da Venezuela encolheu 10%. O custo de um barril de petróleo tem pairado em cerca de 50 dólares desde o ano passado.

2. Petróleo sem know-how é inútil

Os preços do petróleo não contam toda a história. A abordagem de Chávez para lucrar a partir do petróleo – que foi agravada por seu sucessor – pode ser resumida em uma palavra: má gestão.

A Petróleos de Venezuela (PDVSA), empresa estatal de petróleo da Venezuela, passou por uma greve em 2002, após um golpe fracassado para remover Chávez do poder. Em resposta, ele demitiu cerca de 18 mil funcionários da empresa. A medida marcou o início de uma abordagem intrusiva na gerência da estatal do petróleo.

Em 2006, Chávez começou outro movimento perigoso: minimizando investimentos em infraestrutura e maximizando o controle dos campos de petróleo. A produção caiu, sem a ajuda de tecnologia de ponta de empresas estrangeiras, para não mencionar produtos, como injeções de gás natural para extrair óleo.

No ano passado, Caracas importou 50 mil barris de petróleo leve apenas para preparar petróleo bruto pesado para exportação. Sem ele, o petróleo venezuelano é inútil.

3. Navios-tanque não conseguem entregar

O direito marítimo só permite a navegação em alto mar se os cargueiros cumprirem as normas ambientais, o que não é o caso das envelhecidas embarcações da Venezuela. A PDVSA tem uma série de contas que não consegue pagar por serviços de limpeza dos transportadores. De acordo com uma reportagem recente da agência de notícias Reuters, a espera pela liberação de petroleiros dura até dois meses.

A Rússia tem dado à PDVSA ainda mais motivos de preocupação. Em outubro, o conglomerado estatal de transporte russo Sovcomflot, que fornece 15% dos petroleiros da Venezuela, se recusou a liberar uma embarcação com petróleo venezuelano por causa de 30 milhões de dólares em dívidas.

A Venezuela deve dinheiro em todo o mundo, deixando de pagar por novos petroleiros ao Irã e a estaleiros em Portugal. Notícias de que a PDVSA perdeu, em novembro, o prazo de pagamento de cupons de três de seus títulos de dívidas, no valor de 404 milhões de dólares – títulos com vencimento em 2021, 2024 e 2035 – deixaram os investidores ainda mais preocupados. A empresa negou as notícias, atribuindo o atraso a um problema técnico.

4. O financiamento de Rússia e China

A maior preocupação agora é se a Venezuela vai pedir moratória, deixando de honrar sua dívida soberana. A agência de rating Moody alterou a perspectiva para a Venezuela em 2016 de "estável" para "negativa", à luz da "alta probabilidade" de um calote.

Os bancos internacionais há muito tempo vêm se distanciando de Caracas, que impôs controles cambiais que exigem que as empresas comprem seu dinheiro não através de bancos privados, mas através do governo.

Em 2014, a Venezuela pegou emprestado quase 50 bilhões de dólares da China e estimados 5 bilhões de dólares da Rússia, quando os preços do petróleo eram mais favoráveis. O acordo era para pagar os credores em óleo e combustível. Uma reportagem da agência Reuters de janeiro cita documentos internos, segundo os quais embarques foram atrasados por até 10 meses.

Impossibilitada de extrair mais petróleo e muito menos de enviá-lo rapidamente, a PDVSA tem poucas opções para aumentar seu fluxo de caixa – tornando mais provável uma crise da dívida soberana.

5. Como essa crise pode respingar nos EUA

Um nome muitas vezes ouvido em conexão com a crise da Venezuela é Citgo. A PDVSA comprou a refinaria sediada em Houston na década de 1980. No final de 2016, a estatal do petróleo da Venezuela usou quase a metade de suas ações na Citgo como garantia para empréstimos que recebeu da empresa russa Rosneft.

Embora especialistas financeiros tenham questionado a probabilidade de a Rússia assumir a Citgo se PDVSA deixar de pagar seu empréstimo, os legisladores americanos não têm tanta certeza disso. Em abril, os legisladores republicanos e democratas em Washington advertiram o presidente Donald Trump sobre esses negócios curiosos. De acordo com a carta, o envolvimento russo na empresa baseada em Houston pode representar um problema para a segurança nacional dos EUA.

O único lado bom da crise política na Venezuela é a perspectiva de eleições antecipadas. Manifestações lideradas pela oposição podem desgastar Maduro o suficiente para que ele seja levado a deixar o cargo antes de 2019. Sinais de uma mudança política em direção a uma diversificação econômica e a uma vontade de abrir o mercado a empresas estrangeiras podem elevar a confiança do mercado e salvar a Venezuela de se afogar em seu próprio petróleo.

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