O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, exigirá na sexta-feira (31) na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que os aliados europeus melhorem sua contribuição em defesa, em um contexto de preocupação sobre o compromisso do presidente Donald Trump com a segurança do Velho Continente.
No dia anterior a essa reunião de ministros das Relações Exteriores de 28 países em Bruxelas, Tillerson visitará à Turquia, outro membro-chave da OTAN, para cerrar fileiras com o presidente Recep Tayyip Erdogan na luta contra os extremistas na Síria.
Tillerson provocou consternação na semana passada entre os aliados europeus de Washington precisamente quando seu gabinete anunciou que não compareceria ao encontro previsto inicialmente para 5 e 6 de abril, devido a uma possível visita do presidente chinês, Xi Jinping, aos Estados Unidos.
Diante do mal-estar provocado pela eventual ausência de um ministro de um país fundador da OTAN, foi preciso convencer os outros 27 países membros a adiantar a reunião para o dia 31 de março, com o objetivo de que o chefe da diplomacia americana pudesse participar de sua primeira reunião com a organização.
O objetivo do encontro é preparar a cúpula da OTAN de 25 de maio em Bruxelas, a primeira para Trump, que se reunirá com os aliados, que estão preocupados por suas declarações sobre um "maravilhoso" Brexit e uma OTAN que classificou de "obsoleta".
Política externa isolacionista
O multimilionário foi eleito com um programa de política externa considerado isolacionista. Trump, de qualquer forma, questionou esta classificação durante uma reunião com a chanceler alemã, Angela Merkel, em 17 de março na Casa Branca.
No Twitter, o presidente acusou Berlim de dever "enormes somas de dinheiro" à OTAN e aos Estados Unidos. Em fevereiro, o vice-presidente, Mike Pence, e o ministro da Defesa, James Mattis, elogiaram a força do vínculo transatlântico.
"Disseram claramente que os Estados Unidos seguirão desempenhando um papel para garantir à OTAN as capacidades necessárias para nossa defesa comum e nossa dissuasão", ressaltou na terça-feira (28) um diplomata do departamento de Estado.
"Mas o presidente foi muito claro e seu secretário de Estado reafirmará isso na sexta-feira: os Estados Unidos não podem mais manter uma parte desproporcional dos gastos de defesa e dissuasão da OTAN", advertiu o funcionário.
68% dos gastos acumulados
A primeira potência mundial, com um orçamento anual que Trump quer elevar a US$ 639 bilhões, garante 68% dos gastos acumulados dos 28 estados da OTAN. Mesmo antes da chegada de Trump ao poder, os Estados Unidos já se queixavam de uma desigualdade nos gastos em relação aos seus aliados europeus.
Trump espera que seus aliados melhorem sua contribuição em defesa até chegar ao nível acordado no seio da aliança militar. Em 2014, ela havia fixado como objetivo que cada país membro tenha um gasto de defesa equivalente a 2% de seu PIB no decorrer da próxima década. Até agora, dos 28 membros da OTAN, apenas Estados Unidos, Reino Unido, Polônia, Grécia e Estônia cumprem com esse objetivo.
"Nesse sentido, é fundamental que os aliados cumpram com seus compromissos das últimas duas cúpulas", disse uma fonte do Departamento de Estado, que declarou sob condição de anonimato. "Tillerson pressionará muito forte para que os aliados renovem seu compromisso ao aumentar seus recursos ao gasto em defesa da OTAN", acrescentou.
No entanto, não disse nada a respeito da decisão que os Estados Unidos tomarão caso nos próximos anos o objetivo de 2% não tenha sido cumprido. A aliança atlântica, fundada em 1949 por uma dezena de países ocidentais, também discutirá sobre Rússia e Ucrânia.
Nesta quinta-feira (30) serão realizadas consultas entre embaixadores no âmbito do Conselho OTAN-Rússia, uma instância de diálogo criada em 2002, mas suspensa desde 2014, após a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia e o conflito armado entre Kiev e rebeldes pró-russos no leste da Ucrânia.
Cooperação com a Rússia
Na época, a aliança congelou sua cooperação civil e militar com Moscou. Mas, há quase um ano, o Conselho OTAN-Rússia foi reativado com o objetivo de retomar um diálogo político.
Tillerson, próximo ao presidente russo, Vladimir Putin, quando trabalhava para a ExxonMobil em 2014, "discutirá com seus aliados nosso compromisso para reforçar a segurança no leste da Ucrânia e a necessidade de a OTAN continuar pressionando a Rússia para que deixe de agredir seus vizinhos e respeite os acordos (de paz) de Minsk", comentou o chefe do Departamento de Estado.
O diplomata americano planeja se reunir com seu colega ucraniano, Pavlo Klimkine, em uma comissão OTAN-Ucrânia para reafirmar o apoio da aliança a Kiev. Antes de participar da reunião de Bruxelas, Tillerson se reunirá em Ancara com o presidente Erdogan para conversar sobre a guerra na Síria.
Os aliados turcos e americanos estão em desacordo sobre o papel das milícias curdas – na coalizão árabe-turca – na reconquista de Raqa, reduto do grupo Estado Islâmico.