Paulo Vasconcellos
A tempestade da crise financeira mundial já passou, mas aviação executiva ainda espera por um céu de brigadeiro para voar. A última previsão da norte-americana Honeywell Aeroespace indica vendas de 9.200 jatos executivos até 2020, uma redução de 3% em relação ao total projetado pelo estudo de 2014. O faturamento deverá alcançar US$ 270 milhões, resultado 5% menor que o previsto naquele ano.
Nas consultas ao mercado, a empresa identificou que os operadores planejam ampliar ou renovar 22% das suas frotas nos próximos cinco anos. Quase 20% das compras de novos jatos devem ocorrer ainda este ano e outros 17% estão programados para 2017. E cerca de 80% dos gastos com novos jatos executivos devem focar aeronaves de maior cabine e longo alcance.
Os resultados dos primeiros seis meses deste ano confirmam as projeções. Dados da General Aviation Manufacturers Association (Gama) indicam queda de 4,5% nas vendas e de 11% no faturamento da indústria no primeiro semestre deste ano.
Foram entregues de janeiro a junho 970 unidades que renderam US$ 9,3 bilhões. As vendas de aviões executivos tiveram queda de 4,3%, com 292 aparelhos embarcados no primeiro semestre de 2016 contra 305 nos primeiros seis meses de 2015. As vendas de helicópteros também caíram 16,1%, com 392 unidades contra 467 no mesmo período do ano passado. A receita neste segmento caiu 32,4% – de US$ 2,1 bilhões para US$ 1,4 bilhões.
Em 2008, no auge do mercado, foram entregues 1.300 jatos executivos no mundo, mas, a partir de 2010, o mercado se estabilizou na média de 700 aeronaves por ano. Mais de 70%, em qualquer cenário, ficam no maior mercado: os Estados Unidos, com uma frota de mais de 12 mil aparelhos. A aviação executiva norte-americana movimenta US$ 219 bilhões e emprega cerca de 1,1 milhão de pessoas.
O México vem em segundo lugar, com uma frota de 900 jatos executivos, e a Europa tem uma demanda pequena, mas estável. Os países emergentes, do bloco dos Brics, vinham sendo o contraponto. O Brasil chegou a ser o segundo maior comprador de jatos entre 2009 e 2013, enquanto China e Rússia reduziram a demanda, junto com o Oriente Médio, por causa da desvalorização do petróleo. Já os países da Europa, em recessão há sete anos,não elevam sua compras.
"O mercado global se estabilizou no patamar pós crise financeira de 2009 e os Estados Unidos continuarão a ser o maior mercado para o setor, respondendo por mais da metade da demanda", diz Marco Tulio Pelegrini, da Embraer Aviação Executiva. Segundo o executivo, o Brasil continuará a ser um mercado importante no longo prazo. "A Embraer está preparada para os próximos dez anos, confiante na superação de mais um cenário de mercado desafiador", afirma.
Na avaliação de Francisco Lyra, da CFly Aviation, a recuperação da aviação executiva não depende só do setor, nem será tão rápida. "Antes da crise de 2008, as fábricas de motores, por exemplo, não conseguiam atender a demanda da aviação", afirma. Segundo André Castellini, da Bain&Company, o cenário de baixo crescimento das economias mundiais atrapalha, mas o setor depende mais é da rentabilidade das grandes empresas.
O desempenho dos últimos anos respalda as expectativas para o futuro. As entregas de aeronaves de aviação geral caíram 5% em 2015 na comparação com o ano anterior. Foram mais de 2 mil aeronaves vendidas com geração de US$ 24,1 bilhões. A América do Norte liderou o volume de entregas, com 62% do total.
Pela primeira vez, a Ásia ultrapassou a Europa, passando a ser o segundo continente com maior número de entregas de aeronaves de aviação geral no mundo. O Oriente Médio, por sua vez, registrou queda de 35% depois de três anos de investimentos no setor. Já a América Latina representou 9% das entregas de aeronaves no mundo. Em 2015, a região desacelerou 23%, totalizando 81 turboélices, 67 aeronaves convencionais e 51 jatos.