FLAVIO MORGENSTEM
Analista político, escritor, editor do portal Senso Incomum e
autor de Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs.
Publicado GAZETA DO POVO – PR
Um roteiro tem se repetido tão tediosamente que até as notas denunciando sua repetição já amolaram o sobejante: as manifestações pacíficas que são tomadas por uma minoria de vândalos. A expressão pegou no noticiário, enquanto a população em geral, que jornalistas julgam defender e representar, tem cada vez mais asco de qualquer um que caiba no rótulo eufemístico de “manifestante”.
Todavia, aquilo que o jornalismo teme e teima em não noticiar já foi fisgado, ainda que inconscientemente, pela população em geral: manifestações contrárias ao PT, como os protestos pelo impeachment que se sabe terem sido muito mais cheios do que institutos de pesquisa ousaram contar, conseguiram colocar milhões de pessoas das mais variadas cores e classes sociais nas ruas sem praticamente nenhum incidente digno de nota.
Por outro lado, basta arrolar meia dúzia de “manifestantes” pró-PT ou qualquer causa esquerdista para um rastro de lixo queimado, carros e ônibus incendiados, pontos de ônibus pichados, vidraças destruídas e gente ferida marcar de longe qual a ideologia que está sendo defendida naquela arruaça.
Os fatos são claros como o fogo na noite, por mais que quase todo o vocabulário jornalístico inventado desde 2013 para descrever protestos contorne a questão sem nunca tocá-la: manifestações violentas são as de esquerda. Tão somente as de esquerda. Um protesto que seja violento, perigoso para o povo, que dê medo em quem nada tem a ver com a causa é certamente um protesto de esquerda.
Se o PT é o partido-metrópole, os partidos-colônias cada vez disfarçam menos seu caráter de sub-PT, sob um obsequioso silêncio das redações de jornais. Na propaganda eleitoral, tais partidos nem mais tentam dizer algo além de ir contra “o golpe”. Não servem para mais nada, além de serem os acólitos, rábulas e beleguins do Grande Partido.
São esses partidos nanicos, disfarçados de “coletivos” (sub-categorias do partido), que aterrorizam as cidades. Quase ninguém na mídia afirma que a bandeira amarela “Juntos!”, vista em 100% dos protestos, é de um coletivo do PSol. Que a UNE é apenas uma forma de o PCdoB aterrorizar, sem ser responsabilizado e perder seus cargos federais. Que a “Anel”, uma “UNE do B”, é um organismo estudantil do PSTU. Até PCO e PCB possuem seus “coletivos”.
O jornalismo, que deveria noticiar quem, o quê, como, quando e quanto nos assuntos de interesse público, parece sempre preferir a cortina de fumaça dos conceitos vaporosos para não pegar mal. A população não se sente cada vez mais distanciada da mídia à toa: o povo fala a língua real; as redações, a língua de gabinete dos acadêmicos empolados, envernizada em fortes cores politicamente corretas.
A esquerda e sua “distribuição de renda” implica o uso da força por si: a potestas, o poder físico do Estado. Destituída a presidente por crimes que nem os acadêmicos entendem (e envidam seus melhores esforços para continuar sem entender), resta a ação direta de Bakunin e Proudhon: a tomada ou destruição dos bens alheios pelas próprias mãos. Não é uma revolução, é um ataque. É coerente, porque é o que a esquerda sempre pregou. Também por isso nunca há violência em protestos contra o PT.