As Forças Armadas da Turquia lançaram na madrugada desta quarta-feira (24/08) uma operação por terra e ar contra a cidade de Jarablus, no norte da Síria, considerada o último reduto do "Estado Islâmico" na fronteira.
A ação, que pela primeira vez envolveu o uso de tanques, marca um novo nível de envolvimento da Turquia no conflito sírio e é uma resposta do governo Recep Tayyip Erdogan ao atentado suicida de sábado passado num casamento curdo, que deixou 54 mortos e foi atribuído ao "Estado Islâmico".
Outro objetivo da operação, como reconheceu o próprio governo turco, é evitar que a população de Jarablus seja liberada do "Estado Islâmico" por milícias curdas, que avançam com apoio dos Estados Unidos e poderiam criar um corredor curdo na fronteira.
A Turquia está atenta aos ganhos territoriais dos curdos na guerra civil da Síria e teme que isso possa inflar o movimento separatista da minoria curda em seu território. Curdos estabeleceram três zonas autônomas no norte da Síria desde que a guerra civil eclodiu, em 2011. Eles negam, porém, que estejam tentando fundar um Estado próprio.
"O Daesh tem que ser totalmente varrido de nossas fronteiras, e estamos prontos para fazer o que for necessário para conseguir isso", afirmou o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, na véspera da operação, usando a sigla em árabe para se referir ao "Estado Islâmico".
Na terça-feira, forças curdas da Síria assumiram o controle quase total da cidade de Hasaka, quando um cessar-fogo pôs fim a uma semana de combates com o governo, consolidando o avanço curdo no nordeste sírio.
A batalha foi a mais violenta entre a milícia curdo-síria Unidades de Proteção Popular (YPG) e as forças leais a Damasco nos mais de cinco anos da guerra civil da Síria, cuja Força Aérea foi usada contra as forças curdas auxiliadas pelos EUA pela primeira vez na semana passada.
"Segue nossa luta contra as organizações terroristas no interior e exterior do país. Continua na Síria e Iraque. Continua contra o PKK [a guerrilha curda da Turquia], o YPG e o EI."
A operação desta quarta, batizada pelos turcos de "Escudo do Eufrates", usou aviões de combate e tropas especiais para expulsar o EI de Jarablos. Ao menos dez tanques turcos entraram em território sírio, disparando contra posições detidas pelo EI.
A ofensiva foi lançada no mesmo dia em que o vice-presidente americano, Joe Biden, chegou a Ancara para encontros com o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, e Erdogan para debater a crise síria.
Biden é o mais alto político ocidental a visitar a Turquia desde a tentativa de golpe de Estado de15 de julho. As autoridades turcas acusaram o religioso Fethullah Gulen, exilado nos Estados Unidos, de ser o responsável pela tentativa de golpe de Estado e têm pressionado Washington a extraditar o teólogo.
Turquia evacua cidade na fronteira com a Síria
Após intensificar bombardeios a alvos da organização extremista "Estado Islâmico" (EI), policiais turcos pediram nesta terça-feira (23/08) que moradores da cidade de Karkamis, próximo à fronteira do país com a Síria, deixem a região, noticiou o canal turco da emissora de televisão americana CNN.
Microônibus foram disponibilizados para pessoas que precisam de transporte para deixar a cidade sitiada. Karkamis faz fronteira com a localidade síria de Jarablos, que está sob poder dos jihadistas.
A cidade turca foi atingida por dois morteiros pela manhã. A Turquia intensificou os ataques contra o EI em resposta a um atentado suicida em casamento na cidade turca de Gaziantep, na fronteira com a Síria, que matou 54 pessoas no último sábado.
A Turquia bombardeia alvos jihadistas em Jarablos para facilitar o ataque de rebeldes sírios contra militantes do EI. Segundo a organização Observatório Sírio dos Direitos Humanos e fontes de milícias de oposição ao regime de Damasco, centenas de rebeldes sírios apoiados por Ancara se preparam do lado turco da fronteira para lançar uma ofensiva terrestre sobre a localidade.
O ministro turco do Exterior, Mevlut Cavusoglu, afirmou que o EI deve ser "completamente eliminado" da região de fronteira. "Estamos prontos para fazer todo o necessário para tal", afirmou.
Turquia mira EI na Síria, mas tem curdos como alvo
Pela primeira vez desde o início da guerra civil na Síria, as forças turcas, apoiadas pelos Estados Unidos, cruzaram por terra a fronteira do país vizinho para, abertamente, intervir no conflito.
Nas primeiras horas desta quarta-feira (24/08), a Turquia começou a realizar bombardeios – com apoio de tanques e obuses – em Jarablus, cidade síria na fronteira tida como último bastião do "Estado Islâmico" na região, às margens do rio Eufrates.
Os jatos F-16 se encarregaram dos bombardeios contra as posições do EI, enquanto tropas especiais fizeram o trabalho por terra. Os tanques Leopard, de fabricação alemã, completaram a ofensiva, com ajuda de combatentes sírios apoiados por Ancara. Os EUA confirmaram que estão fornecendo cobertura aérea aos turcos.
A ação marca um novo nível de envolvimento da Turquia no conflito sírio e é oficialmente uma resposta do governo Recep Tayyip Erdogan ao atentado suicida de sábado passado num casamento curdo, que deixou 54 mortos e foi atribuído ao "Estado Islâmico", e a outros ataques extremistas.
O principal objetivo da operação, no entanto, é evitar que a população de Jarablus seja liberada do "Estado Islâmico" por milícias curdas, que avançam e poderiam criar um corredor curdo na fronteira.
Durante a operação, o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, alertou a milícia curdo-síria Unidades de Proteção Popular (YPG) a ficar longe de Jarablus: "Se o YPG não retroceder para o leste do Eufrates, a Turquia vai fazer o que for necessário", afirmou o chanceler.
A Turquia está atenta aos ganhos territoriais dos curdos na guerra civil da Síria e teme que isso possa inflar o movimento separatista da minoria curda em seu território. Curdos estabeleceram três zonas autônomas no norte da Síria desde que a guerra civil eclodiu, em 2011. Eles negam, porém, que estejam tentando fundar um Estado próprio.
A operação desta quarta-feira marca uma mudança em como o governo Erdogan vê a guerra civil. A posição inicial, com Ahmet Davutoglu como primeiro-ministro (augusto de 2014 até maio de 2016), era de pressionar por uma mudança de regime na Síria.
"Mas a Turquia se viu diante da possibilidade de que o PKK [Partido dos Trabalhadores do Curdistão] encontrasse porto seguro no norte da Síria", comenta o analista político Selim Sazak.
Sazak lembra que os turcos passaram a ver, no último ano, um crescente número de ataques do EI e da insurgência curda. Com o pragmático Binali Yildirim como premiê, afirma o especialista, os turcos decidiram agir ao perderem a confiança de que os EUA podem manter as milícias sírio-curdas sob controle.
Operação era questão de tempo
Para o também analista politico Selim Koru, o mais surpreendente da operação de Jarablus é ela ter demorado tanto para acontecer. "A Turquia há tempos pede uma zona segura e diz que não vai permitir que as YPG ocupem áreas ao sul de sua fronteira."
Segundo Koru, já havia sinais de que o governo turco queria intervir na Síria antes, mas encontrou resistência dentro das Forças Armadas. Mas veio a tentativa de golpe – e abriu-se a Erdogan a possibilidade de afastar militares opositores.
"Estrategicamente, teria sido melhor para o governo ter intervindo mais cedo. Mas não havia confiança nas instituições antes para fazê-lo. Agora, provavelmente, essa relação mudou – e ele foi adiante", opina o analista político.
Esta foi a primeira vez que aviões de guerra da Turquia, país considerado fundamental na Otan, atingiram a Síria desde novembro, quando os turcos derrubaram um caça russo perto da fronteira. É também a primeira operação significante de invasão das forças especiais turcas desde uma pequena operação para retomar a tumba de Suleyman Shah, figura otomana reverenciada, em fevereiro de 2015.
A ofensiva foi lançada no mesmo dia em que o vice-presidente americano, Joe Biden, chegou a Ancara para encontros com o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, e Erdogan para debater a crise síria.
Biden é o mais alto político ocidental a visitar a Turquia desde a tentativa de golpe de Estado de15 de julho. As autoridades turcas acusaram o religioso Fethullah Gulen, exilado nos Estados Unidos, de ser o responsável pela tentativa de golpe de Estado e têm pressionado Washington a extraditar o teólogo.