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Aeronáutica fala sobre a segurança nos céus do Brasil

FANTÁSTICO – TV GLOBO
Agência Força Aérea

Domingo passado, o Fantástico exibiu uma reportagem sobre o tráfego aéreo no país. 

A reportagem dizia que é seguro voar no Brasil porque o índice de acidentes – 1,4 por milhão de voos — é considerado muito pequeno pelos especialistas. Mas mostrava algumas falhas na comunicação entre o avião monomotor em que estava o nosso repórter e os controles.

A aeronáutica contestou, em nota, as falhas apontadas na reportagem.

O repórter Júlio Mosquera conversou com o tenente-brigadeiro Ramon Borges Cardoso, diretor-geral do departamento de controle do espaço aéreo, para esclarecer as questões levantadas pela reportagem, que mostrava também o aumento do tempo de espera para que aviões pousem e decolem no Brasil.

Fantástico: Os engarrafamentos seriam causados pelo crescimento do tráfego aéreo, 10% em média ao ano. Em contrapartida, os investimentos dos aeroportos no controle de tráfego aéreo não teriam acompanhado esse mesmo ritmo de crescimento. Faltam investimentos no setor?

Tenente-brigadeiro Ramon Borges Cardoso: É importante nós podermos colocar a informação em relação primeiramente a esse engarrafamento. Nós temos uma capacidade no sistema de controle do espaço aéreo e uma demanda. Essa demanda vem crescendo muito. Mais de 10 %. É uma das taxas mais altas de crescimento no mundo. Isso, obviamente, requer que haja um crescimento também do nosso sistema de controle do espaço aéreo para atender ao crescimento de todos os voos em todas as regiões do país. Mesmo que esse crescimento não ocorra de maneira uniforme. Em determinadas regiões do país, como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília esse crescimento é maior do que em outras partes. Mas o crescimento acontece de uma maneira bastante ampla. Para fazer frente a esse crescimento nós precisamos desse investimento. E esses investimentos estão ocorrendo. Nós estamos recebendo aproximadamente R$ 1 bilhão por ano para fazer a implantação de novos equipamentos, de novos sistemas, novos conceitos: repor equipamentos que já estão na fase final da sua vida útil, de maneira a termos a capacidade de acompanhar o crescimento do tráfego aéreo no país para os próximos eventos – não apenas o crescimento normal, mas até mesmo aquele esperado para competições esportivas que teremos em 2014 e 2016.

Fantástico: O senhor falou em investimento de R$ 1 bilhão ao ano, mas todo brasileiro que viaja de avião hoje sente que o tempo de espera para pousar e decolar aumentou. Nosso avião que fez essa reportagem, por ser um monomotor, claro, não tinha prioridade frente às aeronaves comerciais. Mas ele estava ali para registrar um momento aéreo do ponto de vista de quem está dentro de um avião: a espera do pouso e da decolagem. Não é fato que o tempo de espera hoje é bem maior?

Tenente-brigadeiro: O que hoje acontece em relação ao número de movimentos no país é bastante diferenciado ao que nós tínhamos anos atrás. Esse crescimento passou de aproximadamente 2 milhões de movimentos ao ano para 2,4 milhões de movimentos ao ano, especificamente de 2009 para 2010. E, no entanto, o índice de pontualidade das companhias aéreas aumentou. Ele passou de 83% para 88%. Essa sensação de que há um tempo maior de demanda, de espera, na realidade é uma fila que acontece para encaixar a demanda dentro da capacidade de cada aeroporto. Mas não que o sistema esteja incapaz de controlar esses voos ou que esteja incapaz de fazer um gerenciamento do espaço. A cada dia nós temos um aumento do número de movimentos, mas também temos um aumento na pontualidade das companhias e esse é o objetivo maior a ser buscado por todos.

Fantástico: Na produção da nossa reportagem, perguntamos ao Coronel Bertolino o número de controladores em atividade no país. Ele respondeu que essa era uma informação sigilosa. Em entrevista, nós relatamos para ele todos os incidentes que vivenciamos. Depois, a nota da Aeronáutica divulgou o número de controladores: 4100. Disse que nós omitimos da Aeronáutica os motivos da reportagem e nos acusou de sensacionalismo. Por que isso aconteceu?

Tenente-brigadeiro: O Coronel Bertolino não tem a autorização para divulgar o número de controladores porque nós trabalhamos com controladores de defesa aérea, controladores de operações militares e os demais controladores – tanto do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) quanto o da Infraero que fazem o controle do tráfego aéreo civil. E esse número está correto, 4100. No entanto, na reportagem, foi colocada uma sensação de que alguns itens, que são normais, não eram o que deveria estar acontecendo. Não quer dizer que a emissora fosse sensacionalista. Apenas é que aqueles indivíduos que estavam executando a informação passaram uma sensação diferenciada, e é isso que nós estamos corrigindo. Porque o voo de quem está em uma aeronave pequena é bastante diferenciado daquele que transporta passageiros.

Fantástico: Nós também mostramos que houve dificuldades para a torre de Brasília visualizar nos instrumentos a aeronave em que estávamos. Claro, ela estava em voo visual e a torre não precisava dar instruções. Mas precisaria ver a aeronave, os instrumentos – até para informar a presença dessa aeronave a outros aviões que voavam na área. Nosso avião estava a uma altura em que deveria ter sido detectada, 8500 pés. O que houve? Por que não se conseguiu detectar?

Tenente-brigadeiro: Muito boa essa posição sua, que me permite explicar como funciona isso. Na realidade, a torre de controle não teria que saber dessa aeronave. A torre tem uma responsabilidade de controlar os aviões que estão em uma área próxima a ela, de mais ou menos dez quilômetros. No caso desse voo, ele não deveria ser visto a 8500 pés. No momento em que ele entrasse em uma área de controle, próximo a Brasília, próximo ao Rio de Janeiro, ou próximo a Belo Horizonte, aí sim é que ele seria avistado no radar. Receberia informação para colocar um código especifico no seu transponder, e passaria a receber todas as informações.

Fantástico: Nossa aeronave teve dificuldades de falar com o serviço meteorológico no trecho entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Embora tenha sido informado o tempo antes no destino, ainda em terra, como é a regra. O comandante de aviação comercial foi quem acabou dando as informações e confirmou que o contato naquela área era difícil. Por que isso acontece?

Tenente-brigadeiro: No caso específico, que o voo estava a 8500 pés, dificilmente ele iria manter contato com o Voomet, porque a estação estava muito distante. Se ele estivesse mais alto, como era o caso da aeronave comercial, que estava provavelmente na mesma posição que ele, mas muito mais alto, conseguiria contato.

Fantástico: Nós mostramos que em apenas um Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) houve 24 incidentes e 80% deles com registro do uso do TCAS, um equipamento para evitar colisões. Na reportagem, o Coronel Bertolino respondeu que o uso desse equipamento não significava necessariamente um quase acidente, mas outros dois especialistas acharam excessivo o número de ocorrências. O que o senhor tem a dizer sobre esse número de incidentes?
Tenente-brigadeiro: Bom, nós temos mais ou menos 2,5 milhões de voos por ano no Brasil. Os Estados Unidos fizeram uma pesquisa com 3 milhões de voos e nesses 3 milhões aconteceram mais de 38 mil acionamentos do TCAS e ninguém acha que o espaço aéreo americano é perigoso por ter mais de 38 mil acionamentos desse aparelho. Então realmente é isso. O uso do TCAS não é um quase incidente ou um quase acidente.

Fantástico: Para os passageiros, o que o senhor diz sobre a segurança de voo no Brasil?
Tenente-brigadeiro: Os passageiros podem ficar com a certeza absoluta de que nós temos um sistema extremamente seguro, se equipara aos melhores sistemas do mundo e mais do que isso, eles podem ficar orgulhosos do sistema que faz o Brasil ser um dos melhores membros de toda a Organização da Aviação Civil Internacional no que se refere ao controle do espaço aéreo.

Fantástico: Brigadeiro Ramon, muito obrigado pela entrevista do senhor ao Fantástico.

Tenente-brigadeiro: Boa noite.

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