O balanço positivo que São Paulo e o Rio de Janeiro obtiveram no fechamento dos números da criminalidade de 2010, com acentuada redução de ocorrências como homicídios, assaltos, roubo de carros e sequestros, foi fruto sobretudo de vontade política. Identificadas as principais causas da violência decorrente do banditismo, os respectivos governos investiram em programas assentados em ações de planejamento, inteligência e endurecimento com o crime organizado.
Em São Paulo, apostou-se no princípio, entre outros, de que prender bandidos é cláusula pétrea de qualquer manual de segurança. O poder público passou, há alguns anos, a investir na construção de presídios, entre outras medidas de contenção da criminalidade, e logrou reverter as estatísticas do banditismo. No Rio de Janeiro, os resultados da bem-sucedida experiência das Unidades de Polícia Pacificadora podem ser medidos na comparação entre os números da violência – e não só nas áreas onde elas estão implantadas -, antes e depois da adoção desse programa.
Estes são dois exemplos de ações que decorreram de planejamento, mas sobretudo de ânimo político para serem implementadas. Foi necessário que os dois governos tivessem, de fato, decidido levar a fundo a decisão de combater a criminalidade sem leniências, mostrando aos criminosos que eles têm de temer o Estado, e não o contrário. Bandidos presos ou marginais em fuga (portanto, expulsos dos bunkers de onde costumavam afrontar os organismos responsáveis pela segurança da sociedade) são evidências incontornáveis de eficácia do poder público em seu papel de defender a população.
Embora com resultados animadores, esta é apenas a ponta externa de uma política de segurança eficaz. Internamente, há a imperiosa necessidade de combater o banditismo que se tem infiltrado nos organismos policiais, contaminados por uma banda podre que age com maior ou menor desenvoltura em cada estado. A ação desses grupos de traidores da classe policial, em particular, e da sociedade que lhes paga os vencimentos, em geral, é uma mácula para as corporações e fonte de constante inquietação para os cidadãos.
A metástase é particularmente grave no Rio de Janeiro, onde a banda podre conseguiu fazer respingar o lodo de sua atuação até mesmo no episódio em que os órgãos de segurança colheram sua maior vitória sobre o crime organizado no estado – a invasão do Alemão, no fim do ano passado. Denúncias de que grupos de maus policiais se integraram às operações de retomada do complexo de favelas para fazer um grande trabalho de pilhagem vieram a público no bojo dos acontecimentos da recente Operação Guilhotina, comandada pela Polícia Federal e responsável pela prisão de cerca de 40 agentes das polícias Civil e Militar do Rio que se haviam bandeado para o outro lado do balcão.
Tal operação, por sinal, deve ser o marco de uma nova investida do poder público contra a criminalidade, desta vez no front interno. As ações coordenadas pela PF no mês passado, que alcançaram a antessala do comando da segurança fluminense, apenas tocam o verniz da promiscuidade enraizada em delegacias e quartéis. É fundamental que se aprofunde a caça aos que, traem suas corporações e a sociedade. Assim como tem colhido bons resultados no front externo, o governo fluminense precisa fazer a sua polícia cortar na própria carne para se depurar – e, em decorrência, dar ao país o exemplo de que, sem anemia política, é possível estabelecer uma eficiente política de segurança.