Monica Gugliano
O comandante do Exército, general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, acompanha com preocupação a atual crise na segurança pública, uma das mais graves dos últimos anos no Brasil. "Esgarçamo-nos tanto, nivelamos tanto por baixo os parâmetros do ponto de vista ético e moral que somos um país sem um mínimo de disciplina social", disse ao Valor.
Do desgoverno no sistema prisional, onde detentos em Manaus, Boa Vista e Natal foram trucidados em brigas de facções, ao caos no Espírito Santo, que resultou da paralisação da Polícia Militar, passando pela crescente instabilidade no Rio, a situação é tão crítica que homens das Forças Armadas têm sido necessários para manter o controle.
Para ele, a crise política atinge a essência da identidade do brasileiro, fato que tem um componente histórico que já vem de um processo dos anos 70 e 80. "Somos um país que está à deriva, que não sabe o que pretende ser, o que quer ser e o que deve ser".
Villas Bôas observou ainda que há entendimentos incorretos de que as Forças Armadas possam substituir a polícia. "Temos características distintas". O Exército também está apreensivo com a reforma da Previdência e o general tem defendido que os militares não podem ser submetidos às regras do regime geral.
Villas Bôas, que acredita no "efeito educativo" da Operação Lava-Jato, "fundamental para o prosseguimento do país", descartou a possibilidade de intervenção militar, reivindicada por alguns setores da sociedade. "A diferença em relação a 1964 é que o país tem instituições funcionando. O Brasil é um país mais complexo e sofisticado do que era", disse.