No sentido de superar as restrições orçamentárias que comprometem o adestramento da tropa, o Exército Brasileiro visualizou e implantou os simuladores como ferramentas para o treinamento de combate. Em 2016, com a entrada em operação dos simuladores de apoio de fogo, a Força Terrestre deu um importante passo na otimização do adestramento da Função Fogo, assim como fazem os melhores exércitos do mundo.
Concepção do Projeto
O Simulador de Apoio de Fogo (SIMAF) foi idealizado para aprimorar o adestramento e o processo ensino-aprendizagem do apoio de fogo do Exército Brasileiro (EB). Os sistemas de simulação são ferramentas valiosas para a otimização do treinamento de combate, sendo amplamente utilizados pelos melhores exércitos do mundo.
Quando empregados com eficiência e eficácia, auxiliam na superação dos óbices quanto à manutenção do elevado nível de adestramento da tropa. Assim, visando superar restrições ao exercício de artilharia, como os reduzidos campos de tiro, a falta de munição e de combustível e as condicionantes ambientais, o EB visualizou a aquisição de um simulador de apoio de fogo.
Nesse sentido, em 2000, o General Gleuber Vieira, então Comandante do Exército, determinou que fossem estudados modelos de simulação de artilharia. Nos últimos dez anos, vários simuladores foram visitados e estudados em todo o mundo.
Os preços muito elevados e as dificuldades para a transferência de tecnologia não permitiram que uma aquisição se concretizasse, embora o Exército já houvesse, praticamente, definido o sistema e o produto que atenderiam a todos os requisitos técnicos (artilharia), tecnológicos (informática) e logísticos preconizados pela doutrina brasileira.
Em julho de 2010, de acordo com as imposições legais para compra de material de emprego militar no exterior, foi realizada uma licitação internacional, levada a efeito de julho a outubro do mesmo ano, em Washington, nos Estados Unidos da América. A licitação foi conduzida pela CEBW e cinco empresas concorreram, sendo vencedora a TECNOBIT, da Espanha.
Histórico
O Projeto SIMAF teve inicio em 22 de outubro de 2010, no Quartel General do Exército, onde foi lançado formalmente, com a presença do Comandante da Força, dos Oficiais Generais do Alto Comando, de autoridades diplomáticas e de empresários espanhóis, com a assinatura do Termo de Abertura do primeiro módulo do sistema.
Em novembro do mesmo ano, a equipe do EB, composta por cinco oficiais de artilharia e sete oficiais engenheiros militares, se deslocou para Madri, na Espanha, para, junto com a TECNOBIT, detalharem os requisitos do simulador.
Em novembro do mesmo ano, a equipe do EB, composta por cinco oficiais de artilharia e sete oficiais engenheiros militares, se deslocou para Madri, na Espanha, para, junto com a TECNOBIT, detalharem os requisitos do simulador.
O projeto contratado não foi simplesmente uma aquisição de material de emprego militar. Na verdade, o EB, além de adquirir o estado da arte em matéria de simulação, agregou sua tecnologia, passando inclusive à condição de detentor dos royalties correspondentes ao novo simulador de apoio de fogo desenvolvido para as suas necessidades.
Durante todo o ano de 2011, foi desenvolvido o protótipo do simulador de apoio de fogo, que foi apresentado nas instalações espanholas, em dezembro daquele ano
.
De 2012 a 2014, a TECNOBIT e o EB trabalharam no desenvolvimento do programa de simulação, que teve como ponto de partida o SIMACA, simulador criado pela empresa para ser utilizado pelo Exército espanhol.
Atualmente, o simulador europeu só atenderia a 33% dos requisitos elaborados pela Equipe Operacional do Projeto SIMAF, destacando a atualidade do projeto definido pelo EB e sua adaptação às necessidades da Força Terrestre, que o colocam no rol dos mais modernos simuladores de apoio de fogo do mundo.
Diferente do SIMACA, o simulador brasileiro foi desenvolvido com técnicas mais modernas em diversos parâmetros, tais como: codificação, equipamentos visuais, arquitetura, sensores de peça, optrônicos, rádios, entre outros; fato que proporciona a evolução para outros sistemas ou novas doutrinas, e uma melhor qualidade de vídeo, dando maior realismo à simulação.
Desde o início da troca de informações, também ficou clara a necessidade da inclusão de todos os subsistemas de apoio de fogo não contemplados no SIMACA, a fim de atender às diretrizes do Estado-Maior do Exército (EME).
Em 2015, todos os equipamentos de simulação foram instalados e integrados ao prédio do SIMAF/AMAN, permitindo que, após anos de intenso trabalho de desenvolvimento, o EB possa ensinar e adestrar seus quadros de maneira muito mais Inauguração do SIMAF pelo Comandante do Exército eficiente.
Características e Possibilidades
O SIMAF faz parte de uma nova vertente do EB, que tem como objetivo aprimorar o adestramento, a instrução, o ensino militar e o suporte à tomada de decisão de militares da Força Terrestre através da simulação.
Para isso, os simuladores de apoio de fogo estão instalados na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende (RJ), e no Centro de Adestramento e Avaliação Sul, em Santa Maria (RS). Nestes locais serão desenvolvidas as atividades de simulação de apoio de fogo para estabelecimentos de ensinos e organizações militares das regiões Sudeste e Sul, respectivamente.
Em 2016, com a entrada dos simuladores em operação, esse sistema irá trabalhar com os três tipos de simulação militar: Viva (trabalhos de Linha de Fogo em obuseiros sensorizados), Virtual (condução de missões de tiro no PO, utilizando optrônicos) e Construtiva (montagem e manipulação de calungas de tropas em uma carta 2D).
O SIMAF possibilita o trabalho, de maneira integrada, dos oitos subsistemas de Artilharia: Observação, Linha de Fogo, Topografia, Direção/Coordenação de Tiro, Busca de Alvos, Logística, Comunicações e Meteorologia; sendo desenvolvido desde o nível Batalhão/Regimento até Divisão de Exército.
Visa otimizar o uso de munição real, já que, primeiramente, o militar repete os procedimentos no ambiente virtual várias vezes e, somente após isso, finaliza seu aprendizado/ adestramento com o tiro real. Além disso, pode trabalhar várias missões de tiro inviáveis em exercícios no terreno por motivo de segurança: tiro próximo de tropa amiga ou em ambiente urbano.
No simulador, em cenários variados (terreno/condições meteorológicas), contra inimigos e meios diversos, o usuário poderá realizar:
– tiro simulado com obuseiros e morteiros pesados, sem preocupação com as restrições de campos de tiro;
– condução de missões de tiro com munições convencionais e especiais, valendo-se de imagens virtuais de ambientes operacionais, de optrônicos com visão noturna e telemetria laser;
– missões de inteligência e busca de alvos com o Sistema Aéreo Remotamente Pilotado (SARP) e radar de contrabateria;
– exploração das comunicações;
– trabalhos de logística;
– trabalhos de Estado-Maior, integrando funções de combate;e
– solicitação de apoio de fogo aéreo ou naval.
Ao final de um exercício, o comandante da fração poderá realizar uma APA (Análise Pós Ação) valendo-se dos relatórios objetivos (sistema) e subjetivos (equipe de instrução) para retificar ou ajustar os procedimentos de sua tropa.
Com o SIMAF, os ganhos da Força Terrestre vão além da formação e do adestramento da função de combate “Fogos”, estendendo-se para o desenvolvimento e para a interligação de sistemas de simulação, com a formação de capital intelectual e de alicerce capazes de agregar novos produtos.
Laboratório de Simulação
Em uma ação inovadora, conforme previsto no contrato do projeto “Simulador de Apoio de Fogo” (SIMAF), o Plano de Aplicação da Compensação (PLACOMP) do contrato estipula a montagem de um laboratório de simulação na cidade de Santa Maria. Esse laboratório conterá equipamentos, softwares e toda a documentação e códigos do sistema produzidos durante os anos do projeto, o que permitirá o estudo e o desenvolvimento de melhorias e de novos produtos a partir da tecnologia criada para o simulador.
Entre os equipamentos disponibilizados para o laboratório destacam-se softwares de design, modelagem e programação, ferramentas de criação de terrenos e objetos 3D, projetores de simulação, sensores de peça de fogo, entre outros. Com a conclusão da montagem, o EB planeja franquear a utilização do laboratório para o estudo e para a pesquisa de alunos militares e civis na cidade de Santa Maria (RS).
Outro aspecto a destacar é que a integralidade do código do SIMAF poderá ser utilizado para estudo, testes e aprimoramento no laboratório, o que permitirá aos seus usuários reaproveitar a tecnologia disponível para o desenvolvimento de novos produtos e de sistemas de simulação.
O laboratório será totalmente funcional, permitindo a observação do sistema em pleno funcionamento e também o emprego individual dos diversos equipamentos disponíveis para a pesquisa e para o desenvolvimento de novos sistemas.
Tendo em vista a existência de componentes de simulação construtiva, como a interface geográfica para controle de entidades e de simulação virtual, como o posto do observador e de simulação viva, na linha de fogo sensorizada, o SIMAF possui uma ampla gama de soluções que podem ser exploradas e adaptadas com o objetivo de criar novos produtos para o adestramento, o treinamento e o ensino.
Entre as possibilidades futuras de desenvolvimento no laboratório, a partir do atual simulador, pode-se destacar a criação de uma versão stand-alone do sistema, para uma OM isolada, simuladores de exploração rádio, simulador para morteiros 81mm, versão de simulador de observação para tablet, criação e exportação de terrenos 3D para simuladores diversos, desenvolvimento de novos componentes, como inteligência artificial, movimento de entidades virtuais e várias outras possibilidades.
A tecnologia do SIMAF, que estará em trabalho no laboratório de simulação, pode possibilitar uma gama de outros projetos futuros, bem como servir como base para produtos direcionados ao mercado civil. O ambiente 3D poderá, por exemplo, ser o passo inicial para o desenvolvimento de um simulador de treinamento de motoristas para autoescolas. Será possível, também, aprender, em escolas, sobre geografia e formações da crosta terrestre, por meio da capacidade de voos panorâmicos virtuais.
Transferência de Tecnologia
O desenvolvimento do SIMAF demandou a participação de 25 engenheiros da empresa TECNOBIT e cinco oficiais Engenheiros Militares do EB, trabalhando em tempo integral, durante mais de três anos. As tarefas eram divididas em áreas temáticas como: arquitetura, simulação, interface, hardware e visual. Cada área contava com uma equipe de engenheiros da empresa e um militar designado para acompanhar os trabalhos.
No primeiro ano de atividade, o desenvolvimento contou, também, com a presença de uma equipe de cinco oficiais de Artilharia. Estes militares trabalharam no levantamento de requisitos, assim como no apoio técnico sobre a doutrina e a técnica de artilharia, descrevendo e detalhando as peculiaridades do funcionamento dos equipamentos e do modo de operação da arma dos fogos largos e profundos.
A equipe militar pôde acompanhar, desde o início e sem restrições, o trabalho realizado pelos engenheiros da empresa TECNOBIT, incluindo a produção de diagramas e demais documentos de engenharia de software, de codificação, de compilação, de produção de conteúdo 3D e de desenho de componentes de hardware, assim como o processo de seleção de produtos a serem adquiridos no mercado para o simulador.
Entre as atividades mais importantes protagonizadas pela equipe de militares estava o acompanhamento e a realização de testes de validação e aceitação dos componentes de hardware e software, tanto no laboratório, na bancada de testes, como na instalação do produto. O envolvimento permanente dos militares nos testes de diversos tipos, contribuiu com a produção de um sistema que atende plenamente as necessidades da Força Terrestre.
O sistema, escrito em C++, foi desenvolvido totalmente em código aberto, sem a necessidade de qualquer licença para o seu funcionamento. Para a criação dos terrenos virtuais, foram empregados arquivos vetoriais fornecidos pela Diretoria do Serviço Geográfico, assim como fotos digitais dos diversos locais modelados.
Durante os trabalhos, a equipe pôde participar de cursos e treinamentos em Unified Modeling Language (UML) – Linguagem de modelagem Unificada, Terra Vista, Creator e Pandora, dentre outras ferramentas utilizadas no desenvolvimento do sistema.
Posteriormente, todo material adquirido no mercado, desenvolvido e fabricado pela empresa, foi transportado para os locais de destino em Resende e Santa Maria, onde ocorreu a montagem da rede lógica e a instalação dos diversos equipamentos, tais como: projetores, telões, rádios simulados, interfones, bússolas, GPS simulados, sensores de peças e optrônicos do observador.
A grande quantidade de equipamentos e sua complexidade exigiu o trabalho de mais de uma dezena de profissionais civis, de diversas qualificações, por mais de seis meses, nos locais de instalação. Essa atividade foi acompanhada por militares do EB em Resende e em Santa Maria.
Conforme definido no contrato, a empresa TECNOBIT manterá, por cinco anos, um engenheiro em Resende e outro em Santa Maria, com a responsabilidade de apoiar os militares nas diversas atividades do simulador e providenciar a manutenção e o suporte permanente do sistema.
Artigos recomendados:
-x-
Vídeos:
Operação Centauro 2015
-x-
Projeto Visão de Futuro do CAADEX – Centro de Avaliação de Adestramento General Álvaro Braga