As forças de elite iraquianas relançaram nesta sexta-feira a ofensiva na cidade de Mossul, o último reduto do grupo Estado Islâmico (EI) no Iraque, enquanto na Síria os combatentes apoiados pelos Estados Unidos continuavam a avançar para Raqa, outra grande fortaleza dos extremistas.
Confrontados a uma dura resistência do EI em Mossul, as unidades iraquianas de contra-terrorismo (CTS) decidiram consolidar as suas posições na periferia antes de continuar sua progressão.
"Nossas forças lançaram um ataque contra Arbajiyah. Os confrontos estão em curso", declarou um comandante das CTS, Mountadhar Salem, referindo-se a uma área no leste da segunda maior cidade do Iraque.
Estas batalhas ocorrem "após alguns dias de calma".
De acordo com outro comandante das forças de elite, Ali Hussein Fadhel, os combatentes se aproximam de Karkoukli, outro distrito no leste de Mossul, "mas o assalto completo ainda não foi lançado", disse ele.
Em um posto de comando improvisado em uma casa de dois andares, um soldado das CTS utiliza um tablet para controlar um drone de reconhecimento para monitorar potenciais homens-bomba.
Além dos ataques suicidas, carros-bomba e muitos explosivos espalhados em casas e edifícios, o EI estabeleceu uma vasta rede de túneis subterrâneos, e também utiliza civis como escudos humanos.
Civis executados
Há entre 3.000 e 5.000 extremistas em Mossul, de acordo com estimativas americanas. Seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, incitou-os a lutar até o fim.
De acordo com a ONU, o EI executou esta semana pelo menos 60 civis em Mossul e seus arredores. As vítimas – cujos corpos foram pendurados em postes de eletricidade na cidade – estavam usando uma roupa laranja, com as inscrições: "traidores e agentes das ISF" (sigla em inglês para as forças de segurança iraquianas).
As crianças também são vítimas dos combates em Mossul. A organização Save the Children informou que uma dúzia delas são tratadas diariamente por ferimentos graves pelos médicos na região.
"Elas chegam com ferimentos de bala, por estilhaços e queimaduras", disse um médico, citado em um comunicado da ONG.
Desde o lançamento, em 17 de outubro, de uma grande ofensiva das forças iraquianas apoiadas por uma coalizão internacional para retomar Mossul, apenas as forças de elite iraquianas conseguiram penetrar nesta cidade no norte do Iraque atravessada pelo rio Tigre.
Ao norte e a leste de Mossul, os combatentes curdos, os peshmergas, tomaram várias cidades, incluindo Bachiqa e Bartalla, que era a maior localidade cristã do Iraque, fechando o cerco ao EI. Mas os curdos não devem entrar em Mossul, segundo leva a crer as declarações do primeiro-ministro iraquiano Haider al Abadi.
Ao sul, o exército iraquiano também avançou e se aproximava da cidade antiga de Nimrod, a 30 km de Mossul.
No front oeste, uma coalizão de milícias, em sua maior parte xiitas, também combate o EI, principalmente para cortar o eixo de abastecimento dos extremistas com Raqa, sua "capital" na Síria.
EI pressionado na Síria
O EI também está sob pressão nesta grande cidade síria sobre o Eufrates. Desde 5 de novembro, uma força árabe-curda apoiada pelos Estados Unidos e a coalizão internacional lançou uma ofensiva para isolar Raqa.
Nesta sexta-feira, aeronaves da coalizão bombardearam implacavelmente posições do EI ao norte de Raqa, constatou um correspondente da AFP. Ontem, a ofensiva foi parada devido a uma forte tempestade de areia.
"Conseguimos assumir o controle de duas novas aldeias, mas não avançamos como queríamos por causa da tempestade de areia", disse à AFP Merkhas Kamishlo, um dos comandantes das Forças Democráticas da Síria (SDS) que conduzem a ofensiva.
Segundo ele, o vilarejo de Al-Hicha, localizado quarenta quilômetros a norte de Raqa, está agora "completamente cercado" e bombardeado pela força aérea da coalizão.
"Se tomarmos o controle da Al-Hicha, nossas forças vindas de Ain Issa e Suluk vão se juntar a nós nesta área", disse ele.
Para Raqa como para Mossul, as autoridades americanas enfatizaram que a batalha poderá durar semanas ou até meses.
O EI conquistou vastos territórios no Iraque e na Síria desde 2014, aproveitando-se dos conflitos nestes dois países. O grupo, que tem realizado ataques mortais em vários continentes, perdeu, desde então, muito de suas conquistas, especialmente no Iraque.