A União Europeia aprovou nesta segunda-feira um plano para reforçar sua defesa, em um contexto de incertezas depois que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, questionou o compromisso de apoio militar mútuo no marco da OTAN.
"Começamos esse processo muito antes das eleições americanas", afirmou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, em coletiva de imprensa ao fim de uma reunião conjunta dos ministros de Exteriores e Defesa europeus consagrada à cooperação militar.
O Reino Unido sempre se mostrou reticente a qualquer atuação que pudesse minar a OTAN, mas, após sua decisão em junho de abandonar a UE, França e Alemanha voltaram a seus planos de intensificar a defesa da Europa, o que ganha mais importância com a vitória de Trump.
Esses países, junto com Itália e Espanha lideram os partidários de reforçar a defesa comum, porque "independentemente do resultado das eleições americanas", os europeus precisam assumir mais responsabilidades, nas palavras da titular de Defesa alemã, Ursula von der Leyen.
Os europeus precisam deixar de "sonhar com um exército europeu" e aumentar seu gasto militar nacional a 2% do PIB como estipula a OTAN, apontou o ministro da Defesa britânico, Michael Fallon. Reino Unido, Estônia, Grécia e Polônia são os únicos dos 22 membros da UE na Aliança Atlântica que cumprem essa meta.
Os Estados Unidos, por sua vez, assumem os dois terços do gasto militar da Aliança Atlântica, o que levou a Trump a declarar durante a campanha que se os países europeus não aumentassem suas contribuições em matéria de defesa, os EUA não cumpririam seu compromisso de apoio mútuo.
Essas declarações e a aparente boa sintonia entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, inquietam o bloco que começa apenas a recuperar-se da crise financeira de 2008 e conseguiu reduzir a chegada de migrantes por meio de um controverso acordo com a Turquia.
Estrutura permanente
O plano em matéria de segurança e defesa, aprovado nesta segunda-feira, representa uma das ferramentas que os mandatários europeus acordaram em setembro na Bratislava, sem o Reino Unido, para responder às crises do bloco e impulsionar o projeto europeu.
Para um diplomata europeu, trata-se de "um bom texto com avanços significativos" no campo da defesa europeia, em um "contexto importante de uma possível retirada dos americanos".
Concretamente, o acordo evoca uma estrutura permanente para planejar e conduzir melhor as operações civis e militares da UE. Atualmente, existem 17 que dependem de meia dúzia de centros de comando.
A chefe da diplomacia europeia quis deixar claro que não se trata de substituir a OTAN, organização com a qual continuarão mantendo "estreita colaboração". O documento final da reunião não faz referência a um eventual quartel-geral como era previsto meses antes.
Mogherini deve apresentar agora suas propostas sobre o plano "o quanto antes" para que ele possa entrar em vigor "no primeiro semestre de 2017", depois do aval dos mandatários europeus.
Trump, uma 'oportunidade' para a Europa
Para muitos, a saída do Reino Unido e a vitória de Trump deveriam representar um avanço até uma maior defesa comum europeia, apesar de nos últimos dias diversos países terem expressado suas reticências, como Suécia, Irlanda e Áustria, qualificados por uma fonte europeia como "neutros".
Os países anteriormente pertencentes à União Soviética preferem a proteção de uma OTAN forte e liderada por Washington, diante da crescente ameaça da Rússia após a anexação, em 2014, da então península ucraniana da Crimeia, afirmou essa fonte.
"Não houve grandes hesitações [durante a reunião]. E até as posições mais conflitivas foram mais suavizadas, o que é uma boa notícia", celebrou a ministra da Defesa espanhola, María Dolores de Cospedal.
O chanceler britânico, Boris Johnson, tentou, por sua vez, acalmar a incerteza gerada com a eleição de Trump, "um especialista em chegar a acordos" que, na sua opinião, podem se tratar de uma "oportunidade" para a Europa.