Por Sergio Leo
Os direitos humanos são a frente escolhida pelo governo brasileiro para pressionar o ditador sírio, Bashar al Assad. Ontem, em Genebra, a delegação brasileira na ONU endureceu o tom contra Assad, embora ainda fale em condenar "todas as formas de violência", sejam do governo ou da oposição, e não tenha endossado o pedido ocidental de saída do líder sírio.
O Itamaraty também pediu e obteve da embaixada síria em Brasília a promessa de liberação de vistos para jornalistas interessados em acompanhar a crise política no país. Até agora, porém, não houve notícia de pedido de visto, segundo a diplomacia brasileira.
"Demonstrações pacíficas encontraram repressão inaceitável das autoridades sírias. Como resultado houve um número injustificável de vítimas ", diz o manifesto do governo brasileiro lido para o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. O Brasil declarou repúdio ao "desproporcional e indiscriminado uso da força contra a população".
A manifestação brasileira alinhou-se às dos EUA, de países europeus e da região, como Egito, Arábia Saudita e Israel, e defendeu investigações de "modo independente, crível e imparcial", para responsabilizar os autores das violações aos direitos humanos.
Contrária à iniciativa dos EUA e de países europeus que decidiram por sanções unilaterais e exigem a saída do ditador sírio, a diplomacia brasileira defende uma ação de consenso na ONU para obrigar o governo sírio a iniciar pacificamente a transição para a democracia. Mas, no Conselho de Direitos Humanos, ao qual mandou emissários apesar de não ser membro ativo atualmente, o Brasil se distanciou de países como Rússia, China e Cuba, que defenderam Assad e foram contrários ao envio de uma missão para investigar a violência contra a população.
O Brasil cobrou de Assad o cumprimento do anúncio de fim das ações policiais e militares (segundo relatos, a repressão continuou ontem), apoiou o envio da missão da ONU, cobrou acesso para a missão humanitária enviada ao país e manifestou "preocupação" com a denúncia de "crimes contra a humanidade" expressa em relatório da missão da ONU à Síria.
A ação de ontem da diplomacia brasileira está ligada {à participação do Brasil no esforço para uma manifestação de consenso do presidente do Conselho de Segurança, que cobrou providências do regime sírio para acabar com a violência no país – embora essa manifestação fosse considerada por muitos críticos excessivamente branda. O governo brasileiro continua considerando que ações como as declarações pela saída de Assad constituem "intervenção" indevida no processo político local.
Diplomatas brasileiros defendem que a ação da comunidade internacional busque condições de negociação entre s forças políticas sírias, que permitam a transição pacífica de regime. No Itamaraty, cita-se o exemplo do Iraque, onde a queda de Saddam Hussein graças a uma intervenção militar levou a uma ocupação prolongada por forças estrangeiras e resultou, em dez anos, na morte de aproximadamente 1,6 milhão de civis. Há temor de que intervenções rápidas, mas sem consenso da comunidade internacional, criem mais dificuldades para a população e prolonguem os conflitos no país, argumenta um diplomata que participa das conversas com os sírios.