O governo da Colômbia e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) chegaram a um acordo de paz definitivo após quatro anos de negociações em Cuba, o que põe fim a um violento conflito armado, informaram os países fiadores do acordo.
O histórico pacto para acabar com o enfrentamento de mais de 52 anos, que deixou 220 mil mortos e milhões de desalojados, considera a desmobilização dos guerrilheiros, o abandono das armas e a transformação das Farc em um movimento político.
"As delegações do governo nacional e das Farc-EP anunciamos que chegamos a um acordo final, integral e definitivo sobre a totalidade dos pontos da agenda do acordo geral para o encerramento do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura na Colômbia", afirmou comunicado conjunto lido pelos países fiadores.
O acordo final, um texto de mais de 200 páginas, ainda deve ser enviado ao Congresso, assinado pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e pelo líder máximo das Farc, Rodrigo Londoño, conhecido como "Timochenko", e submetido a um plebiscito para que os colombianos o referendem antes de ser implementado.
As pesquisas de opinião mostram que a maioria dos colombianos que iria às urnas votaria "Não", em uma rejeição dos acordos e do passado criminoso da insurgência.
O acordo de paz inclui questões complexas, como o acesso à terra para os agricultores pobres, garantias para a participação dos guerrilheiros desmobilizados na política, luta contra o tráfico de drogas, justiça, vítimas, fim do conflito e a implementação dos acordos.
"O término do conflito armado significará, em primeiro lugar, o fim do enorme sofrimento que o conflito causou", disse o embaixador norueguês Dag Nylander, ao ler um comunicado conjunto em nome dos países fiadores.
As Farc marcaram a sangue e fogo a história da Colômbia nos últimos 52 anos, em uma luta pelo poder pela via armada, cujo fim se vislumbrou nesta quarta-feira (24), com o anúncio de um acordo de paz definitivo com o governo.
Relembre abaixo os principais momentos do confronto entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo colombiano:
– 1964: a fundação
O dia 27 de maio de 1964 é considerado a data fundacional das Farc. Foi quando aconteceu o primeiro combate de um grupo de camponeses, liderados por Pedro Antonio Marín, mais conhecido por seu nome de guerra Manuel Marulanda Vélez ("Tirofijo"). Eles resistiam à ofensiva militar em Marquetalia, no centro da Colômbia, considerada pelo governo conservador de Guillermo León Valencia como uma "república independente" de influência comunista.
– 1984, 1991, 1999: os processos de paz frustrados
A primeira tentativa de negociação de paz entre governo e Farc começou em 28 de março de 1984, quando o presidente Belisario Betancur e a guerrilha instalaram uma mesa de diálogo em meio a uma trégua bilateral. Essas conversas fracassaram em 1987, assim como outras duas, iniciadas em 1991 com o presidente César Gaviria e, em 1999, com o presidente Andrés Pastrana. Esse último processo, que durou até 2002, foi conhecido como "Diálogos do Caguán", em referência à essa região de 42.000 km2. O presidente ordenou a desmilitarização dessa área no sul do país para que a guerrilha se concentrasse durante as discussões.
– Anos 1990: a escalada terrorista
Os anos 1990 foram marcados por uma estratégia de guerra das Farc que incluiu ataques a povoados, a bases militares e a quartéis de Polícia. Também recorreram ao sequestro de civis para a cobrança de resgates. Marcaram essa época a tomada da cidade amazônica de Mitú em 1998 – com 37 mortos e 61 policiais caídos em poder dos rebeldes – e o massacre de Bojayá em 2002, onde morreram 79 pessoas em uma igreja, na qual tentavam se proteger dos combates.
Talvez o fato do qual o mundo mais se lembre seja o sequestro, em 2002, da pré-candidata à Presidência Ingrid Betancourt, libertada seis anos depois pelo Exército. Seu cativeiro se transformou no símbolo do drama de civis, policiais e militares feitos reféns na Colômbia. Alguns ficaram em poder dos rebeldes por até dez anos.
– Anos 2000: o Plano Colômbia e a ofensiva oficial
Em 2000, os Estados Unidos e o governo de Pastrana lançaram o "Plano Colômbia", uma estratégia contra o narcotráfico ampliada para a luta contra a guerrilha. Graças ao plano, em 15 anos foram enviados US$ 10 bilhões em fundos americanos para equipamento militar e para treinamento no país sul-americano. Assim, abriu-se uma década de forte ofensiva oficial contra as Farc, liderada pelo presidente Álvaro Uribe (2002-2010). Durante seu mandato, o comando das Farc sofreu duros golpes. Em 2008, além da morte (que teria ocorrido por causas naturais) de "Tirofijo", mataram Raúl Reyes, o responsável internacional da guerrilha, em uma operação do Exército colombiano no Equador. A estratégia de cortar a cabeça da guerrilha continuou com Juan Manuel Santos na Presidência. Primeiro, o chefe militar Jorge Briceño – conhecido como "Mono Jojoy" – morreu em 2010 em um bombardeio e, depois, em outra operação, realizada em 2011, foi a vez de Alfonso Cano, sucessor de "Tirofijo".
– 2012: até o fim da confrontação
Depois da escalada militar, a pedido do presidente Santos e do novo líder das Farc, Rodrigo Londoño, identificado como Timoleón Jiménez ("Timochenko"), lançou-se um diálogo de paz, formalmente, em Oslo, em 18 de outubro de 2012. A mesa de negociações foi instalada em Havana, em novembro desse mesmo ano, com Cuba e Noruega como avalistas, e Chile e Venezuela, como acompanhantes. Em 24 de agosto de 2016, as partes anunciaram ter alcançado um acordo de paz definitivo, que deverá ser referendado pelo povo colombiano em um plebiscito em 2 de outubro próximo.
¹com AFP