O site WikiLeaks disse nesta terça-feira que obteve uma gama de ferramentas ultrassecretas de ciberespionagem usadas pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) para invadir telefones, aplicativos de comunicação e outros aparelhos eletrônicos, e divulgou documentos relacionados a estes programas.
Se confirmada, a informação será mais uma violação de materiais confidenciais roubados de agências de inteligência dos EUA nos últimos anos.
O WikiLeaks, organização liderada por Julian Assange, disse que a publicação dos documentos a respeito das ferramentas de invasão virtual em sua página, www.wikileaks.org, nesta terça-feira, é a primeira de uma série, extraída de um conjunto de dados que inclui várias centenas de milhões de linhas de código e "toda a capacidade de hackeamento" da CIA.
Entre as alegações explosivas feitas nos documentos está a de que a CIA, em parceria com outras agências de inteligência norte-americanas e estrangeiras, está conseguindo violar a criptografia de aplicativos de mensagens populares como WhatsApp, Telegram e Signal.
A Reuters não conseguiu verificar de imediato o conteúdo do material publicado.
"Não comentamos a autenticidade ou o conteúdo de supostos documentos de inteligência", disse o porta-voz da CIA, Jonathan Liu, em um comunicado.
Um consultor de cibersegurança que trabalhou para o governo dos EUA, e que não quis se identificar devido à sensibilidade da notícia, disse que o vazamento parece ser legítimo.
Autoridades norte-americanas afirmaram não estar cientes de onde o WikiLeaks pode ter obtido o suposto material da CIA, e uma fonte do governo disse não estar a par de nenhuma investigação recente ou em curso sobre possíveis vazamentos desde tipo de material da agência.
O WikiLeaks ainda disse que os documentos mostram que agentes da CIA pesquisaram como invadir e controlar dispositivos conectados à internet além de computadores e smartphones.
Em um caso, relatou, funcionários norte-americanos e britânicos envolvidos em um programa conhecido como Anjo Em Prantos desenvolveram maneiras de controlar uma Smart TV da Samsung, fazendo com que ela parecesse estar desligada quando na verdade estava gravando conversas no ambiente.
Autoridades dos EUA souberam de brecha de segurança na CIA em 2016; prestadores de serviços são suspeitos
Autoridades de segurança e da inteligência dos Estados Unidos disseram nesta quarta-feira que estão cientes desde o fim do ano passado de uma brecha de segurança na CIA e estão focando em prestadores de serviços como prováveis fontes de documentos repassados ao grupo WikiLeaks detalhando ferramentas de ciberespionagem da agência de inteligência.
As autoridades, que pediram para não ser identificadas, disseram à Reuters que acreditam que os documentos publicados pelo WikiLeaks na terça-feira sobre técnicas da CIA usadas entre 2013 e 2016 são autênticos.
Investigadores estão se concentrando em prestadores de serviços da CIA como a fonte provável do vazamento de material ao site, afirmaram as autoridades. O grupo publicou o que disse serem quase 8 mil páginas de discussões internas da CIA sobre técnicas de invasão cibernética usadas entre 2013 e 2016.
Os documentos mostram que hackers da CIA podiam acessar aparelhos iPhones, Android e outros para capturar mensagens de texto e voz antes de serem criptografadas.
A Casa Branca disse na quarta-feira que o presidente Donald Trump estava "extremamente preocupado" com uma violação de segurança da CIA que levou à divulgação do Wikileaks, e que o governo seria duro com os autores dos vazamentos.
"Qualquer um que vaze informações sigilosas será atingido pelo mais alto grau da lei", afirmou o porta-voz Sean Spicer a repórteres.
Uma autoridade com conhecimento da investigação disse que as empresas que são contratadas pela CIA têm verificado quais dos seus funcionários tiveram acesso ao material que o Wikileaks publicou e, em seguida, estão verificando os registros de seus computadores, e-mails e outras comunicações.
Uma razão pela qual a investigação está focada em um potencial vazamento por parte dos prestadores de serviço, em lugar de, por exemplo, um hackeamento da inteligência russa, disse outra autoridade, é que até agora não há provas de que as agências de inteligência russas tentaram explorar qualquer material vazado antes de ser publicado.
Uma autoridade europeia, falando sob a condição de anonimato, disse que o material do Wikileaks poderia de fato levar a uma cooperação mais estreita entre agências de inteligência europeias e contrapartes norte-americanas, que compartilham preocupações sobre as operações de inteligência russas.
As agências de inteligência norte-americanas acusaram a Rússia de tentar influenciar as eleições presidenciais dos EUA no ano passado em favor de Trump, incluindo a invasão de emails do Partido Democrata. Moscou negou a alegação.
Um dos principais problemas de segurança foi que o número de prestadores de serviços com acesso à informação de mais alto sigilo "explodiu" devido a restrições orçamentárias federais, disse uma autoridade dos EUA.
A Reuters não pôde verificar imediatamente o conteúdo dos documentos publicados. Na terça-feira, vários prestadores de serviços e especialistas em segurança cibernética disseram que os materiais pareciam legítimos.
Nesta quarta-feira, a procuradoria federal da Alemanha disse que irá analisar os documentos do WikiLeaks porque alguns deles dão a entender que a CIA opera um centro de ciberespionagem no consulado de Frankfurt.
"Estamos analisando isso muito cuidadosamente", disse um porta-voz da procuradoria federal à Reuters. "Iremos iniciar uma investigação se virmos indícios de atos criminosos concretos ou de perpetradores específicos."
As revelações mais recentes surgiram dias antes de uma visita programada da chanceler alemã, Angela Merkel, a Washington para um primeiro encontro com Trump, que criticou Berlim duramente em tópicos que vão de sua política externa ao que considera níveis inadequados de gastos militares.
Trump está "extremamente preocupado" com vazamento da CIA pelo Wikileaks, diz Casa Branca
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está "extremamente preocupado" com uma violação de segurança na CIA que levou o grupo WikiLeaks a publicar documentos da agência sobre ferramentas de ciberespionagem, disse a Casa Branca nesta quarta-feira.
O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, afirmou em um briefing que o governo Trump pretende ser firme com vazamentos.
"Qualquer pessoa que vazar informações confidenciais será tratada no mais alto nível da lei. Nós iremos atrás das pessoas que vazam informações confidenciais, vamos processá-las até o limite máximo da lei", disse ele.