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Maduro convoca “luta” antigolpe

Rodrigo Craveiro

Comando Nacional Antigolpe pela Paz e pela Soberania. A instalação do organismo, formado por figuras chavistas radicais, foi a primeira medida anunciada por Nicolás Maduro em resposta à decisão da Assembleia Nacional (AN), dominada pela oposição, de declarar o abandono de cargo pelo chefe de Estado venezuelano, na segunda-feira. “Sou o presidente da Venezuela por mandato constitucional. (…) A atuação da Assembleia Nacional (…) dá risos”, declarou o líder, ao fazer um chamado para que o povo trabalhe, atue em paz e não se deixe levar por provocações. “Atenham-se às consequências do chamado golpe de Estado que a quadrilha aprovou ontem (segunda-feira) na Assembleia Nacional. (…) Deixo instalado o Comando Nacional Antigolpe. Que se executem as políticas preventivas pela justiça ante atos golpistas”, acrescentou, em rede nacional de TV.

O “comando” anunciado por Maduro é integrado pelo vice-presidente, Tareck El Aissami; além de Diosdado Cabello, número dois do chavismo; Vladimir Padrino López, ministro da Defesa; Néstor Reverol, ministro do Interior; e Gustavo González López, diretor do Serviço de Inteligência (Sebin).

Maduro prometeu se concentrar “no trabalho mais importante, que é a recuperação econômica da Venezuela”. Uma tarefa árdua. O país amarga a inflação mais alta do mundo, a crise de desabastecimento se agrava, 10% dos venezuelanos recorrem ao lixo para se alimentar e a insegurança atinge níveis alarmantes.

De acordo com Maduro, a “quadrilha da Assembleia Nacional lançou um manifesto golpista, quase uma cópia” de golpes de Estado derrotados pelo oficialismo venezuelano nos últimos 17 anos. “O manifesto está repleto de todo o seu ódio e, praticamente, o que autoriza é a intervenção na Venezuela e atentados terroristas”, criticou. “Sou o presidente da República Bolivariana da Venezuela, o chefe de governo e o chefe de Estado pelo mandato do povo, e com o povo seguirei defendendo a paz.”

Segundo o jornal El Universal, o presidente defendeu punições por “violações à Constituição” e por “desacatos à ordem jurídica”. O mandatário viajou ontem a Manágua, onde participou da cerimônia de posse do presidente nicaraguente, Daniel Ortega.

Mais cedo, o deputado Héctor Rodríguez, líder da bancada do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) na AN, entregou uma petição ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) pela anulação da decisão do parlamento. “Não podem os permitir que a irracionalidade e a loucura sigam se impondo como forma de fazer política”, disse à imprensa, ao pedir ao órgão que “julgue o comportamento dos deputados e indique quais as responsabilidades que eles devem assumir”.

Intimidação

Tamara Adrian, a primeira deputada transexual das Américas e membro da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD), afirmou ao Correio que a instalação do Comando Nacional Antigolpe é “parte do sistema de intimidação que busca ‘dissuadir’ protestos coletivos e pressão nas ruas”. “Parece que estão buscando ‘cerrar os dentes’ para criar temor na população.

Nós convocamos protestos para 23 de janeiro, a fim de exigir eleições”, explicou. Ela não descarta a intensificação da repressão. “Com um regime como esse, tudo pode ocorrer. A recessão chega a 23% e a inflação beira os 830%”, comentou.

O presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, disse ontem que o país está “abandonado” e garantiu que a solução para salvar a Venezuela está nas mãos do povo. “O país está abandonado, e o povo pode salvá-lo”, declarou à emissora de televisão Globovisión. “O melhor diálogo que se pode ter na Venezuela é o voto.”

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