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Suécia-Brasil: parceria para o futuro

Ten Humberto Leite


A transferência de tecnologia e a parceria com a Força Aérea e com o Brasil. Essas são as principais vantagens que o Presidente e CEO da empresa sueca Saab, Håkan Buskhe, vê no projeto F-39 Gripen que define a compra de 36 caças de última geração para reaparelhamento da Força Aérea Brasileira (FAB).

Engenheiro e com diploma em gestão empresarial, o CEO fala que as demandas da FAB para o projeto e experiência operacional da instituição configuram um aprendizado para a Saab.

Segundo ele, a parceria é vantajosa, por exemplo, na descoberta de novos mercados consumidores para os suecos. E, para o Brasil, além de abrir novos parâmetros na área de defesa, vai incorporar uma capacidade tecnológica inédita: “a indústria brasileira e a FAB vão dominar todo o conhecimento necessário para o desenvolvimento de aviões de caça”, afirma Buskhe.

A Saab afirma que o Gripen é o caça do futuro. Por que ele é diferente?
O Gripen NG redefine como construir e operar um caça avançado, que oferece capacidades operacionais relevantes para o futuro e nova tecnologia a um custo razoável. O Gripen tem um design equilibrado que fornece um sistema com tecnologia duradoura, podendo evoluir de acordo com os requisitos dos clientes. Computadores, processadores e itens eletrônicos estão continuamente em evolução e é importante que se possa atualizá-los à medida que novas tecnologias surgem no mercado. O sistema do Gripen NG foi criado, especificamente, tendo em mente progressos futuros. Ao conseguir isolar sistemas que afetam as habilidades de núcleo de voo, o sistema de aviônica separada do avião permite a integração de produtos prontos para uso.

Como a SAAB recebeu a informação de que o Gripen tinha sido selecionado pela Força Aérea Brasileira?
Nós ficamos muito orgulhosos. A FAB foi o primeiro cliente internacional do sistema de alerta antecipado emcarcado Erieye, usado na aeronave E-99, e agora é o primeiro cliente internacional do Gripen NG. O Gripen NG é um excelente avião de caça que nós acreditamos que irá se tornar um recurso-chave para a defesa do Brasil. Além disso, nossa parceria inclui transferência de tecnologia e cooperação industrial, o que vai contribuir para desenvolver a base da indústria de defesa do Brasil.

O Gripen NG é apresentado como uma parceria entre a Suécia e o Brasil. O que a Suécia ganha com a participação do Brasil no projeto?
No nosso ponto de vista, cooperação internacional e parcerias como a que nós temos com o Brasil para o desenvolvimento do Gripen NG são importantes para enriquecer nossa capacidade e compartilhar ideias, além de incorporar conhecimento cultural ao nosso processo de desenvolvimento, fazendo nossos produtos mais adaptáveis a regiões e países diferentes. A FAB tem uma grande e rica experiência operacional e suas demandas únicas, por exemplo, aviônica avançada e novos sistemas de armamentos que serão introduzidos ao Gripen NG, vão aumentar ainda mais as capacidades aeronáuticas. Particularmente, a FAB é o primeiro cliente da configuração de assento biplace do Gripen NG. Essa versão vai ser usada num número de missões e aplicações em cenários operacionais complexos. Essa versão já está atraindo bastante a atenção de clientes potenciais.

Qual a visão da SAAB, e do setor de produção da Suécia, no que diz respeito à fabricação do Gripen no Brasil? Há alguma vantagem quando um produto desenvolvido no país de vocês é montado em outro país? Construir competência e capacidade técnicas no Brasil, que já estão alinhadas com os processos e procedimentos da Saab, cria novas oportunidades em diversas áreas. A mais evidente é que as operações do Brasil poderão ser parte de uma cadeia de suprimentos para futuros volumes de produção ou produção especializada em certas áreas (por exemplo, a fuselagem frontal da configuração biplace). Outra vantagem é ser capaz de descobrir e abordar novos mercados e consumidores juntamente com nossos parceiros brasileiros.

A transferência de tecnologia vai ser total?
A FAB e a indústria brasileira firmaram parceria com a SAAB na parte de design, desenvolvimento e integração de programas de tecnologia duradoura do Gripen NG. O envolvimento prévio do Brasil no design e desenvolvimento do Gripen NG vai dar à FAB e à indústria acesso inigualável a todos os níveis de tecnologia no presente e no futuro.

Há, atualmente, 100 engenheiros brasileiros na Suécia e mais brasileiros vão chegar para participar nos treinamentos “on-the-job” na Suécia. Após essa fase, eles vão levar o conhecimento adquirido aos colegas no Brasil e vão trabalhar no desenvolvimento e produção do avião no País.
Ao fim do programa, a indústria brasileira e a FAB vão dominar todo o conhecimento crítico necessário para o desenvolvimento de aviões de caça.

Em qual fase está o desenvolvimento do caça Gripen?
No dia 18 de maio o primeiro Gripen E, que é a configuração sueca da nova geração do Gripen, estava disponível na cerimônia do roll out. Desde então, nós efetuamos atividades de verificação na aeronave e começamos o período de testes de base (pré-voo). O trabalho está evoluindo de acordo com o plano e nós estamos dentro dos prazos quando falamos tanto de teste das aeronaves quanto do caminho que temos a nossa frente para realizar as entregas.

Como está sendo a participação dos engenheiros brasileiros no projeto? O que eles estão fazendo? Qual é o plano para eles?
Até 2021, mais de 350 profissionais brasileiros vão participar de cursos e do treinamento “on-the-job” na Suécia. Vão ter mais de 50 projetos, que vão durar mais de 24 meses. Durante esse período, cada pessoa vai ter uma programação diferente e vai receber treinamento teórico e prático de acordo com o papel que ela vai ter no programa. A primeira fase é focada em engenharia de sistemas e desenvolvimento de softwares. Pilotos e engenheiros de produção e outros profissionais também vão chegar à Suécia em um futuro próximo.

Brasil e Suécia já têm encomendas de Gripens. Qual é a expectativa comercial para o futuro?
Ainda estamos no começo do programa do Gripen brasileiro. No momento, estamos nos organizando e nos preparando para produzir um programa de transferência de tecnologia bastante completo que vai se estender por um longo período e que já está em execução. É um projeto bem grande que é ótimo para nós, mas também requer muito esforço e foco. Nós esperamos e acreditamos que o acordo com o Brasil funcione como uma ponte para negócios futuros, não somente na América Latina. Apesar disso, nós não vamos especular ou comentar, no momento, sobre possíveis vendas futuras para outros mercados.

O senhor acredita que é possível a integração entre Brasil e Suécia em outros projetos? Quais?
Há uma longa e bem sucedida história de cooperação industrial entre nossos países, e eu estou convencido de que a parceria do Gripen está nos levando ao próximo nível, com o aumento de cooperação entres Forças Aéreas, indústria e academia.

Após o Gripen NG, o que nós podemos esperar da aviação de caça no mundo?
O Gripen NG foi concebido com um grande potencial para crescimento nos seus sistemas e capacidade bélica e está preparado para receber melhorias tecnológicas, novos sistemas e atualizações de softwares conforme eles forem disponibilizados com o objetivo de manter a operacionalidade do avião efetiva pelas próximas décadas.

Além disso, a Saab está constantemente olhando para frente quando se trata de novas tecnologias e para entender como nós podemos desenvolver produtos que casem com as necessidades e requisitos futuros. Quando falamos de aviação de caça, a SAAB está desenvolvendo estudos de sistemas aéreos de combate do futuro (Future Combat Air Systems – FCAS) desde muitos anos atrás olhando para sistemas aéreos não tripulados ou tripulados em uma perspectiva para 2040 e além.
 

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