Assis Moreira
A Rússia propôs ao Brasil reforçar o Brics, alargando a aliança dos emergentes para reforçar o diálogo e seu peso na governança global. O Valor apurou que a ideia não é alterar o número original de sócios do grupo – hoje são Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – mas ter uma espécie de "Brics ampliado", passando convidar outros países em base mais permanente para seus encontros.
A Argentina, Indonésia e Malásia poderiam estar entre os países que se juntariam a esse "Brics ampliado", sem no começo serem sócios, segundo o plano de Moscou.
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, levou a ideia ao ministro brasileiro José Serra, em encontro bilateral pedido pelo russo, à margem da reunião de ministros do G20. Serra ficou de examinar a proposta.
Para Moscou, é importante que, além do diálogo político, o Brics desenhe instituições mais econômicas, estreitando relações de negócios entre os emergentes.
Curiosamente, a Rússia se opôs inicialmente à criação do Banco de Desenvolvimento do Brics, hoje sediado em Xangai. Mas depois se incorporou com gosto ao projeto, tendo inclusive antecipado parcela do capital do banco.
Em Bonn, à margem do G20, Lavrov se encontrou também com o novo secretário de Estado americano, Rex Tillerson, e ouviu dele condições de Washington para uma cooperação com a Rússia.
No primeiro face a face entre a administração Trump e o governo russo, Tillerson avisou a Lavrov que Moscou precisa implementar completamente o acordo internacional de paz na Ucrânia. Esse seria o pré-requisito para uma colaboração entre EUA e Rússia. A exigência parece refletir a necessidade do governo Trump, acuado por acusações de relações com Moscou, de se mostrar duro com os russos.
Na avaliação de analistas, a posição do Departamento de Estado tende a aumentar a impaciência de Moscou com a falta de direção do governo Trump e deve minar a expectativa de um período menos conflituoso entre os dois países.
O conflito no leste da Ucrânia entre rebeldes pró-Rússia e tropas ucranianas começou em abril de 2014 e deixou mais de 10 mil mortos. Um acordo de paz foi assinado em 2015 para um cessar-fogo imediato e total retirada de armas pesadas dos dois lados. Dois anos depois, a situação continua tensa na região.