Ten Glória Galembeck / Ten Emília Maria
O desenvolvimento de um modelo de risco ionosférico para baixas latitudes foi o tema de uma reunião internacional realizada entre os dias 6 e 10 de março com entidades e empresas que pesquisam sobre o Sistema de Aumentação Baseado em Solo, o GBAS, do inglês Ground-Based Augmentation System. O encontro, realizado no Subdepartamento de Operações (SDOP) do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), reuniu representantes da Federal Aviation Administration (FAA), do Boston College e das empresas Mirus, Honeywell, Boeing e companhias aéreas.
A reunião é resultado de um acordo de cooperação bilateral entre o DECEA e a FAA para o aprimoramento do sistema de navegação global por satélite, o GNSS (Global Navigation Sattelite System), que existe desde março de 2000. Os sistemas de navegação por satélite são precisos, porém, a interferência ionosférica pode provocar problemas na refração dos sinais na atmosfera.
Por essa razão, a precisão das informações que chegam até os pilotos das aeronaves fica prejudicada, o que afeta o funcionamento dos sistemas de aproximação e pouso de precisão baseados exclusivamente em satélites. Essa interferência é maior em baixas latitudes, que é o caso da América do Sul.
A partir das discussões realizadas, uma série de atribuições foram distribuídas entre os participantes nas áreas de coleta de dados, análise e processo de gestão da segurança. A expectativa é que o projeto seja desenvolvido durante dois anos e resulte na certificação da estação GBAS do Aeroporto Internacional do Galeão para operações de aproximação a níveis similares aos do ILS CAT-I.
Assim como o ILS, o GBAS possibilita aproximações em condições meteorológicas adversas, com a vantagem de possuir um custo menor de implantação e manutenção.
O GBAS é um sistema que soluciona o problema da interferência ionosférica por meio de antenas instaladas em terra que aumentam o sinal do GNSS. Para se ter uma ideia, um procedimento de aproximação GNSS simples oferece informações seguras até uma altura de aproximadamente 400 pés em relação ao solo.
Por meio das antenas que compõem o GBAS, é feita a correção de erros (aumentação), e esse valor cai para aproximadamente 200 pés, o que diminui a altura de decisão, um fator crítico para operações de aproximação.
“O Plano Global de Navegação da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) coloca o GBAS como uma tecnologia chave para a implementação da navegação baseada em performance. O DECEA, assim como a FAA, reconhece que o GBAS é uma tecnologia crítica para a criação de um sistema CNS/ ATM regional e global de sucesso”, afirmou o Tenente-Coronel Engenheiro Alessander de Andrade Santoro, coordenador do GBAS no DECEA.
Atualmente, existem no mundo oito estações GBAS em funcionamento, localizadas nos Estados Unidos, na Alemanha, na Espanha, na Suíça e na Austrália. A estação GBAS do Aeroporto Internacional do Galeão foi implantada em 2011 e, até 2014, foram realizados testes utilizando as aeronaves-laboratório do Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV).
“Essa etapa entre 2011 e 2014 foi a primeira fase do nosso trabalho, na qual concluímos que o GBAS não poderia ser utilizado no Brasil da mesma forma que é operado no Hemisfério Norte. Nossa missão agora é, por meio dessa cooperação entre Brasil e Estados Unidos, aprofundar as análises para identificar possibilidades que permitam a utilização do GBAS em uma região intertropical”, explicou o Tenente-Coronel Santoro.