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Evolução tecnológica amplia atuação de oficiais aviadores

Tenente Humberto Leite

Ele veste o macacão de voo, calça a bota e participa de um briefing semelhante ao realizado na época em que pilotava jatos A-1 AMX. Mas hoje, quando o Tenente-Coronel Sandro Bernardon vai voar, ele simplesmente não sai do chão. O militar é Comandante do Esquadrão Hórus (1°/12° GAV), a primeira unidade equipada com Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP) da FAB e símbolo do futuro da atividade aérea onde aviadores são muito mais que comandantes de aeronaves.

Quando os RQ-900 ou RQ-450 decolam, o Tenente-Coronel Bernardon permanece em um abrigo em solo, onde receberá em seu currículo as horas de voo da missão realizada. “Trata-se de uma aeronave com as mesmas características de um avião convencional. Há a mesma necessidade de coordenação com os órgãos de controle de tráfego aéreo realizadas por aeronaves convencionais. Possuem em voo o mesmo comportamento de um avião normal. No momento em que ocorrem emergências, há a mesma necessidade de raciocínio utilizada para solução de falhas de um avião comum”, explica o militar.

Mas se a tarefa de controlar a aeronave não muda muito, o cumprimento da missão é alterado pelo incremento tecnológico dos sistemas de bordo. No caso das Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP), a tripulação em solo trabalha para coletar e analisar dados enviados em tempo real. A pilotagem se preocupa não só com a segurança, mas também em facilitar a tarefa dos equipamentos de bordo.

A situação lembra o que acontece a bordo dos E-99 e R-99 do Esquadrão Guardião (2°/6° GAV). “Já são mais de 40 mil horas de voo e ainda estamos aprendendo a explorar as capacidades”, conta o Comandante da unidade, Tenente-Coronel Jorge Marques de Campos Júnior. Desde o ano 2000, as aeronaves utilizadas em missões como reconhecimento e vigilância do espaço aéreo são conhecidas por terem dois comandantes que atuam de forma conjunta: o piloto, responsável pela segurança do voo, e o coordenador tático, focado no cenário tático da missão.

A função de coordenador tático representa para um aviador a situação de embarcar em uma aeronave para cumprir sua missão tendo a sua frente uma estação de controle, e não controles de voo. “Exige que o oficial aviador aprenda novas coisas além daquelas que ele foi formado. Por isso nós termos cursos para capacitá-lo a cumprir essa função”, completa o Tenente-Coronel Marques. A mesma situação acontece a bordo dos aviões de patrulha marítima P-3AM, onde, do céu, o coordenador tático precisa pensar um cenário que envolve alvos de superfície e submersos.

Aviação de Caça

A capacidade de pilotagem continua a ser um diferencial dos pilotos, mas o trabalho a bordo das aeronaves de combate mudou muito nas últimas décadas. A opinião é do Comandante do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1° GAVCA), Tenente-Coronel Rubens Gonçalves. Depois de voar o AT-26 Xavante e a versão não modernizada do F-5E, agora ele tem a experiência de estar à frente de um grupo de pilotos mais jovens, habituados a versão modernizada F-5M e já de olho no futuro F-39 Gripen NG.

“O piloto antes era muito ligado ao psicomotor, ao pé e mão. Tinha que ter características natas para ser um bom piloto. Hoje em dia, além de ser um bom piloto, é também responsável pelo gerenciamento de vários sistemas”, explica o militar. 

Enquanto os F-5 na versão original possuíam como sistema de busca um radar capaz de detectar alvos pouco antes do início de um combate visual, a versão modernizada permite combates além do alcance visual, detecção passiva por meio de receptores de sinais de radar e troca de dados entre aeronaves com o uso de datalink. Já o Gripen NG vai trazer sistemas capazes de detectar alvos no solo, no ar e no mar ao mesmo tempo, tanto com o uso do radar quanto por sensor infravermelho. Um F-39 poderá até disparar seu armamento com base em dados enviados por outra aeronave da sua esquadrilha. 

“Quem souber digerir melhor essas informações será aquele que vai ter vantagem no combate. Será necessária uma sinergia entre piloto, máquina e sistemas”, opina o Tenente-Coronel Gonçalves. O desafio, então, passa a ser o treinamento. “Cada vez mais vai ser um piloto que está ligado diretamente à tecnologia, diretamente aos sistemas”, conta.

O Tenente-Coronel Marques também ressalta que essa já é a realidade da FAB. “Eu entendo que o futuro já começou. Agora que temos ARP, Gripen, E-99 modernizado. A parte de estudo, de aprofundamento, principalmente em guerra eletrônica, é fundamental rumo ao nosso Força Aérea 100”, finaliza.

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